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Capital

Chegada de aplicativo de transporte trouxe à tona venda de CNHs falsas

Documento fake foi vendido até para caminhoneiro e esquema lucrava pelo menos R$ 1,4 mil por falsificação

Anahi Zurutuza | 12/05/2021 13:40
CNH falsa apreendida pela Dedfaz em 2017 durante investigação (Foto: Reprodução dos autos de processo)
CNH falsa apreendida pela Dedfaz em 2017 durante investigação (Foto: Reprodução dos autos de processo)

Um dos esquemas de falsificação de CNHs (Carteiras Nacionais de Habilitação) operantes em Mato Grosso do Sul foi revelado com a chegada do primeiro aplicativo de transporte de passageiros a Campo Grande.

O fio da meada começou a ser puxado quando servente de pedreiro apareceu no Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul) com documento falso, em março de 2017, seis meses após o início das operações da plataforma que conecta motoristas e passageiro na Capital. O rapaz, à época com 27 anos, queria incluir na CNH anotação para começar a exercer atividade remunerada.

Um atendente do Detran, em consulta ao sistema, percebeu que a numeração da CNH pertencia a uma pessoa e o Renach (Registro Nacional de Condutores Habilitados) a outra. A polícia foi chamada e o servente preso por falsidade ideológica.

Em depoimento, ele confessou se tratar de documento falso e informou que o comprou por R$ 1,8 mil. Ele entregou o vendedor, que havia garantido ao rapaz se tratar de documento legítimo, emitido pelo Detran, mesmo sem o motorista passar pelos exames obrigatórios. Naquee ano, ele pagou fiança de um salário mínimo, R$ 937, e passou a responder em liberdade.

O comprador da CNH fake não estava totalmente enganado. Conforme laudo elaborado no Instituto de Criminalística, a cédula era autêntica, mas adulterada “para a substituição dos dados e fotografia aparentes”.

A Dedfaz (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Defraudações, Falsificações, Falimentar e Fazendários) continuou as investigações e chegou ao vendedor, um caminhoneiro que também usava documento falso. O homem disse que soube da existência do esquema por uma prima, depois que atropelou adolescente no trânsito e teve a CNH suspensa.

Fabiano Rios Ferreira em imagem anexada a relatório de inquérito de 2017 (Foto: Reprodução dos autos de processo) 
Fabiano Rios Ferreira em imagem anexada a relatório de inquérito de 2017 (Foto: Reprodução dos autos de processo)

Ouvido na delegacia, ele confessou que primeiro pagou para Ariel Ferreira Elias a quantia de R$ 1,4 mil para que ele conseguisse a “retirada” dos pontos de seu documento original. O caminhoneiro diz ter levado calote, mas através de Ariel, conheceu Fabiano Rios Ferreira - homem que foi preso novamente, em operação deflagrada nessa terça-feira (11) contra fraudes no sistema do Detran-MS. Com este último, o motorista de caminhão conseguiu uma CNH falsa por R$ 1,4 mil.

Ariel narrou em depoimento que conheceu Fabiano e um segundo falsificador de documentos quando precisou retirar carro apreendido do pátio do Detran-MS. Confessou que a partir de então começou fazer a ponte entre “clientes” e fraudadores. Contou ainda que os falsificadores contavam com a “ajuda” do funcionário de uma autoescola da Capital para conseguir as CNHs originais. Ele recolhia os documentos de motoristas que procuraram o Centro de Formação de Condutores para reciclagem. Por último, contou aos policiais, que outro agenciador do esquema chegava a cobrar R$ 3 mil por documento falso.

Na Justiça - Denúncia contra quase todos os citados ao longo das investigações foi oferecida pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) em março de 2018 e foi recebida pela Justiça em maio daquele ano. Desde então, o processo não teve mais movimentações importantes.

Ariel e Fabiano são réus pelo crime previsto no artigo 297 do Código Penal, “falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro”. Já o servente e o caminhoneiro são acusados de falsidade ideológica.

De novo – Lá em 2017, Fabiano Rios Ferreira, hoje com 44 anos, negou à polícia fazer parte de qualquer esquema de fraude em documentos. Ontem, porém, foi pego com 9 CNHs com dados do condutor estavam apagados.

Morador do Bairro Nova Lima, no norte da Capital, Fabiano era um dos alvos de mandado de busca, na Operação “Recurso Privilegiado”, deflagrada pela 30ª Promotoria de Justiça e Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) contra fraudes envolvendo o Detran-MS. Desta vez, foi descoberta participação de servidora no esquema.

O preso em flagrante passou por audiência de custódia nesta manhã, pagou fiança de R$ 3,3 mil e foi solto. Mais uma vez ele negou ser falsificador de documentos.

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