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Capital

Córrego onde menino morreu tem acesso livre e é diversão da criançada

Segundo moradores, bairro não tem praças ou parques, por isso crianças fizeram do córrego um espaço de brincadeiras e lazer

Luana Rodrigues e Adriano Fernandes | 20/01/2017 16:35
Caminho da rua até o córrego é curto, e nada impede que crianças entrem na água. (Foto: Adriano Fernandes)
Caminho da rua até o córrego é curto, e nada impede que crianças entrem na água. (Foto: Adriano Fernandes)
Trecho da Rua Macaé, onde crianças costumam entrar na mata para ter acesso ao córrego. (Foto: Adriano Fernandes)
Trecho da Rua Macaé, onde crianças costumam entrar na mata para ter acesso ao córrego. (Foto: Adriano Fernandes)
Na hora das brincadeiras, cipó e galhos de árvores viram cordas para o "tibum" da garotada. (Foto: Adriano Fernandes)
Na hora das brincadeiras, cipó e galhos de árvores viram cordas para o "tibum" da garotada. (Foto: Adriano Fernandes)

Quem mora na Rua Macaé do Jardim Sayonara, região Oeste de Campo Grande, está estranhando o dia de hoje. A sexta-feira (20) está sendo de silêncio no local, onde a vizinhança já se acostumou a conviver com os gritos de diversão e o barulho do “tibum” da criançada.

Desde o início da manhã, quando o corpo do menino Cauã Christofer Bezerra Gonçalves, 12 anos, foi encontrado no Córrego Imbirussu, as águas do riacho Serradinho, que passam em frente a rua e deságuam no córrego, estão paradas. As crianças ainda brincam pela rua, mas o clima é de tristeza. Bem diferente do que costuma ser em dias de calor como hoje, já que no local não há anda que impeça as crianças de nadarem.

“Aqui é uma bagunça só. As vezes eu vou lá perto da água e falo que vou ligar para o Conselho Tutelar e eles vão embora com medo, mas todo dia é cheio de criança, porque eles não tem outro lugar para brincar e não tem nada que os impeça de entrar água”, conta a doméstica, Ruth Arguena da Silva, 65 anos, moradora da região há 15 anos.

A comerciante Sonia Araujo Bogda, 46 anos, mora bem em frente ao riacho, e assim como a vizinha Ruth, já estava acostumada a ver as crianças se divertirem na água. “Todo o dia eles vem, porque pelo bairro não tem nada, nenhum parque, nenhuma praça, nada. Para elas era diversão e ninguém achava que era perigoso”, disse.

A confiança de que o lugar não oferecia nenhum risco era tanta, que no fim da tarde de ontem (19), Sonia nem percebeu que a correria das crianças na rua, era porque tinha um menino se afogando.

“Eu vi quando umas seis crianças desceram para a água. Depois, um deles subiu, era o primo do Cauã, que acho que foi pedir socorro. Quando eu percebi o que era, chamei o Corpo de Bombeiros”, conta a comerciante.

A notícia da morte de Cauã chegou como um alerta para a cozinheira Luciana Vera Garcia, 30 anos. Mãe de uma menina de 13 anos, e tia de outras duas crianças, ela também não via risco no córrego, mas acha que ali deveria haver alguma barreira para que as crianças não entrassem.

“A gente tem sempre que ficar atento, porque nesse bairro, de diversão, só tem esse córrego. E, além da falta de cercamento, ainda tem esse matagal, que também é perigoso. Eu fico cuidando, mas mesmo assim, de vez em quando eles fogem e vão tomar banho lá, porque é o único lugar de lazer”, diz.

Dayane (de blusa azul) recebendo a notícia de que o corpo havia sido encontrado (Foto: André Bittar)
Dayane (de blusa azul) recebendo a notícia de que o corpo havia sido encontrado (Foto: André Bittar)

Pela manhã, a tia de Cauã, Dayane Rodrigues, 30 anos, disse que esta havia sido a primeira vez que o sobrinho brincava no córrego. A criança, que morreu afogada, sumiu por volta das 15h20 de ontem (19), enquanto nadava com dois primos.

Ainda muito abalados, nenhum familiar quis falar com a imprensa no local do velório do menino, realizado desde às 16h desta sexta-feira. Cauã recebe as últimas homenagens na igreja Assembleia de Deus, Rua Felipe dos Santos, mesmo bairro em que morava. O sepultamento do menino será às 10h da manhã deste sábado (21).

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