Com o "dono" Name preso, Jockey Club segue rotina de abandono
No lugar, o empresário acusado de chefiar grupo de extermínio é citado como o comandante da diretoria do hipódromo deteriorado
“Corri o mundo inteiro e em todo lugar assisti corridas de cavalos. Está no sangue. Você morre com isso”. A declaração foi dada no dia 5 de julho de 2011 ao Campo Grande News pelo empresário Jamil Name, então com 72 anos, e prestes a ser eleito para comandar o Jockey Club de Campo Grande. O cenário no lugar era de abandono e a promessa de mudança radical, para o bem. “O Jockey vai sempre estar cheio, com corridas todo domingo. É um ambiente familiar e vai gerar empregos e diversão para a população”, empolgava-se Name.
Nove anos depois, o descuido no espaço antigamente frequentado pelos mais abastados da cidade se repete, enquanto a vida do homem ainda apontado como “dono” é o que mudou bastante. Aos 80 anos, Name está preso há pouco mais de três meses, depois de ser alvo da Operação Omertà, sob acusação de chefiar espécie de agência de pistolagem em Campo Grande. E não há qualquer previsão de retomada das atividades no Jockey Club.
Em 2011, foi a última vez que se teve notícias de eleição para diretoria do lugar. Eram 43 nomes, comandados pelo empresário, apontado também pelos relatórios de investigação da Omertà como o chefe da exploração do jogo do bicho em Campo Grande.
Mas nem a Prefeitura de Campo Grande consegue encontrar os prepostos do hipódromo. O Jockey Club é alvo de uma dezena de ações de cobrança de impostos e nos documentos os oficiais de justiça indicam dificuldade de intimar a sociedade responsável pela administração do espaço. Em apenas um dos processos, o valor envolvido passa dos R$ 400 mil.
Em outra ação judicial, envolvendo a disputa de um hectare comercializado durante a execução de processo trabalhista, a Justiça conseguiu intimar a esposa de Jamil Name, Tereza, em outubro do ano passado, na casa onde ele foi preso no Jardim Bela Vista. Mas passado o prazo de manifestação, não houve resposta.
Abandono - A reportagem foi ao Hipódromo Aguiar Pereira de Souza, na Avenida dos Cafezais, saída para São Paulo, considerado por arquitetos e urbanistas um patrimônio histórico da cidade, a caminho dos 76 anos. Lá, encontrou abandono e a referência unâmime de que é, ainda, a família Name a responsável pelo comando. Quando o assunto é revelado, todos pedem para preservar as identidades.
O hipódromo tem 54 hectares, ou 7,4 mil metros quadrados. Está bastante esquecido. O olhar, em geral, só encontra deterioração, desde a estrutura onde antes funcionava a arquibancada até o estacionamento. O mato está alto.
Nas cabines de onde os apostadores assistiam corridas de cavalo, na parte de cima da arquibancada, há sujeira, vidro e concreto quebrados. É possível ver roupas e vestígios de ocupação durante a noite, possivelmente por usuários de drogas.
O hipódromo só não está totalmente largado pois ainda há uso de cocheiras, onde é possível ver cavalos, cuidados e preparados para competições no interior e em outros estados. A pista é usada para treino. Ainda assim, parte dela está sem condições de utilização.
Nos últimos 10 anos, em termos de atração para grande público, apenas shows foram feitos no estacionamento do Jockey. Luan Santana, Tiaguinho, Gustavo Lima, Fernando e Sorocaba, Henrique e Diego, Diante do Trono, além dos internacionais Fat Boy Slim, Tiesto e David Gueta tocaram ali.
E o turfe ? - O esporte para o qual foi criado o espaço, mais conhecido popularmente como corrida de cavalo, está relegado aos treinos já citados e ao sonho de quem quer ver, por exemplo, um grande prêmio em Campo Grande, como nos "bons tempos". O último realizado tem mais de duas décadas. Quando assumiu o comando, lá em 2011, Jamil Name falava em fazer uma corrida para celebrar o aniversário da cidade, em 26 de agosto.
Isso nunca aconteceu, mas quem frequenta o lugar tem expectativa de mudança. "Aqui nas cocheiras são onde ficam os cavalos que correm em competições para fora", mostra um jovem que usa o lugar para treinar. Ele acredita que se o espaço estivesse funcionando como antes seria "bem melhor" porque não teria necessidade de viajar para competir.
"Tinha corrida de 15 em dias, pelo menos. Era uma época boa, de premiações. Se voltasse a funcionar seria uma boa para todo mundo, famílias e quem compete", imagina um jóquei de 45 anos.
Filho de competidor, outro personagem encontrado no local, de 81 anos, revela que passou a tradição para outros da família e isso já dura pelo menos quatro gerações.
Memória – Ele lembra que o hipódromo era de primeira qualidade até 1986. “Depois disso foi caindo a qualidade até acabar”.
"Ver assim é a maior tristeza. Hoje não tem mais arquibancada direito, nem cerca, depredaram tudo", olha com tristeza para o local. "Desejo que renasça esse jóquei. Muita gente gostava, era uma diversão para todo mundo", sintetiza.