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Capital

Com foco no acolhimento, centro atendeu 560 mulheres vítimas de violência

Inaugurada em 2015, casa de acolhimento oferece tratamento psicossocial para mulheres de todo MS

Por Mylena Fraiha | 04/10/2023 13:48
Com foco no acolhimento, centro atendeu 560 mulheres vítimas de violência
Paciente do CEAM durante sessão de terapia (Foto: Divulgação)

Com o foco no acolhimento e conscientização de mulheres em situação de violência, o Ceam (Centro de Atendimento à Mulher Cuña M’Baretê) tem realizado por mês 560 atendimentos psicossociais na Capital, conforme levantamento do Governo Estadual. O atendimento é aberto a todas as mulheres de Mato Grosso do Sul.

Inaugurada em 2015, em uma área tranquila e arborizada, na Rua Piratininga, no centro de Campo Grande, a casa recebe centenas de mulheres que são atendidas por psicólogas para tratamento psicossocial que afasta cada uma delas dos agressores.

“É um local adequado, destinado às mulheres que precisaram sair imediatamente de suas casas com os filhos. Elas podem ficar até 180 dias, prorrogável por igual período, até se estabelecerem de forma definitiva em local seguro. Recebemos mulheres do Estado todo”, explica a coordenadora do Ceam, Sidneia Tobias.

No Ceam, casos de estupro, tentativa de feminicídio e suicídio recebem atenção imediata e prioritária, sem qualquer período de espera. As pacientes que procuram assistência no centro são encaminhadas por várias vias, e algumas delas também descobrem o serviço por iniciativa própria.

De acordo com Sidneia, além do trabalho psicológico e social, o Ceam também tem um bazar onde as mulheres assistidas recebem roupas, brinquedos para os filhos, e até itens domésticos. “É abastecido pela nossa equipe e por doações e ajuda de voluntárias, quando precisa a gente consegue até coisas para a casa”.

A coordenadora também explica que o Ceam tem planos de expandir seus serviços para incluir atendimento às crianças, reconhecendo a importância de romper o ciclo de violência que afeta muitas famílias. “É uma urgência que precisamos abordar. Portanto, estamos trabalhando ativamente para garantir que as crianças também tenham acesso ao atendimento psicológico de que necessitam".

Com foco no acolhimento, centro atendeu 560 mulheres vítimas de violência
Fachada do CEAM, na Rua Piratininga, região central de Campo Grande (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Experiências - Flora e Ana são duas mulheres que romperam ciclos de violência. Entretanto, para tomarem a decisão, ambas tiveram apoio psicológico e social das funcionárias do Ceam.

Com dois filhos, de 12 e 7 anos, Flora, de 40 anos, encontrou a força para deixar seu marido abusivo em 2020, após um evento traumático que abalou sua família. A virada de Flora aconteceu quando seu filho mais novo, com apenas 9 anos na época, testemunhou seu pai sob efeito de drogas na sala de sua casa.

Foi esse momento que finalmente deu a Flora a coragem necessária para encerrar definitivamente o relacionamento. "Quando meu filho presenciou aquele momento traumático em nossa casa, com meu marido sob efeito de drogas e substâncias espalhadas pela sala, ele ficou muito abalado e expressou seu desejo de não querer mais ver o pai. Foi nesse ponto que decidimos nos separar, mas ele começou a me perseguir. Eu achava que essa perseguição seria passageira, porque era assim que meu relacionamento inteiro havia sido”, explica.

Segundo Flora, durante 13 anos, ela sofreu com um quadro de violência psicológica e financeira. "Ninguém sabia da minha situação, e eu tinha medo de contar a alguém, pois imaginava que seria rotulada como louca. Afinal, ele era o tipo de pessoa que ninguém suspeitava que era abusador", explica.

Segundo ela, o apoio do Ceam (Centro de Atendimento à Mulher Cuña M'Baretê) a ajudou a se reerguer durante o período mais vulnerável de sua vida. A terapia semanal que Flora recebeu foi fundamental para sua recuperação. Ela não apenas adquiriu consciência dos abusos que sofreu, mas também encontrou a força para romper de vez com o ciclo de violência que, em algum momento, poderia ter colocado ela e seus filhos em risco.

"Participar da terapia mudou minha perspectiva sobre tudo. Eu finalmente consegui cuidar de mim, olhar para minhas emoções e necessidades internas. Aprendi a lidar com as diversas questões que surgiram. Entendi que não sou responsável pelo comportamento do meu ex-marido. Durante muito tempo, achei que era a culpada por tudo o que passei. Só com a terapia percebi que a vergonha deve ser dele, por ter cometido esses crimes, não minha", compartilha Flora.

Com foco no acolhimento, centro atendeu 560 mulheres vítimas de violência
Paciente do CEAM durante sessão de terapia (Foto: Divulgação)

Ana também passou por um quadro de violência financeira. No seu caso, sua jornada de terapia iniciou em maio de 2022 e está prestes a concluir seu tratamento, com a última sessão agendada para esta semana. Sua trajetória foi marcada por um longo percurso para se libertar de um relacionamento abusivo que se estendeu por dolorosos 22 anos.

O momento de despertar para a violência que sofria aconteceu quando sua própria filha registrou um boletim de ocorrência contra ela. "Fui à Delegacia da Mulher como acusada e saí de lá como vítima. Fui encaminhada pela assistente social da delegacia para o Ceam, e isso foi o que salvou minha vida. Meus filhos estão com o pai, em outro estado, enquanto eu fiquei e consegui me reerguer".

O casamento ao qual Ana dedicou mais de duas décadas chegou ao fim, e seus filhos foram viver com o pai, em outro estado. Enfrentando desafios financeiros, Ana não teria um lar se não fosse pelo suporte de morar temporariamente na residência de seus pais. "Saí do casamento sem absolutamente nada. Mas agora construí uma nova carreira na área da saúde e consegui adquirir um apartamento popular. Durante toda minha vida, estive focada nos outros, e agora percebo a importância de focar em mim mesma".

Serviço - Caso precise de auxílio, ligue para o número 190 da Polícia Militar ou entre em contato com a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) em Campo Grande pelo telefone (67) 2020-1300 / 1319.

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