Com calor, casas não estocam lixo e sujeira toma conta de ruas
A suspensão dos serviços de coleta pela Solurb voltou a levar dor de cabeça aos moradores de condomínios da Capital, que voltaram a depositar o lixo nas ruas devido a lotação dos depósitos e lixeiras dos prédios. Durante a primeira paralisação, alguns residenciais até estocavam os dejetos em áreas internas do prédio, mas o calor tornou inviável essa opção.
Não é preciso sair da região central para observar o problema. Quem passa pela Avenida Afonso Pena, próximo ao antigo terminal rodoviário, já pode constatar o lixo espalhado nas calçadas e o mau cheiro, intensificado com o calor.
Seguindo sentido aeroporto, nos bairros Taveirópolis e Amambaí, a situação não é diferente. Diferente da primeira paralisação da concessionária responsável pela coleta, quando os próprios moradores pagavam frete para o lixo ser retirado das ruas, dessa vez a população dos bairros visitados pelo Campo Grande News decidiu deixar os sacos nas calçadas.
“Nós já pagamos impostos suficiente. Essa briga é política. Se quisessem já tinham resolvido. No final, a gente nem sabe quem está falando a verdade”, reclama o técnico de em instalação de ventiladores, José da Silva, que trabalha em uma loja de utilidades domésticas na Avenida Tiradentes.
Próximo ao seu estabelecimento há diversos sacos espalhados pela calçada, exalando mau cheiro. Inclusive de um condomínio que está com a lixeira lotada. “Não dá mesmo para deixar dentro de casa com esse calor. Ninguém aguenta o cheiro”, diz o técnico, que mora no Tijuca e conta que em seu bairro os moradores também estão adotando a mesma prática.
Situação crítica também está em alguns condomínios do Bairro Aero Rancho, onde os síndicos e zeladores decidiram não contratar mais fretes devido aos valores abusivos. Com isso, os sacos voltaram a ser depositados na rua, como vem acontecendo no Residencial Anhanduí, localizado na Avenida Thyrson de Almeida, prolongamento da Ernesto Geisel.
O síndico do condomínio, que conta com dois blocos, explica que na época da greve dos garis, no mês passado, chegou a pagar R$ 30,00 para uma pessoa levar o lixo até o aterro sanitário administrado pela Solurb, mas dessa vez decidiu não contratar novamente o serviço devido ao valor pedido, que já chega a R$ 50,00.
“O pessoal está aproveitando essa nova paralisação e subindo muito os preços. Eu paguei R$ 20,00 a menos pela mesma quantidade de lixo da outra vez. Os moradores já pagam taxa de condomínio e acharam caro”, afirma o administrador do condomínio, João dos Santos.
Para evitar que os sacos sejam abertos e se espalhem com facilidade, João pediu aos moradores que coloquem os dejetos dentro de sacos mais resistentes e, se possível, em caixas de papelão, para que não se espalhem. “Eu tento organizar, mas vem os moradores de rua e abrem tudo para procurar comida e roupas”, conta.
O zelador do residencial, Marco Aurélio Gomes também procura ajudar o síndico na organização do lixo, mas reclama da demora para uma solução do problema. “Aqui na rua já faz duas semanas que não passa o caminhão. Toda hora preciso juntar os sacos que são abertos por moradores de rua", reclama.
Ele diz que é impossível pedir aos moradores que estoquem o lixo nos apartamentos devido ao calor. "Quem aguenta o cheiro? Ninguém", ressalta.
O mesmo problema enfrenta os moradores da rua Itatuba, onde a situação é mais complicada devido a falta de asfalto. "Quando chove o lixo se mistura ao barro e a rua fica intransitável", diz a dona de casa Sueli Feitosa de Jesus.
Além do lixo colocado na rua pelos moradores das casas, há também os sacos dos moradores do Residencial Centenário, que conta com mais de 50 apartamentos. Um dos moradores do condomínio, o aposentado Clodoaldo Pereira de Souza sabe que o lixo acumulado na rua é um inconveniente, mas com as lixeiras do prédio lotadas, os moradores ficaram sem alternativa. "Nós já pagamos R$ 120,00 de condomínio. Se tiver que pagar frete para remover o lixo fica pesado para o pessoal", diz.
Deixar o lixo em casa até que o serviço seja retomado também é inviável, segundo o aposentado. "Essa briga é uma falta de respeito com o povo. Eles é que tem que resolver, não a gente", destaca.
Sem zelador, são os próprios condôminos que buscam organizar os sacos de forma que não sejam abertos, mas a tarefa é impossível e o que se observa, são latas e garrafas espalhadas devido aos sacos abertos pelas pessoas que buscam material reciclável.
Paralisação - A Solurb está realizando apenas 25% do serviço de coleta de lixo. O motivo é que o Consórcio CG Solurb pede na Justiça a liberação de R$ 2.119.693,00 para quitar ao menos parte dos compromissos atrasados com fornecedores de combustíveis e financiamento de veículos. A ação cautelar contra a prefeitura de Campo Grande tramita na 4ª Vara de Fazenda Pública e ainda não houve decisão.
No processo, a empresa informa que o valor está bloqueado e que três decisões proíbem a suspensão do serviço. Segundo informa a Solurb na ação, foram bloqueados pouco mais de R$ 2 milhões, insuficientes para quitar no mínimo uma das quatro faturas vencidas e não pagas pela administração municipal, segundo a empresa.
O consórcio informou que as operações só voltarão a normalidade com o pagamento das faturas em atraso por parte da Prefeitura Municipal ou liberação pelo poder judiciário dos valores bloqueados. A empresa tem que efetuar o pagamento o leasing (espécie de arrendamento) de 30 caminhões coletores.
Na manhã desta segunda-feira (19) a equipe do Campo Grande News passou em frente a garagem da Solurb e constatou que a maioria dos caminhões continua parada. Apenas os veículos que fazem a coleta nos hospitais estão operando.