Às 11 horas a dor aumenta sem a voz da mãe que telefonava todo dia para a filha
Vilma Cardoso Meza, de 60 anos, morreu depois de dias internada com covid em uma UPA da Capital
“Se Deus me permitir, quero ser pro meu filho pelo menos 10% da mãe que ela foi pra gente”. O lamento que corta o coração é da promotora de vendas Jane Carla Cardoso, 30 anos, que perdeu a mãe, Vilma Cardoso Meza, de 60 anos, no dia 31 de março para a covid-19.
Para a filha, a mãe não teve a chance de ter um cuidado adequado antes de morrer, já que ficou “internada” na UPA Vila Almeida de sexta-feira, dia 26 até a noite do dia 30, horas antes de falecer. “Não sei, mas acredito que ela não recebeu o tratamento que precisava”, diz.
Jane e a irmã Patrícia compartilham a saudade, principalmente das ligações certeiras. Chorando, Jane conta que às 11 horas é quando a dor aumenta mais, porque era o horário em que Vilma telefonava perguntando se ela iria ter tempo de ir almoçar. “Minha irmã fala o tempo todo da saudade da ligação da nossa mãe, como faz falta!”.
Vilma passou duas semanas sem um diagnóstico preciso da doença, entre idas e vindas ao posto de saúde, onde disseram apenas que ela estava com uma infecção. Mesmo tomando remédios em casa, a situação piorou até que na sexta-feira, 26, às pressas, elas buscaram um teste pago para saber se o que a mãe tinha era covid.
O resultado foi positivo e então, correram com Vilma para a UPA Vila Almeida, de onde não saiu mais. “Lá já deram oxigênio, ela ficou no balão, até que no sábado de manhã a intubaram, sem nem avisar minha irmã que estava lá o tempo todo”, lamentou.
Desde então, a tentativa sem fim era de que alguma vaga em leito de UTI em hospital surgisse, o que ocorreu apenas na terça-feira, 30, à noite, por volta das 21 horas.
O estado de saúde de Vilma era tão ruim que o próprio médico do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), segundo Jane, disse a ela que o caminho até o Hospital Universitário era longo e que Vilma poderia não aguentar chegar lá.
“A última conversa com minha mãe foi no sábado de madrugada, ela falou que estava com fome. Mas não podia tirar o oxigênio dela”, lembra, contando ainda que na terça, antes de ser levada para o HU, chegou a tocar no pé de sua mãe enquanto era colocada na ambulância e “estava gelado, muito gelado”.
A expectativa era de que com atendimento hospitalar o quadro revertesse, mas horas depois da internação, veio a notícia do falecimento, por volta das 1h30 da madrugada.
“Quero ser o mínimo da mãe cuidadosa que ela era. Eu tenho crise de ansiedade e fui comprar alho esses dias. Vi que não sabia escolher, porque era ela que sempre fazia tudo”, ressaltou Jane.
Para ela, por alguma ação divina, ela passou o último mês morando com ela, depois de voltar de oito meses na cidade de Sidrolândia. “Lembro até hoje, eu chegando na casa dela às 2h da manhã e ela só disse assim: graças a Deus você voltou”.