Casa, bar, mercado: rota do “recolhe” mostra jogo do bicho em qualquer esquina
Apesar das diversas operações, a modalidade segue viva e tem briga por monopólio
A rota da coleta do jogo do bicho, em que apenas um motociclista detalha passar por 30 pontos para o “recolhe” das apostas na região do bairro Nova Lima, saída para Cuiabá, mostra que apesar de tantas operações contra a jogatina, a modalidade segue viva em qualquer esquina de Campo Grande.
Em depoimento à Derf (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Roubos e Furtos), em 10 de novembro, o homem, que foi denunciar falso roubo de malote, contou que recolhia valores das apostas em residências, bares, mercadinhos, borracharia e conveniências.
A reportagem percorreu parte do roteiro citado e os comércios de fato existem nos endereços mencionados. Em dois deles, os proprietários deram uma mesma versão: deixaram o jogo há anos por não dar lucro. Num bar, o dono de 57 anos disse que até recebia as apostas, mas cinco anos atrás.
“Vi que não dava lucro nenhum e disse: toma aqui o que é de vocês. Fiquei uma semana só com o jogo do bicho e entreguei”, diz o comerciante.
Já o proprietário de conveniência mencionada no roteiro da coleta também afirmou que as apostas eram feitas cinco anos atrás. Ele relatou que ficou três meses na atividade, mas desistiu por não dar lucro.
Moderno - O jogo do bicho persiste e se moderniza mesmo com as diversas tentativas de sufocar essa modalidade, apontada como fonte de financiamento para crimes. Em setembro de 2020, a 4ª fase da Operação Omertà, batizada de “Black Cat” lacrou as bancas de apostas alaranjadas, já rotineiras no cenário urbano.
Além de dar fim aos balcões físicos de apostas, o objetivo era provar conexão, notadamente patrimonial, entre a exploração do jogo de azar e a milícia armada alvo das primeiras fases da Omertà. A operação foi contra Jamil Name (já falecido) e Jamil Name Filho.
Saíram as barraquinhas, mas apostas não pararam. Tanto que em dezembro daquele ano, a “Arca de Noé”, também da operação Omertà, revelou que o jogo do bicho movimentava R$ 18,2 milhões por ano em Campo Grande e nas cidades vizinhas, com lucro diário de R$ 50 mil. Tamanha estrutura exigiria até a renovação da frota das 47 motocicletas do recolhe, setor que busca o dinheiro das apostas.
No ano seguinte, em 2021, o jogo já estava com nome diferente: MTS. Camuflado em bancas de revista, o esquema passou a ser comandado por grupo do Rio de Janeiro. Em 2021, os bilhetes custavam R$ 10, com promessa de ganhos de até R$ 40 mil.
O formato também foi modernizado, com adaptação para apostas em máquinas similares as de cartões de crédito. Desde 5 de dezembro, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) já deflagrou três fases da Operação Successione, mais uma vez na tentativa de sufocar o jogo do bicho.
A investigação aponta que o deputado estadual Roberto Razuk Filho, o Neno Razuk (PL), é o chefe da quadrilha, com base em Dourados, que tentava assumir o comando das apostas ilegais Campo Grande. O monopólio já estava com grupo paulista.
Os motociclistas do "recolhe" tinham salário mensal de R$ 4 mil. O trabalho consistia em, diariamente, retirar envelopes contendo os numerários arrecadados com o jogo do bicho em cerca de 30 pontos, com regras de segurança para ninguém saber o destino final do dinheiro.
Já o grupo de Neno oferecia o mesmo salário, mais 5% de comissão no valor dos malotes mensais. A estimativa era que o motociclista terminasse o mês com cerca de R$ 15 mil. O deputado declarou ser inocente das denúncias do Gaeco.
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