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Capital

Com dias de 8 corridas, mototáxi sobrevive ignorando aplicativo "até quando der"

Eles reclamam de burocracia, multas e taxas, mas resistem, porque moto ainda é o veículo mais econômico

Caroline Maldonado | 22/01/2022 10:07
Mototaxistas aguardando chamado em ponto da Rua Barão do Rio Branco, na Capital. (Foto: Marcos Maluf)
Mototaxistas aguardando chamado em ponto da Rua Barão do Rio Branco, na Capital. (Foto: Marcos Maluf)

Parece que eles estão curtindo a sombra, mas a vida não está ganha e, aliás, mudou muito na última década. Lembrando do tempo em que não havia motoristas de aplicativo na Capital, mototaxistas mais antigos contam que jamais imaginaram uma época em que chegariam a fazer apenas oito corridas em um dia. Ignorando completamente aplicativos de transporte via motocicleta, eles sobrevivem “até quando der”.

Quem faz a previsão é o mototaxista Clodival Florêncio dos Santos, de 45 anos. Há 19 anos, quando começou na profissão “era muito bom” e ele não ficava parado. Hoje, a saída custa R$ 2,50 e cada quilômetro sai por R$ 1,20 para quem chama um mototaxista. Fazendo as contas, ele lamenta o cenário atual, mas explica porque vale a pena persistir.

Mototaxista Clodival Florêncio dos Santos. (Foto: Marcos Maluf)
Mototaxista Clodival Florêncio dos Santos. (Foto: Marcos Maluf)

“Os aplicativos levaram alguns passageiros, aí veio a pandemia em seguida, mas ainda assim, a moto ainda é mais econômica. Em uma diária que faço R$ 120,00, gasto R$ 30,00 com combustível. Então, vou trabalhar com a moto ainda, até quando der”, avalia.

A maioria acredita que não compensa trocar a moto pelo transporte de aplicativo e alguns acham até que seria uma “trairagem” com a categoria.

Até quem já debandou, pensa em voltar para o mototáxi, mas não vê como, por enquanto.

Depois de 13 anos levando gente na moto, José Erivaldo Santos, de 54 anos, agora leva papéis, prestando serviço para escritórios.

“Eu parei com dor no coração, mas não tinha jeito, já estava pagando para trabalhar. É muita burocracia, multa, fiscalização e gastos com a moto”, resume. Sobre os motoristas de aplicativo, ele não reclama, porque acredita que cada um acha a melhor forma de trabalhar.

José Erivaldo Santos, que deixou mototáxi e hoje, trabalha com entregas para escritórios. (Foto: Marcos Maluf)
José Erivaldo Santos, que deixou mototáxi e hoje, trabalha com entregas para escritórios. (Foto: Marcos Maluf)

Já os aplicativos de transporte por moto, ninguém sabe, ninguém viu. “Vai chegar o dia em que ninguém vai viver e trabalhar sem aplicativo, mas enquanto esse dia não chega, vamos trabalhando assim. Eu não tenho vontade, nem fui atrás de saber como era esse aplicativo, aí também já pararam de falar sobre isso”, conta.

Há 6 anos como mototaxista, Sebastião Odilon da Silva, de 45 anos, também ignora essa história de aplicativo para moto. “Ainda tem gente que prefere o nosso trabalho da forma que é, pelo preço e pela agilidade. Assim, vamos resistindo e ver o que dá. Vou ficar por um tempo ainda e ver se melhora o movimento”, diz.

Cancelamentos que deixam clientes esperando um motorista de aplicativo por um tempão, também trouxeram alguns “clientes de volta” aos motoristas, mas não é o suficiente para fazer com que a lucratividade seja como já foi um dia. “Na pandemia, chegou a ser praticamente suspenso nosso trabalho e mesmo assim, continuamos tendo que pagar taxa mensal. Agora, temos uma dívida. Estou aí, até quando conseguir, mas está muito difícil para nós”, lamenta o mototaxista Agnelo do Nascimento, de 53 anos.

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