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Capital

Comunidade terapêutica é alvo de operação após denúncias

Integrantes do poder público foram esta manhã a uma unidade na Chácara dos Poderes

Por Maristela Brunetto e Natália Olliver | 03/12/2024 13:20
Alojamento de clínica na Chácara dos Poderes; autoridades vistoriaram o local e cobraram adequações (Fotos: Natália Olliver)
Alojamento de clínica na Chácara dos Poderes; autoridades vistoriaram o local e cobraram adequações (Fotos: Natália Olliver)

Servidores públicos inspecionaram, nesta manhã (3), os serviços de uma clínica terapêutica no bairro Chácara dos Poderes após denúncias de maus-tratos e trabalho forçado por internos. Muitas famílias compareceram ao local, jovens saíram carregando roupas e objetos em sacos plásticos.

RESUMO

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Uma clínica terapêutica em Campo Grande, MS, foi alvo de vistoria após denúncias de maus-tratos e trabalho forçado. Autoridades, incluindo a Secretaria de Saúde, Polícia Civil e Defensoria Pública, encontraram irregularidades como alojamentos precários, monitoramento por câmeras e restrições de contato com familiares. Internos relataram rotina severa, uso de medicação para “castigo” e pagamento de mensalidade alta. Apesar de alguns internos defenderem o local, a vistoria resultou na saída de alguns pacientes e notificações para adequações, com investigações em andamento sobre possíveis crimes como cárcere privado e lesão corporal. A clínica, com capacidade para cerca de 100 pessoas, já havia sido alvo de investigações anteriormente, evidenciando problemas recorrentes em comunidades terapêuticas na região, muitas vezes sobrecarregadas pela falta de serviços públicos de tratamento para dependência química.

A reportagem apurou que a Clínica Fazendinha começou a funcionar este ano, inaugurada em solenidade com a presença de autoridades. O local abrigaria mais de1 00 pessoas em busca de tratamento para a dependência de álcool e drogas, segundo vários relatos ouvidos esta manhã. Há vários chalés de madeira, em alguns foi possível ver a existência de fechadura somente do lado de fora e outros sem janelas, com ar-condicionado ou ventilador para circular o ar. Em pelo menos um alojamento havia câmeras instaladas para monitorar o grupo.

Os servidores fizeram a vistoria na estrutura toda. A Secretaria Estadual de Saúde, Polícia Civil e Defensoria Pública faziam o trabalho, que seria coordenado pelo Ministério Público Federal. Entre as informações repassadas a jornalistas, consta que o local ainda não tem a estrutura completa e próprios internos estavam envolvidos com as obras. Outros se dedicavam à limpeza do local.

Familiares compareceram à comunidade após a notícia da operação; internos deixaram o local levando pertences em sacos
Familiares compareceram à comunidade após a notícia da operação; internos deixaram o local levando pertences em sacos

Para a permanência, havia o pagamento de mensalidade pelas famílias, o valor foi apontado em cerca de R$ 1,8 mil, e também era possível comprar alimentos além das refeições fornecidas pela instituição.

Um interno chegou a contar que após um atrito com outro jovem, ficou afastado dois dias do grupo e teve que tomar medicação que o manteve dormindo dois dias. Foram muitos os relatos de uma rotina severa e exaustiva, poucas oportunidades de acesso aos familiares. Consta que a visitação ocorria uma vez por mês em frente à clínica, sem os parentes entrarem para visitar a estrutura e contatos telefônicos seriam autorizados a cada 15 dias.

Polícia Civil foi ao local junto com outros órgãos públicos, como Defensoria e Saúde estaduais
Polícia Civil foi ao local junto com outros órgãos públicos, como Defensoria e Saúde estaduais

O castigo com medicação pesada para permanecer dopado era conhecido pelos internos como protocolo. Jovens chegaram a falar que a intervenção no local foi uma libertação. Wennith dos Santos, de 31 anos, contou que chegou ao local em setembro e relatou as restrições no dia a dia do local.

A imprensa pôde acessar o local após a vistoria. É possível ver um amplo terreno, com ambientes elegantemente decorados, incluindo uma sala para exibição de filmes, e outros destinados à acomodação dos pacientes, reunidos em um pequeno quarto com vários beliches.

Não é de hoje que comunidades terapêuticas são alvo de investigações. Em Campo Grande, o Ministério Público Estadual mantém inquéritos e até ações na Justiça. No Poder Executivo, convênios repassam valores para custear internação de dependentes químicos. Com a insuficiência de oferta de serviços públicos, estruturas ligadas a igrejas ou mesmo ex-dependentes acabam recebendo pessoas que precisam de ajuda para se recuperar do vício, mas nem sempre encontram serviços como preconizados, com a falta de profissionais de saúde, assistência psicológica.

Há pouco mais de um mês, outra comunidade no Chácara dos Poderes foi alvo de uma ação de autoridades. Após a vistoria, uma equipe de inspeção federal recomendou o fechamento da comunidade Filhos de Maria. No local, foram encontrados pacientes dopados, vivendo em alojamento considerado insalubre e degradante.

Foi aberto inquérito para apurar denúncia de cárcere privado, lesão corporal e sequestro e um relatório recomendou ao TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) a reavaliação da ordem de internação em relação às pessoas que estavam no local. Além da iniciativa voluntária dos internos, muitos são levados por ordem judicial, atendendo a pedido das famílias em busca de vaga para internação compulsória custeada pelo poder público.

Outro lado - Representantes da comunidade disseram que foram notificados para fazer adequações no local, atendendo a cobranças do Ministério Público. Entre os pontos, foram citados a melhoria na cozinha e que as exigências serão cumpridas. Os responsáveis negaram cárcere privado ou mesmo maus-tratos, sugerindo que teria havido um motim de pacientes internados.

Aqueles que queriam ir embora puderam deixar o local. O advogado Bruno Camatte considerou que o desejo dos denunciantes foi interromper o tratamento para poder ir embora nessa época de final de ano.

A proprietária, Sônia Regina Capistrano, conhecida como Bia Arraes, apontou que a comunidade mantinha cerca de 100 pessoas internadas e não próximo a 140, como relatado por algumas pessoas ouvidas no local.

Covardia- Edson Arguelho Souza, de 36 anos, disse que está na clínica pela segunda vez. Em uma primeira internação ficou três meses, decidiu sair, reincidiu no uso de drogas e decidiu voltar de forma espontânea. Ele afirmou que se sentia feliz no local e via covardia no tom das denúncias.

Para ele, há amor da proprietária, a quem se referiu como madrinha. O rapaz apontou que no local há tratamento adequado e que os dependentes químicos por vezes manipulam familiares para conseguir deixar a internação, o que acredita ter ocorrido ali, desencadeando a investigação.

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