Após improvisar “censo” na pandemia, comunidade Tia Eva é 1ªa receber IBGE
Área quilombola foi fundada em 1948 por escrava que conseguiu a carta de alforria
A comunidade quilombola Tia Eva, no Jardim Seminário, em Campo Grande, entrou nesta terça-feira (dia 13) no roteiro quilombola do censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em 2020, com a chegada da pandemia, a comunidade fez um levantamento informal, que apontou 750 moradores. Agora, a coleta de dados é oficial, sendo a primeira vez que o instituto faz levantamento específico para quilombolas, com objetivo de estabelecer políticas públicas.
Da Associação da Comunidade Tia Eva, Ronaldo Jefferson da Silva, 41 anos, conta que o levantamento informal foi realizado por meio do WhatsApp. Na ocasião, os dados subsidiaram a distribuição de cestas básicas. Ele também faz buscar por descendentes de tia Eva que moram em outros bairros. “Tem famílias no Jardim Paulista, Pioneiros, Nasser, Vila Marli”.
A comunidade foi fundada em 1948 por Eva Maria, uma escrava que conseguiu a carta de alforria e veio para Campo Grande num carro de boi.
A recenseadora Tatiane Penha, 39 anos, mora na comunidade quilombola. “Trabalhar num local onde todo mundo te conhece é muito bacana. A recepção é diferente, porque a gente está em casa mesmo”, diz.
A moradora conta que a comunidade quilombola ainda suscita dúvidas, no mínimo inusitada. “Me perguntam se branco pode entrar na comunidade. Há muitos anos, tinha essa resistência de não ter a presença de não quilombolas. Temos pessoas de descendência alemã que moram na comunidade, estamos todos juntos”, afirma Tatiane.
Segundo a coordenadora do Censo , Sylvia Martinez Assad de Oliveira, em 2010, data do último levantamento, as comunidades quilombolas e indígenas não eram caracterizadas como setor censitário. Em Campo Grande, são três comunidades quilombolas: Tia Eva, São Joao Batista (região do Anhanduizinho) e Chácara Buriti (saída para São Paulo).
De acordo com a subsecretária de Políticas Públicas para Promoção de Igualdade Racial, Ana José Alves, Mato Grosso do Sul tem 22 comunidades certificadas pela Fundação Cultural Palmares. Nioaque é o município com mais comunidades: quatro. No último Censo Demográfico, a população negra era de 49% no Estado. Agora, conforme Ana, a estimativa é que ultrapasse 60%.
Conforme a Agência Brasil, os dados nos territórios quilombolas serão coletados a partir da pergunta: sua cor ou raça é branca, preta, amarela, parda, indígena? Independentemente da resposta, pré-registrada, aparecerá a próxima pergunta: você se considera quilombola? Se a resposta for sim, o questionário vai querer saber: qual o nome da sua comunidade? Já existe uma lista de comunidades pré-registradas no aplicativo usado pelo recenseador, mas é possível acrescentar nomes que não estejam citados.