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Como funcionárias, mulheres voltam para Fórum, de onde saíram para prisão

Fórum de Campo Grande emprega 7 mulheres que enxergam na oportunidade de trabalho um "recomeço"

Por Idaicy Solano | 09/11/2023 13:30
Sete internas estão contratadas e recebem remuneração e benefícios (Foto: Divulgação)
Sete internas estão contratadas e recebem remuneração e benefícios (Foto: Divulgação)

Mulheres que cumprem pena nos regimes aberto e semiaberto da Capital têm a oportunidade de trilhar novos caminhos e "sonhar" com um recomeço, por meio de um convênio entre o Conselho da Comunidade de Campo Grande e o Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul, que contrata reeducandas para atuarem no Núcleo de Digitalização do Fórum de Campo Grande.

A parceria firmada em 2019, atualmente, emprega sete mulheres, que cumprem jornada de trabalho de segunda a sexta-feira, recebem um salário mínimo, vale-transporte e cesta básica. O maior benefício é que cada três dias trabalhados equivale a um dia de remissão de pena, ou seja, torna sonho da liberdade mais próximo.

Uma interna do presídio semiaberto feminino de 34 anos, contratada para atuar no setor, considera a oportunidade "um presente". Ela não concluiu o ensino fundamental e não tinha conhecimento de informática, mas a ação lhe motivou a trabalhar e buscar um futuro melhor. “Eu não preenchia os requisitos para este tipo de trabalho, então para mim é maravilhoso estar aqui".

A detenta é mãe de dois adolescentes e cumpre pena desde 2012. Essa foi sua primeira vaga de trabalho no sistema prisional com remuneração. Com o dinheiro, ela pretende ajudar financeiramente os filhos e se organizar para concluir os estudos quando estiver em liberdade. O sonho da interna é estudar Medicina.

Uma mulher de 24 anos trabalhava na área de construção civil e recebeu um oportunidade no setor após pedir remoção do trabalho anterior. O trabalho em canteiros de obras era "muito pesado", de acordo com a entrevistada, e lhe causou problemas de saúde. Ela deixou o presídio aberto e foi para a prisão domiciliar há cerca de um mês.

Segundo relato da mulher, o juiz Albino Coimbra Neto, responsável por gerenciar o cumprimento de pena das detentas, está sempre em contato para atender às necessidades. "Nos são ofertadas muitas possibilidades de cursos técnicos e todas temos algum benefício concedido por ele, além de nossa chefia que nos dá muito amparo e conselho. É uma grande oportunidade de recomeço”.

Além da digitalização de processos, as detentas também aprendem a fazer a categorização dos processos digitalizados. Para a reeducanda, trabalhar no Fórum é um "privilégio", e ela pretende concluir os estudos e seguir carreira na enfermagem.

“Estamos em um ambiente onde todas nos damos bem, temos o conforto do ar-condicionado, mas é uma função que exige concentração e é uma responsabilidade grande o que fazemos”, destaca.

A responsável pelo Núcleo de Digitalização do Fórum, Maria Aparecida Nazareno da Silva, destaca que grande parte dessas mulheres são mães (a maioria mãe solo), e grande parcela dos crimes que as levaram ao cumprimento de pena é narcotráfico e condutas afins.

De acordo com a servidora, algumas serviam de “guarda-roupa”, gíria utilizada para quem se dispõe a guardar a droga para os traficantes, já outras foram convencidas pelos esposos com a promessa de dinheiro fácil.

Maria Aparecida destaca que as presidiárias aproveitam a oportunidade de trabalho no Fórum, que além de ser um ambiente confortável - outras mulheres estão empregadas em trabalhos pesados - gera remuneração que as ajuda no custeio dos filhos.

“No Fórum, o ambiente da equipe é de mudança de vida. O desempenho delas na digitalização é muito elevado. As novatas vão aprendendo rapidamente com as colegas mais antigas e o grupo em si gera uma alta produtividade”, destaca a servidora.

Maria Aparecida atua há cerca de dois anos no setor e conta que somente duas internas precisaram ser desligadas da função por descumprir regras. Geralmente, elas deixam o trabalho apenas quando vão para o livramento condicional, para abrir a vaga para novas mulheres. O setor chegou a empregar 12 reeducandas.

A expectativa é de que o Tribunal de Justiça formalize novos contratos para destinar as mulheres a outras áreas do Fórum da Capital, além da manutenção e prorrogação do convênio, conforme afirma o departamento de administração do Fórum.

Por meio da ação, o Poder Judiciário oportuniza a reinserção social das detentas e geram o benefício do incremento na força do trabalho e economia aos cofres públicos.

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