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Capital

Câmera provou que sequestro nunca ocorreu e vítima perdeu R$ 50 mil em golpe

Por vergonha de admitir que perdeu dinheiro para golpistas, idosa contou história “fantasiosa” à polícia

Anahi Zurutuza e Ana Beatriz Rodrigues | 28/06/2023 17:40
Câmera provou que sequestro nunca ocorreu e vítima perdeu R$ 50 mil em golpe
Delegado Fábio Peró durante coletiva de imprensa no fim desta tarde. (Foto: Juliano Almeida)

Mais sorte que ganhar na loteria. É o que tiveram criminosos que “trombaram” com mulher de 65 anos na região central de Campo Grande, no fim da manhã desta terça-feira (27), para aplicar o velho “golpe do bilhete premiado”.

A vítima, que estava nas proximidades da Paróquia Perpétuo Socorro, na Avenida Afonso Pena, tinha mais de R$ 50 mil em conta bancária. Para a dupla, uma mulher e um homem, que “corriam o risco” de terminar a empreitada de mãos vazias, o ditado popular se concretizou e a ocasião fez o ladrão.

A verdade, contudo, é que não houve sequestro, ameaça com arma, valor alto descoberto por bandido em extrato bancário esquecido em bolsa e nem R$ 17 milhões ganhados em loteria.

Câmera provou que sequestro nunca ocorreu e vítima perdeu R$ 50 mil em golpe
Filho chegando com mãe, muito chorosa, ao Garras, no fim da tarde de ontem. (Foto: Direto das Ruas)

E como foi? – Depois que chamar a Polícia Militar pelo 190, na tarde desta terça-feira (27), dizendo ter sido sequestrada e ameaçada de morte para transferir R$ 50 mil a bandido, a idosa repetiu a história em depoimento no Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros).

Equipes da PM, Batalhão de Choque e da Polícia Civil saíram às ruas atrás de criminoso. Eram duas possibilidades: de o criminoso estar ainda com a “amiga” da vítima sob a mira de revólver ou de a mulher, supostamente conhecida da idosa, estar envolvida na trama.

Os investigadores do Garras, contudo, desconfiaram da história. Uma das equipes foi atrás de imagens de câmeras de segurança e conseguiu o flagrante do momento que a vítima entra no carro dos golpistas e, também, da hora que sai e só então, percebe ter sido enganada.

O delegado Fábio Peró, titular do Garras, relatou em coletiva de imprensa que a vítima estava envergonhada de admitir, para a família e para a polícia, que havia caído no golpe do bilhete premiado – até porque, geralmente, os bandidos “bons de lábia” prometem quantia em dinheiro para a vítima. “É constrangedor, mas a verdade é sempre melhor”.

Foi só nesta manhã que a vítima voltou ao Garras para revelar detalhes reais do ocorrido. Ela foi abordada por uma mulher que se apresentou como amiga de longa data. “Oii... Lembra de mim?”, teria dito a golpista.

A idosa confundiu a mulher com uma conhecida, de Bandeirantes – cidade a 70 km de Campo Grande –, e deu a “deixa”. A partir daí, a estelionatária disse que havia ganhado R$ 17 milhões na loteria, mostrou o bilhete supostamente premiado e afirmou que precisava de ajuda para fazer o saque. Alegou precisar de quantia em dinheiro para concretizar o resgate e prometeu recompensa – o dobro do que a vítima "emprestasse".

A idosa revelou então a quantia em dinheiro que tinha em conta, todos foram a uma agência da Caixa Econômica Federal e "fecharam o negócio".

Peró afirma que os bandidos não foram localizados ainda e revelou a dificuldade de recuperar o dinheiro da vítima. “Se ela tivesse contado tudo antes, a gente poderia até tentar rastrear”.

Ainda segundo o delegado, a abordagem foi por volta das 10h30 e a vítima só foi liberada às 14h30. Esse tempo todo é necessário neste tipo de golpe, explica Peró, para que a quadrilha pulverize o dinheiro.

A transferência foi feita pela vítima a conta da Caixa em nome de Andresa Strapazzoli Lucas, conforme boletim de ocorrência. Acontece que rapidamente o montante é dividido e transferido para várias outras contas. Os bandidos fazem então pequenos saques.

Vale ressaltar que uma aposta de Campo Grande chegou a faturar R$ 17,6 milhões no concurso 2.565 da Mega-Sena no mês de fevereiro. Sem informar detalhes, a Caixa pontuou que a data limite para a retirada do prêmio expirou em 15 de maio e que o valor foi creditado para verdadeiro apostador campo-grandense.

“Quem ganha dinheiro na loteria nunca precisa pagar nada [para resgatar o prêmio]”, alertou o delegado.

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