Após denúncia de mortes, MP encontra respiradores sem uso na Santa Casa
Enquanto os enfermeiros passam horas fazendo respiração manual para garantir sobrevida aos pacientes, a Santa Casa de Campo Grande tem respiradores sem uso. A contradição chamou a atenção do MPT (Ministério Público do Trabalho), que foi ontem ao maior hospital público do Estado depois de denúncia do Siems (Sindicato de Enfermagem).
Conforme o sindicato, a situação precária já causou a morte de quatro pessoas. “Há um problema de gestão de muito claro. Os equipamentos necessários estão à disposição”, salienta o procurador Paulo Douglas Almeida de Moraes.
Segundo ele, a direção do hospital não conseguiu dar explicação razoável sobre os seis respiradores adultos e três infantis ociosos.
“Também é curioso que a sala de emergência tenha 12 pontos de saída de ar comprimido, mas suporta apenas seis equipamentos funcionando simultaneamente”, relata o procurador.
A dez metros da sala de emergência, uma outra sala, que já foi UTI, tem 16 pontos de saída de ar. “Estamos buscando resolver esse problema do ambú. O problema na Santa Casa é muito mais complexo. Não estamos simplificando o que é complexo, mas resolvendo a questão mais urgente”, enfatiza.
O MPT convocou a prefeitura e as secretarias municipal e estadual de Saúde para reunião às 14h desta quinta-feira. Conforme o procurador, há dois caminhos possíveis: um acordo para a utilização dos respiradores ociosos ou acionar a justiça. No segundo caso, a medida cautelar segue ainda hoje para o judiciário.
Fôlego - Na teoria, o ambú é ligado ao balão de oxigênio e deve ser usado por poucos minutos para estabilizar os pacientes em estado grave. Neste curto período, o respirador hospitalar é calibrado para fornecer oxigênio.
Já na realidade do hospital, a respiração manual é feita por horas e exige fôlego dos profissionais, são 60 bombeadas de ar por minuto.
“Não é a ventilação adequada. O ambú não oferece 100% de oxigenação ao paciente”, afirma o secretário-geral do Siems, Lázaro Antônio Santana.
Conforme o sindicato, dos 850 profissionais de enfermagem e técnicos, mais de 200 estão afastados. “O Conselho de Enfermagem estabelece dois paciente graves por técnico. Mas na Santa Casa, são mais de dez pacientes graves por profissional”.
A Santa Casa está sob intervenção do poder público desde janeiro de 2005. Na ocasião, o Pronto Socorro fechou as portas. Nos últimos anos, o hospital aparece de forma recorrente no centro de denúncias de caos e sucateamento.