Até treino na academia de Nadal foi pago com desvios da Apae, apurou MP
Ex-coordenador gastou 3 vezes mais do que ganhou e pagou até curso em academia na Espanha
De 2021 a 2023, Paulo Henrique Muleta Andrade recebeu R$ 745,503 mil em remuneração como coordenador da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e pelo vínculo com o HU (Hospital Universitário). No mesmo período, comprou dois terrenos, um carro, construiu piscina, contratou projeto de paisagismo e mandou a filha para a escola de tênis de Rafael Nadal, na Espanha, um gasto de R$ 2,889 milhões, quase quatro vezes o que recebeu nos três anos.
RESUMO
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Paulo Henrique Muleta Andrade, ex-coordenador da Apae, foi preso por desvio de verbas da instituição, totalizando R$ 8,16 milhões. Ele usou o dinheiro para gastos pessoais, incluindo a compra de imóveis, carros e a inscrição da filha na academia de tênis de Rafael Nadal na Espanha. Seus ganhos lícitos entre 2021 e 2023 foram de R$ 745 mil, mas seus gastos ultrapassaram R$ 2,88 milhões. A investigação revelou empresas de fachada usadas para movimentar o dinheiro desviado, que deveria ser destinado a pacientes ostomizados. A prisão ocorreu após indícios de tentativa de fuga para a Itália.
A planilha dos ganhos e gastos milionários de Paulo Muleta faz parte do inquérito que apurou esquema de desvio de verbas da Apae, crime que se reverteu em enriquecimento ilícito e incompatível com a remuneração dele. As ilegalidades resultaram na Operação Occulto, desencadeada na segunda-feira (10) e que culminaram na prisão do ex-coordenador da instituição.
A advogada Rejane Alves de Arruda, que representa Muleta, disse que já ingressou com habeas corpus e que o cliente prefere não comentar as acusações da operação.
“Está na conta” – A ação do último dia 10 é desdobramento da Operação Turn Off, desencadeada em novembro de 2023 e já tinha Muleta com investigado por corrupção e lavagem de dinheiro. Nesta apuração mais recente, o juiz da 2ª Vara Criminal, Robson Celeste Candeloro deferiu o pedido de prisão preventiva contra ele.
Nesta investigação, o Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção), que desencadeou a operação tocada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), fez varredura em três anos das contas de Paulo Henrique Muleta.
Segundo dados da denúncia, durante todo o ano de 2023, por exemplo, obteve renda lícita R$ 182.488,88 mil da Apae. Como ficou no cargo até novembro, a média salarial bruta era de R$ 16,589 mil e, com desconto do Imposto de Renda, caía para R$ 13,180 mil. Somando com o salário da Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), o valor líquido de remuneração, com os devidos descontos, foi de R$ 293.174,68, média de R$ 24,431 mil mensais.
A soma dos ganhos, de 2021 a 2023, alcançou o valor líquido de R$ 745.503,48, média de R$ 62,125 mil por mês. Mas, nos anos apurados, os gastos foram muito acima, o que somente seria possível, segundo a denúncia, por conta do esquema de verbas da Apae, dinheiro que deveria ter sido usado na compra de materiais para pacientes ostomizados.
Entre os gastos vultosos listados, consta os que foram feitos a uma engenheira civil e corretor de imóveis, responsável pela prestação de serviços a Paulo Muleta. De acordo com o Gaeco, no período de dois anos, entre outubro de 2021 a outubro de 2023, ele transferiu R$ 624,589 mil a ela.
Um dos serviços encomendados foi a construção de piscina de alvenaria na casa do então coordenador da Apae, sendo pago R$ 109 mil em novembro de 2022, além de outros R$ 10 mil em janeiro de 2023. Em pagamentos por projetos de paisagismo, entre setembro de 2022 e fevereiro de 2024 foram realizadas transferências de R$ 64,195 mil.
No relatório do Gaeco ainda consta que, durante o período dos desvios de dinheiro, Paulo Muleta comprou dois imóveis, à vista. Um deles foi adquirido em março de 2022, no valor de R$ 380 mil e, outro, em novembro daquele ano, de R$ 320 mil. Neste caso, foram R$ 240 mil pagos na escrituração e outros R$ 80 mil por meio de depósito judicial, vinculados a processo.
No dia 24 de abril de 2023, as equipes do Gaeco e Gecoc rastrearam outro desembolso considerado incompatível com a renda. Paulo Muleta comprou Toyota Corolla, no valor de R$ R$ 182.239,28. Na negociação, ele usou como parte de pagamento veículo usado, avaliado em R$ 46 mil, mas pagou, à vista, R$ 143 mil. Um ano antes, consta outra transferência para a mesma concessionária, de R$ 100 mil, para compra de carro em nome da esposa de Muleta.
A investigação apontou, ainda, a compra de moeda estrangeira em empresas de câmbio. De janeiro de 2022 a outubro de 2023, durante o período dos desvios identificados na Apae, Paulo Henrique Muleta adquiriu R$ 348,561 mil em dinheiro estrangeiro, não especificados de qual país.
Maiorca – Os gastos milionários também incluem pagamentos a empresas de turismo, conforme investigação do Gaeco. De março de 2022 a março de 2023 foram realizadas transferências de R$ 159,377 mil a uma agência.
De setembro a novembro de 2023, outra empresa de turismo recebeu R$ 59,816 mil. No mesmo período, consta a inscrição da filha de Paulo Henrique Muleta no programa de treinamento na “Rafa Nadal Tennis Academy”, em Maiorca, na Espanha, intermediada por outra agência, que recebeu R$ 199,809 mil, entre setembro a outubro de 2023.
A academia do tenista Rafael Nadal se destina a jovens promissores e atletas profissionais que queiram desenvolver ou melhorar habilidades. No site, constam instalações luxuosas, pistas de ultima geração, além de spa, salão de beleza, atendimento médico, restaurantes e museu sobre Nadal.
A investigação mencionou que identificou email enviado por Muleta, no dia 27 de outubro de 2023 para a representante da Rafa Nadal Academy, no qual tratava da questão migratória na Espanha.
Nesse e-mail, Paulo Muleta afirmou que sua renda anual declarada seria superior a 500.000,00 euros na taxa de câmbio da época, o que corresponderia a mais de R$ 2.645.000,00 (dois milhões, seiscentos e quarenta e cinco mil reais)”.
No total, Muleta desembolsou R$ 2.889.951,67 com os imóveis e demais gastos considerados incompatíveis com a renda
CNPJ – A investigação do Gaeco identificou quatro empresas de fachada, abertas em nome de Paulo Henrique Muleta e o contador João Antônio Freitas da Silva, criadas para movimentar o dinheiro desviado da Apae.
Neste esquema, em atividade de 2021 a 2023, o desvio de recursos públicos, provenientes de convênios, chegou a R$ R$ 8.163.500,25.
O dinheiro deveria ser usado para compra de insumos a pacientes ostomizados, (pacientes que passam por intervenção cirúrgica para abertura ou caminho alternativo para saída de fezes ou urina, além de auxiliar na respiração ou alimentação), mas, conforme investigação, foram parar na conta pessoal de Muleta.
Logo após a Operação Turn Off, Paulo Henrique Muleta, perdeu o cargo na Apae, em 2023. Nesta nova fase, a Justiça determinou a prisão dele, por haver indícios de que ele queria fugir do País, para Itália. O Gaeco também chegou a pedir prisão de José Antônio, mas o pedido foi indeferido.
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