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Capital

Comunidade Três Barras se reúne para decidir futuro de cemitério

Hipótese de que lugar poderia ser fechado por estar irregular mobilizou moradores nesta quarta-feira

Por Natália Olliver | 01/11/2023 13:17
Comunidade Três Barras se reuniu para discutir o futuro do cemitério (Foto: Marcos Maluf)
Comunidade Três Barras se reuniu para discutir o futuro do cemitério (Foto: Marcos Maluf)

Moradores da Três Barras, comunidade rural de Campo Grande localizada às margens da MS-040, se reuniram na manhã desta quarta-feira (1°) para discutir o destino do cemitério que também leva o nome do local.

A comoção foi causada pela hipótese de que o lugar poderia ser fechado pela Prefeitura de Campo Grande, por estar com documentação irregular e ter corpos sepultados diretamente na terra, ação proibida pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente).

Apesar de incorreta, a forma de enterrar diretamente no solo é tão antiga quanto o cemitério, que existe desde a década de 50 e reúne em torno de 260 jazigos. O assunto é tão importante para os moradores que a chuva não impediu as 88 pessoas de marcarem presença na reunião.

A Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), Agereg (Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Campo Grande) e Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), pastas responsáveis pelo assunto, deram prazo de 15 dias para que a comunidade solucione o impasse quanto à documentação e afins. Entretanto, informaram que não existe pretensão de fechar o cemitério e que os sepultamentos podem ser feitos normalmente.

Alexandre Bento Martins ajudou a construir o cemitério Três Barras (Foto: Marcos Maluf)
Alexandre Bento Martins ajudou a construir o cemitério Três Barras (Foto: Marcos Maluf)

Ao Campo Grande News, uma das 43 pessoas que participaram da implantação do local, Alexandre Bento Martins, de 95 anos, disse que inicialmente o lugar se chamava Cemitério do Rabicho e que foi registrado na prefeitura por José Gonçalves.

Bento ajudou a arrancar árvores, construir muros e fazer algumas covas e lembra que do grupo é o único vivo para contar a história. Apesar da idade, a memória da época mexe com os sentimentos do aposentado, que se exalta com a hipótese de fechamento.

“Aqui tem enterrado meu pai, mãe, esposa, irmão, meu filho, minha mãe e eu vou ser enterrado aqui também. Já tá marcado a cova daqui. Dos 43 que estavam arrancando as árvores aqui, só tem eu vivo. Quem não morreu mudou”.

Nilson Antônio da Silva faz parte da comissão responsável por regularizar o local (Foto: Marcos Maluf)
Nilson Antônio da Silva faz parte da comissão responsável por regularizar o local (Foto: Marcos Maluf)

Nilson Antônio da Silva, neto de um dos fundadores do cemitério (Antônio Manuel da Silva) e um dos primeiros túmulos no lugar, explicou que a comunidade está disposta a regularizar o local, pois há valor sentimental e histórico.

“A gente está disposto a fazer essa regulamentação. Eu, por exemplo, a minha mãe, meus familiares, todos querem ser enterrados aqui. Porque é da família isso. Meus avós, tios, tias, primos, todos estão aqui, então a gente quer permanecer usando isso aqui.”

Sobre o fechamento, Nilson acredita ter acontecido um mal-entendido, pois, segundo ele, nunca houve interesse da prefeitura pelo imóvel. Apesar da declaração, ele assume que há necessidade de regularizar o lugar.

“Eu espero que isso seja esclarecido. A Prefeitura nunca participou, nunca fez nenhum investimento, nunca participou disso aqui, agora vai querer fechar, não é assim, porque a notícia que a gente teve é que eles fariam o fechamento e fechamento nós não vamos permitir.”

Nerci de Almeida Lima tem marido, filho, mãe e irmão sepultados no cemitério Três Barras (Foto: Marcos Maluf)
Nerci de Almeida Lima tem marido, filho, mãe e irmão sepultados no cemitério Três Barras (Foto: Marcos Maluf)

Sentimento - Emotiva sobre o futuro do local, Nerci de Almeida Lima, de 72 anos, espera que o impasse seja solucionado o mais rápido possível. No cemitério estão enterrados o pai, mãe, filho e o marido da aposentada.

