Com população maior e pediatria defasada, sindicato contesta centralização
Atendimento pediátrico de urgência poderá ser restrito a duas UPAs, em Campo Grande, a partir de 1º de julho
A previsão de somente duas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) terem plantões de pediatras em Campo Grande vai na contramão do aumento populacional na Capital registrado pelo Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e de defasagem já existente no atendimento de urgência de crianças.
A avaliação é do presidente do Sinmed (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), Marcelo Santana. Ele cita também que não é razoável essa redução em pleno inverno, período propício às doenças respiratórias.
"Há aumento de doenças respiratórias nessa época, especialmente em crianças. Além disso, vivenciamos recentemente UPAs e CRSs (Centro Regionais de Saúde) extremamente lotados. Com alta de moléstias respiratórias, teremos um sistema de saúde ainda mais despreparado do que está", afirmou.
O médico se refere a um surto de doenças respiratórias que atingiu Campo Grande entre março e abril e abarrotou a rede municipal e hospitais. Os bebês estiveram entre os mais afetados durante um período, pelo vírus sincicial respiratório, como mostraram boletins epidemiológicos da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Distância - A centralização do atendimento pediátrico em apenas duas UPAs poderá ser adotada na Capital a partir de 1º de julho, conforme noticiou nesta quarta-feira (28) o Campo Grande News.
Se assim for feito, continua o presidente do Sindmed, a dificuldade de famílias campo-grandense aos locais pode virar um problema maior.
"Veremos diminuição acesso ao atendimento pediátrico de urgência. Muitas famílias ficarão distantes dos locais e isso pode retardar o atendimento de uma criança, já que elas tenderão a procurar o local de última hora, no último momento. Isso pode aumentar a vulnerabilidade do atendimento pediátrico", prevê.
Além disso, Marcelo Santana entende que isso pode refletir no aumento dos encaminhamentos hospitalares. "Quando as UPAs e CRSs são importantes, justamente, para diminuir os encaminhamentos para unidades hospitalares se realizam atendimentos de forma efetiva", afirma.
Por fim, ele se posiciona contra a centralização do atendimento. "Não há lógica em reduzir atendimento defasado, principalmente com aumento populacional, que tende a seguir nos próximos anos", finaliza.
Conselho - Presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Campo Grande, Victor Rocha (PP), o Dr. Victor, afirmou que os vereadores se reuniram ontem com o secretário municipal de Saúde, Sandro Benites, que garantiu que a medida não será tomada agora.
O consenso é que Benites precisa apresentar um plano para que, então, consulte o Conselho Municipal de Saúde sobre o remanejamento dos plantões em duas UPAs. "Existe lei que prevê a participação da sociedade nessas decisões, por meio de conferências e do conselho", explica o parlamentar. O Conselho Municipal de Saúde é composto por usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) (50%), gestores e prestadores de serviço (25%) e trabalhadores da saúde (25%).
Victor Rocha acredita que a mudança não será aceita. "Eu acredito que o conselho não vai autorizar", disse à reportagem. Uma nova reunião para discutir o assunto está marcada para a próxima quarta-feira (5).
A centralização do atendimento também preocupa o parlamentar. "É que um dos princípios do SUS é a descentralização. Imagine se uma pessoa leva o filho às 3h da manhã em uma UPA e depois tem que ir para outra, longe da sua casa. Defendo que sejam mantidos os plantões que pretendem tirar", pontuou.
Readequação - A Prefeitura de Campo Grande informou, em nota, que o mapeamento e readequação das escalas de plantão dos médicos, enfermeiros e demais integrantes das equipes das unidades de saúde não interferem no atendimento tanto para crianças quanto para adultos.
As escalas dos plantões continuarão sendo divulgadas diariamente no site da prefeitura e nas redes sociais da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde).
A secretaria afirmou que o atendimento às crianças continuará sendo realizado normalmente em todas as 10 unidades de urgência e emergência. "Além disso, a presença do pediatra será reforçada, com escalas de plantão 24 horas, onde há um maior fluxo de crianças", diz a nota. O reforço se refere às UPAs em que haverá escala eventual, além da escala fixa.
"Não haverá alterações na quantidade de médicos disponíveis nas UPAs e CRSs, uma vez que os médicos clínicos gerais, profissionais capacitados para atender todos os públicos, continuarão garantindo a assistência necessária", explica a prefeitura.