Com terço em mãos, mãe encarou assassino como desejava fazer desde a prisão
Assassino de Carla ficou em silêncio e pediu para ver júri por videonconferência
Desde que a prisão do assassino confesso da filha Carla, a mãe Evanir Santana Magalhães queria olhar na cara de Marcos André Vilalba Carvalho. Chegou a pedir isso ao delegado à época. Nesta sexta-feira (13), um ano e um mês depois do crime, dona Evanir conseguiu.
Com terço nas mãos, ela foi uma das últimas a entrar no plenário, onde Marcos já aguardava sentado no banco dos réus. Evanir sentou na fileira mais próxima do plenário, no ponto mais distante do réu.
Sentando no banco dos réus, Marcos permaneceu de cabeça baixa, enquanto ouvia o juiz repetir detalhes da sua confissão de assassinato. Vista de longe, a figura magra não passa a dimensão da brutalidade do crime.
Enquanto esperava para falar, dar pela última vez sua versão sobre o crime, manteve os olhos baixos e a mão firme no microfone.
Ao ser questionado sobre o que gostaria de fazer diante do próprio julgamento, respondeu: "Vou ficar em silêncio".
Depois de recusar prestar depoimento, pediu para acompanhar o julgamento do sala de videoconferência, onde permanece de cabeça baixa.
Antes disso, no entanto, o juiz revelou detalhes das confissões anteriores: depois de beber e usar drogas, Marcos encontrou Carla em frente de casa. Usou um golpe mata-leão para imobilizá-la e arrastá-la para dentro da própria casa. Estuprou e matou a vizinha por medo de ser denunciado.
Ao juiz, afirmou que usou uma faca para matá-la, mas não sabe dizer quantos golpes deu, ou onde os deu. Não soube dizer os motivos que o levaram até aquele momento, mas ainda assim, enrolou o corpo em cobertas e o escondeu em baixo da cama. Conviveu com a vítima morta por três dias, depois a carregou até um bar a poucos metros da casa e o deixou ali.
O assassino confesso ainda afirmou que tinha desejos por Carla e também raiva, porque dias antes, cumprimentou a vizinha e foi ignorado por ela.
A mãe e o assassino - Evanir se manteve firme e ficou inquieta no momento em que a assistência da acusação passou as imagens de Carla morta aos jurados. O advogado José Belga Trad abriu mão de mostrar as fotos no telão por causa da família e chegou a dizer isso ao plenário.
"Espero que ninguém faça com esse rapaz, o que ele fez com essa moça", disse José Belga.
Enquanto passava as fotos, Marcos, exibido no telão por videoconferência, baixou ainda mais a cabeça e só mudou a postura quando, no plenário, falaram sobre a homossexualidade.
Nos detalhes do depoimento, o plenário já tinha tomado conhecimento de que Marcos disse que era gay ao delegado à época do crime, na intenção de escapar da polícia. O que não deu certo.
Enquanto o assistente de acusação José Belga Trad afirmou que o réu também tinha desejos por homens, Marcos levou as mãos na cabeça e baixou o corpo em direção ao joelho. Mas logo se endireitou na cadeira e voltou a olhar para o chão.
O advogado explicou que tocou nesse ponto, apenas por um motivo: apesar de ter desejo por homens também, Marcos escolheu uma mulher para ser alvo do seu crime, alguém que ele conseguiria dominar.
Promotor - Quando assumiu a palavra, o promotor do caso, Bolivar Luis da Costa Vieira, ficou com a voz embargada ao descrever o crime.
"Já fiz vários júris contra integrantes do PCC, com várias facadas, mas um estupro seguido de uma morte tão brutal, é a primeira vez". Ele detalhou e explicou os crimes conforme a legislação.
No plenário, ouvindo esses pequenos detalhes, como da esganadura da Carla, a dona Evenir se emocionou. Os detalhes do estupro também mexeram com a família.
Evanir chorou ao ouvir o que os laudos da violência sexual apontaram. A firmeza de antes, deu lugar ao sofrimento de uma mãe perdeu a filha de forma tão brutal.
O julgamento começou às 8h da manhã. No banco dos jurados, formado por sete pessoas, duas são mulheres.