Ao todo, são umas 25 pessoas da família sepultadas no Três Barras. “Espero que a gente faça um negócio bem feito, pra gente pagar uma taxa de manutenção. Vamos fazer o túmulo, tem muitos meus que são direto na terra, mas aí a gente vê depois quando fizer pra arrumar. Tem que fazer alguma coisa, mas não tirar nada daqui”.

Jaine da Silva, 76 anos, tem quase 50 familiares enterrados. Nascido na região, ele tem tios, tias e avós, mãe sepultados. “A gente se criou praticamente nesta região”. Hélio Vicente Pereira, de 68, membro da Associação dos Amigos do Cemitério Três Barras, como o grupo pretende chamar, disse que eram comuns sepultamentos feitos diretos no solo na década de 50 e que as gavetas surgiram depois.

 Hélio Vicente Pereira membro da comissão de regulação e Associação Amigos do Cemitério Três Barras (Foto: Marcos Maluf)
 Hélio Vicente Pereira membro da comissão de regulação e Associação Amigos do Cemitério Três Barras (Foto: Marcos Maluf)

“Logicamente que naquela época se enterravam na terra crua. Não tinha esse negócio de fazer gaveta. Agora, por exemplo, meu pai, meus tios que já tão aqui, eles tão enterrados já nas gavetas, até porque aqui é uma terra de areia, quando você cava, ela desbarranca, então tem que fazer.”

Hélio reafirma que a partir desta quarta-feira o grupo vai mexer com a documentação para regularizar o local. Ele acredita que há possibilidade de o município declarar interesse em gerir o cemitério, mas que a decisão cabe aos familiares.

Reunião - O vereador Ademar Vieira Júnior, conhecido como “Coringa” (PSD), esteve presente na reunião e prometeu colaborar com o grupo na regulamentação do cemitério. Na ocasião, foi criada uma comissão composta por sete pessoas da comunidade, que devem discutir o assunto com a gestão municipal na próxima semana. A reunião ainda não tem data.

Moradora assina ata de presença em reunião feita nesta quarta-feira(Foto: Marcos Maluf)
Moradora assina ata de presença em reunião feita nesta quarta-feira(Foto: Marcos Maluf)

Representantes do poder municipal, participaram da reunião Edna de Castro Coutinho, auditora fiscal da Vigilância Sanitária Municipal; Denise Lima, fiscal da agência municipal de regulação e Sérgio Melo, auditor da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

Eles confessaram que os órgãos que representam desconheciam a existência do local.

Agentes fiscalizadores estiveram no local nesta quarta-feira (Foto: Marcos Maluf)
Agentes fiscalizadores estiveram no local nesta quarta-feira (Foto: Marcos Maluf)

"O que chegou foi cópia de reportagem do Campo Grande News revelando violação de alguns túmulos. A gente veio pra entender. Eles [moradores] vão definir. Se a associação quer que seja privado, se eles querem que seja público e vê se a prefeitura tem interesse”, disse Denise Lima.

 Edna de Castro Coutinho, auditora fiscal da Vigilância Sanitária Municipal (Foto: Marcos Maluf)
 Edna de Castro Coutinho, auditora fiscal da Vigilância Sanitária Municipal (Foto: Marcos Maluf)


Comunidade Três Barras discute se cemitério continua privado ou passa para o poder público (Foto: Marcos Maluf)
Comunidade Três Barras discute se cemitério continua privado ou passa para o poder público (Foto: Marcos Maluf)

História - O cemitério fica a 19 km da região central da cidade. São 11,4 km, partindo do anel viário, na saída de Três Lagoas, com acesso pela MS-040 num percurso de mais de 5,4 km pela rodovia estadual. Por último, mais 2,2 km em estrada de terra. A área do cemitério fazia parte de uma fazenda.

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