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Capital

Clínica deixou dependentes "jogados na rua que nem cachorros", denunciam pais

Eles estavam internados na Comunidade Terapêutica Filhos de Maria, que foi alvo de inspeção federal na sexta

Por Cassia Modena | 27/10/2024 11:29


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Após uma inspeção federal na Comunidade Terapêutica Filhos de Maria, em Campo Grande, pelo menos cinco ex-internos foram encontrados na rua, pedindo ajuda para voltar para casa. A clínica, alvo de denúncias de cárcere privado e sequestro, deixou os pacientes "jogados na rua", segundo relatos. Um jovem de 20 anos, dependente químico, afirmou ter sido agredido e dopado por três dias. A família dos internos não foi avisada sobre a inspeção e a liberação dos filhos, e alguns deles conseguiram carona para voltar para casa. A clínica não respondeu aos pedidos de comentário sobre a situação.

Pelo menos cinco ex-internos da Comunidade Terapêutica Filhos de Maria, de Campo Grande, foram encontrados na rua pedindo ajuda para voltar para casa, após o local passar por inspeção federal na sexta-feira (26).

Alvo de denúncias de cárcere privado, lesão corporal e sequestro, a clínica deixou os portões abertos após a visita de agentes federais do MNPCT (Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura) e os pacientes "jogados na rua que nem cachorros", segundo Rubens Gauto, que é padastro de um deles.

"Quero ir embora, preciso ir embora desse inferno. Os caras me 'grudou' no mato, deram um mata-leão", relatou em vídeo o enteado, que tem 20 anos e é dependente químico. Ele e outros três internos pediram ajuda a um motorista que passava próximo ao local.

Movimentação em frente à clínica durante ação policial na sexta-feira (Foto: Paulo Francis) 
Movimentação em frente à clínica durante ação policial na sexta-feira (Foto: Paulo Francis)

Alta sem aviso - Mãe do jovem e esposa de Rubens, a empregada doméstica Rosilene Ferreira Ramirez contou hoje (27) não ter sido avisada pela clínica sobre a inspeção e nem sobre o filho estar na rua.

"Ligamos, mas ninguém atendeu. Fomos avisados só depois. Daí mais tarde veio um textão contando o que tinha acontecido. Disseram que estavam sem acesso ao telefone e não podiam avisar", diz a mulher.

Rubens e Rosilene encontraram o filho e os outros três internos na BR-262, na região da Chácara dos Poderes, onde fica a comunidade terapêutica. Eles disseram ter conseguido uma carona até lá.

"Acolhemos os três também, porque não tinham para onde ir e estavam debaixo do sol forte. Vieram para casa e emprestamos o telefone para avisarem as famílias deles. Um deles ficou mais tempo porque era de Chapadão do Sul e teve que esperar ter passagem de ônibus para voltar", continua a mãe.

Na casa da família, o jovem de 20 anos relatou que foi "agredido e dopado por três dias", afirma Rosilene. Ela pretende questionar a clínica sobre o ocorrido quando for buscar os pertences do filho, na próxima segunda-feira (28).

Além dos quatro internos, um quinto paciente cadeirante saiu do local no mesmo dia e foi filmado dizendo que precisava ir até a rodovia pedir dinheiro para comprar passagens para Sidrolândia, onde mora. "Não deram nenhum apoio [...]. Disseram que quem quisesse sair, que podia sair", falou.

A reportagem tentou contato para ouvir a Comunidade Terapêutica Filhos de Maria novamente nesta manhã (27), mas não teve sucesso. O espaço segue aberto para manifestação.

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