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Capital

Após improvisar “censo” na pandemia, comunidade Tia Eva é 1ªa receber IBGE

Área quilombola foi fundada em 1948 por escrava que conseguiu a carta de alforria

Aline dos Santos e Cleber Gellio | 13/09/2022 10:49
Tatiane (à direita) é recensadora do IBGE e moradora da comunidade Tia Eva. (Foto: Marcos Maluf)
Tatiane (à direita) é recensadora do IBGE e moradora da comunidade Tia Eva. (Foto: Marcos Maluf)

A comunidade quilombola Tia Eva, no Jardim Seminário, em Campo Grande, entrou nesta terça-feira (dia 13) no roteiro quilombola do censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em 2020, com a chegada da pandemia, a comunidade fez um levantamento informal, que apontou 750 moradores. Agora, a coleta de dados é oficial, sendo a primeira vez que o instituto faz levantamento específico para quilombolas, com objetivo de estabelecer políticas públicas.

Da Associação da Comunidade Tia Eva, Ronaldo Jefferson da Silva, 41 anos, conta que o levantamento informal foi realizado por meio do WhatsApp. Na ocasião, os dados subsidiaram a distribuição de cestas básicas. Ele também faz buscar por descendentes de tia Eva que moram em outros bairros. “Tem famílias no Jardim Paulista, Pioneiros, Nasser, Vila Marli”.

A comunidade foi fundada em 1948 por Eva Maria, uma escrava que conseguiu a carta de alforria e veio para Campo Grande num carro de boi.

A recenseadora Tatiane Penha, 39 anos, mora na comunidade quilombola. “Trabalhar num local onde todo mundo te conhece é muito bacana. A recepção é diferente, porque a gente está em casa mesmo”, diz.

A moradora conta que a comunidade quilombola ainda suscita dúvidas, no mínimo inusitada. “Me perguntam se branco pode entrar na comunidade. Há muitos anos, tinha essa resistência de  não ter a presença de não quilombolas. Temos pessoas de descendência alemã que moram na comunidade, estamos todos juntos”, afirma Tatiane.

Ronaldo conta que comunidade fez levantamento informal para distribuição de cestas básicas na pandemia. (Foto: Marcos Maluf)
Ronaldo conta que comunidade fez levantamento informal para distribuição de cestas básicas na pandemia. (Foto: Marcos Maluf)

 Segundo a coordenadora do Censo , Sylvia Martinez Assad de Oliveira, em 2010, data do último levantamento, as comunidades quilombolas e indígenas não eram caracterizadas como setor censitário.  Em Campo Grande, são três comunidades quilombolas: Tia Eva, São Joao Batista (região do Anhanduizinho) e Chácara Buriti (saída para São Paulo).

De acordo com a subsecretária de Políticas Públicas para Promoção de Igualdade Racial, Ana José Alves, Mato Grosso do Sul tem 22 comunidades certificadas pela Fundação Cultural Palmares. Nioaque é o município com mais comunidades: quatro. No último Censo Demográfico, a população negra era de 49% no Estado. Agora, conforme Ana, a estimativa é que ultrapasse 60%.

Conforme a Agência Brasil, os dados nos territórios quilombolas serão coletados a partir da pergunta: sua cor ou raça é branca, preta, amarela, parda, indígena? Independentemente da resposta, pré-registrada, aparecerá a próxima pergunta: você se considera quilombola? Se a resposta for sim, o questionário vai querer saber: qual o nome da sua comunidade? Já existe uma lista de comunidades pré-registradas no aplicativo usado pelo recenseador, mas é possível acrescentar nomes que não estejam citados.

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