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Capital

"Contador CV": policial penal recebia para entregar celulares a faccionados

Alvo do Gaeco, servidor era conhecido pelos integrantes da organização criminosa como "Contador CV"

Viviane Oliveira | 20/05/2023 17:30
Dinheiro, armas e munições que foram apreendidos durante a operação deflagrada pelo Gaeco (Foto: divulgação)
Dinheiro, armas e munições que foram apreendidos durante a operação deflagrada pelo Gaeco (Foto: divulgação)

O policial penal Odair Pereira da Silva, de 48 anos, alvo da Operação Bloodworm, deflagrada no dia 5 deste mês pelo Gaeco (grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), contra advogados, policiais penais e outras pessoas investigadas por ligação à facção criminosa carioca CV (Comando Vermelho), recebia para entregar celulares a presos da organização criminosa.

Segundo pedidos de prisão elaborados pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) contra os alvos, Odair era lotado na Penitenciária Estadual Masculina de Regime Fechado da Gameleira 2, conhecida como "Federalzinha", em Campo Grande, desde 26 de novembro de 2021. Ele era conhecido pelos integrantes da organização criminosa como "Contador CV", porque além de ser policial penal desempenhava também, profissionalmente, a função de contador em escritório de contabilidade.

De acordo com o documento, o policial mantinha estreito contato com os presos Devair Pereira de Castro, o "Coqueirinho" ou "Dona",  uma das lideranças da facção, e Lucas Matheus Ribeiro de Moraes, "Lukinha" ou "Tutão", para negociarem valores e combinarem a forma que o policial faria o ingresso de aparelhos celulares no presídio.

Fora da penitenciaria, era Vânia Cristina Ribeiro de Moraes, "a Dona Vânia", mulher de Devair e mãe de Lucas, quem mantinha contato com Odair.

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Trechos de pedido de prisão do Gaeco que citam o policial penal. (Foto: Reprodução)
Trechos de pedido de prisão do Gaeco que citam o policial penal. (Foto: Reprodução)

Conforme o documento, a ligação de Odair com as lideranças da facção demonstra uma completa subversão de valores. "Ao invés de estar no presídio exercendo seu labor de modo irrepreensível, ele aproveitou sua função para se colocar à serviço de um grupo criminoso que vive do cometimento de ilícitos (os quais ele deveria lutar para combater)".

A reportagem não encontrou a defesa de Odair. O advogado que consta na página do Sinsap (Sindicato dos Servidores da Administração Penitenciária de MS) não faz mais a assistência jurídica dos servidores do sistema penitenciário.

Operação - Conforme o Gaeco, o CV estava tentando se fortalecer em Mato Grosso do Sul e, para isso, contava com advogados e policiais penais. Isso porque o Estado se tornou importante rota do tráfico de drogas e de armas de fogo por estar nas fronteiras do Paraguai e Bolívia. Até então, as investidas da facção estavam "tímidas" no Estado, aponta a investigação, que durou 15 meses.

A ação do CV em MS teve início a partir da união entre as lideranças que estavam presas na penitenciária. Com ajuda de policiais penais corruptos e advogados, que faziam papel de “pombo-correio”, os presos usavam celulares e mantinham contato com os faccionados em liberdade, para tratar sobre crimes como roubos, tráfico de drogas e comércio de armas, que foram praticados e comprovados durante a investigação.

No dia da operação, o policial penal Márcio Massao Fucushima, de 54 anos, foi alvo de mandado de busca e apreensão. Ele foi preso por posse irregular de arma de fogo ao ser flagrado com 11 munições calibre 38 de marca estrangeira. Na delegacia, pagou fiança de R$ 1,5 mil e foi liberado.

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