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Capital

Apreensões de cabelos humanos em MS já passam de meia tonelada neste ano

Empresas de cidades da fronteira, como Ponta Porã e Corumbá, emitem notas para "esquentar" a mercadoria

Ana Beatriz Rodrigues | 15/08/2023 17:25
Cabelos apreendidos pela Receita Federal (Foto: Divulgação)
Cabelos apreendidos pela Receita Federal (Foto: Divulgação)

Nos últimos meses, apreensões de cabelo humano em Mato Grosso do Sul chamaram atenção, três delas feitas em junho, julho e agosto, somam cerca de meia tonelada. Fomos em busca de respostas para saber detalhes deste tipo de importação que, se feita ilegalmente, gera a perda da mercadoria considerada valiosa.

Em janeiro deste ano, 93 quilos de cabelo humano foram apreendidos na BR-262, próximo a Corumbá, com um motorista de aplicativo. Ele tinha como destino Goiânia (GO).

Em junho, foram mais 428 quilos de cabelo humano apreendidos em Nova Alvorada do Sul, a carga foi avaliada em pelo menos R$ 1 milhão.

Já no mês de julho dois policiais, um civil e um militar, e um terceiro suspeito, que era monitorado por tornozeleira eletrônica, foram presos em Corumbá, por participarem de um assalto contra duas pessoas que estavam em veículo de aplicativo. Durante o assalto, foram levadas duas malas com cabelo humano avaliado em R$ 150 mil.

Neste mês uma nova carga foi retirada de circulação na BR-163, em Rio Brilhante. A cabeleira foi avaliada em R$ 374 mil.

Segundo o delegado substituto da Receita Federal de Mato Grosso do Sul, Zumilson Custódio da Silva, a apreensão de cabelo humano havia diminuído e agora voltou a ser mais frequente “talvez pela facilidade" de sermos vizinhos de países como Paraguai e Bolívia.

“A primeira questão que eu vou esclarecer é que todo e qualquer produto que circule dentro do Brasil de forma comercial ‘compra e venda’ tem que ter comprovação de origem. Ou ele é fabricado no Brasil, origem nacional, ou ele é importado regularmente”, pontua o delegado da Receita.

Ainda de acordo com Zumilson, o cabelo é um produto que tem um valor agregado muito grande e empresas estão se estabelecendo na fronteira, principalmente em Ponta Porã e Corumbá, para fazer falsas remessas de cabelo, como se tivessem comprado na região.

"Emitem uma nota fiscal para mandar para São Paulo, Goiânia, grandes centros, mas na realidade esses cabelos têm a origem na Índia, no Paraguai, regiões onde as mulheres têm cabelo longo, cabelo virgem e sem muito produto químico, com alto valor de comercialização”, explica o delegado da Receita.

Zumilson Custódio ainda reforça que essas empresas têm apenas a finalidade de adquirir os cabelos vindos de forma ilícita e tentam emitir uma nota fiscal para acobertar o transporte até o destino, ação esta chamada pela polícia de empresas noteiras. São usadas apenas para produzir "papel de nota fiscal fria".

Ele também explica que as apreensões estão ocorrendo de duas formas, a primeira das pessoas que realmente tentam entrar com o cabelo de forma clandestina. Vão até o país vizinho, compram o produto e tentam atravessar para o Brasil de forma clandestina. E a segunda de pessoas que dizem ter comprado esses cabelos das empresas que emitiram nota, mas que, na verdade, são notas sem procedência.

A reportagem esteve em um salão de beleza em Campo Grande que oferece serviços como alongamento de fios e toma uma série de cuidados para evitar problemas com cabelos importados. Anne Souza é a dona do local, trabalha há 13 anos na área e conta que os cabelos mais procurados pelas clientes são os que vêm do Uruguai, da Bolívia, do Peru e do Paraguai.

Anne Souza, especialista em mega hair (Foto: Marcos Maluf)
Anne Souza, especialista em mega hair (Foto: Marcos Maluf)

“O nosso cabelo latino é o um dos mais procurados no mundo, são os cabelos mais valiosos que tem nesse ramo. Existem distribuidoras confiáveis que vendem os cabelos com a nota fiscal, como esses cabelos chegam até as distribuidoras, como eles legalizam isso eu não sei, não faço parte, mas compro deles já com as notas fiscais”, explicou Anne. Ela ainda conta que algumas mulheres a procuram para vender as mechas dos cabelos de forma espontânea.

Cabelos usados no salão de Anne e separados por mechas (Foto: Marcos Maluf)
Cabelos usados no salão de Anne e separados por mechas (Foto: Marcos Maluf)

A especialista ainda desabafa: “Para tudo hoje a gente paga imposto, para tudo mesmo, mas para o cabelo não existe nenhuma legislação em si, tanto que ficou um mercado ‘desprofissionalizado’ porque alguns profissionais colocam o cabelo bem abaixo do valor de mercado. A gente sabe quanto custa o preço do mercado e o barato é duvidoso”, finaliza a profissional.

Anne explicou que o cabelo é comprado por quilo e comercializado por gramas para as clientes. Cor e tamanho influenciam muito, quanto maior e mais loiro, mais caro ele vai ser. "O loiro tingindo é caro, por todo o processo que o cabelo teve que passar para ficar naquela cor, mas o loiro das mulheres do sul são os mais caros do mercado, estão avaliados em 25 mil o kg", detalha a empresária.

Uma faixa de mega hair produzido por Anne com cabelo humano (Foto: Marcos Maluf)
Uma faixa de mega hair produzido por Anne com cabelo humano (Foto: Marcos Maluf)

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