Às vésperas do julgamento, mãe diz que quer olhar na cara de assassino de Carla
"Quero olhar na cara dele. Eu falei isso desde o primeiro dia que pegaram ele, mas o delegado não quis deixar. Eu queria estar na frente dele e o delegado me disse: 'não faz isso não, mãe. É muito doloroso'".
Agora, 1 ano e quase 1 mês depois de ser pego, Marcos André Vilalba Carvalho, que confessou ter raptado, estuprado e matado a vizinha Carla, vai ser encarado pela mãe da vítima, Evanir Santana Magalhães.
A dois dias do julgamento, dona Evanir abriu a casa para a imprensa e falou sobre a esperança que tem de que a justiça seja feita.
"É o que eu estou esperando, que ele fique preso muitos anos, que ele seja condenado por bastante tempo", desabafa.
Entre lágrimas, dona Evanir, que ainda não ouviu da boca do juiz a sentença, já se sente atormentada pelo tempo, porque sabe que um dia, o assassino da filha vai sair de trás das grades.
"Ele vai ser julgado, disso eu tenho certeza, mas ele não vai ficar a vida inteira nessa cadeia. Um dia, ele vai ser solto. E este é o meu medo, quando ele sair de lá", diz.
Todos os dias, desde o dia 3 de julho, quando o corpo de Carla foi encontrado na esquina da rua de casa, no Bairro Tiradentes, em Campo Grande, a mãe pensa no crime.
"Ela era uma menina que não devia, não tinha inimigo nenhum. Até hoje, eu fico pensando por que ele fez isso? Só por que ela é mulher? Será que se a gente, por ser mulher, deve ser morta do jeito que ele fez com ela?", questiona Evanir.
Sem resposta, a pergunta fica no ar.
O crime - Carla desapareceu depois de gritar por socorro, na frente de casa, às 19h50 do dia 30 de junho de 2020. Ela havia saído para ir ao mercado e quando entrava em casa, foi raptada pelo vizinho.
"Ela ainda me gritou: 'mãe, mãe, tem alguém me roubando, me pegando'. Ela falou desse jeito e isso nunca mais saiu da caminha cabeça", recorda.
Carla era a caçula de quatro filhos e a única que morava na mesma casa da mãe. Na residência, tudo está do jeito que a jovem deixou.
"Eu convivo há 1 ano com essa dor. Nunca pensei de perder meus filhos assim. Sei que todo mundo um dia vai, mas perder ela desse jeito..."
Desde então, dona Evanir conta que mal sai de casa. Até porque, toda e qualquer saída era sempre na companhia de Carla. "Festa agora já não tem mais graça", explica.
O assassino confesso dizia à polícia que o crime tinha apenas uma motivação: o fato de Carla não tê-lo cumprimentado durante encontro na rua de casa. Evanir fala que ela e a filha não eram de cumprimentar, nem conversar mesmo com quem não conheciam.
À época do crime, a mãe diz que falou em todas as entrevistas que deu, que Carla não teria sido levada de carro, porque ela não ouviu nenhum barulho de veículo. "Quem estava com ela estava a pé, mas nunca passou pela cabeça que ela poderia estar aqui do lado", desabafa.
Nas horas seguintes ao desaparecimento, a mãe se lembra que Marcos saiu e perguntou o que estava acontecendo, chegando a dizer que não poderia ajudar a procurar por Carla, porque ele não tinha carro, apenas bicicleta. "E ele já estava com ela. Ele viveu a vida dele normal, o patrão dele falou que ele fez janta, arrumou marmita, foi trabalhar no outro dia, tudo numa boa com ela dentro de casa", relata.
Quando o corpo de Carla foi encontrado, pelo cunhado, na esquina de casa. A família escondeu a cena para que Evanir não visse a filha assim. "Eu só fui saber quando já tinham tirado ela dali, eu não vi nada. Meus filhos falavam que queriam me poupar, mas eu não queria ser poupada. Eu queria ter visto ela, dar meu último abraço. O último abraço que eu não dei", descreve.
O júri - O julgamento de Marcos André Vilalba Carvalho acontecerá às 8h desta sexta-feira (13), no plenário do Tribunal do Júri, em Campo Grande e poderá ter público.
"O meu pedido para o juiz é, do fundo do meu coração, que tudo o que eu mais espero é que ele nunca saia dessa cadeia. Que ele mofe lá dentro", finaliza a mãe.