Criados para ser solução, corredores de ônibus viram problema
Previstos no plano de mobilidade urbana de Campo Grande, em vigor desde 2015, os corredores de ônibus não cumprem com o objetivo de sua proposta original, que é de dar maior eficiência ao transporte coletivo. Pelo contrário, nos trechos já operando ou em implementação, o que se vê é uma série de 'aberrações' no trânsito.
As promessas de maior agilidade aos ônibus que transitam nessas faixas e de que deixariam de disputar espaço nas vias não se sustentam. Na Afonso Pena, por exemplo, o duelo entre coletivos e demais veículos são constantes. Com carros estacionados à direita, em boa parte de sua extensão e duas pistas de rolamento, motoristas contam o bom senso na principal avenida da cidade.
Na Duque de Caxias, onde o trânsito flui relativamente bem, é comum ver veículos 'não autorizados' trafegando na faixa exclusiva. Outro trecho que causa estranheza é o da Avenida Bandeirantes. Na via de mão única, sentido bairro-Centro, o corredor se inicia à esquerda, na altura do terminal de embarque e quando chega no cruzamento com Rua 26 de agosto, a faixa é invertida para o lado direito. Em quase sua totalidade, há sinalização vertical indicando a proibição ao espaço destinado aos ônibus, porém ambos lados são tomados por veículos estacionados.
Esta é rota feita por Júlio Cezar Souza, de 35 anos, que há seis anos, vai do Bairro Santa Emília até o Centro, onde desembarcam os passageiros. “Sempre há confusão, principalmente, quando algum veículo quer fazer uma conversão e estamos na faixa. Na 26 de Agosto com a Calógeras, é um exemplo”, disse o motorista.
O administrador de loja Alceu Marcos Gomes, 66 anos, acredita que "por enquanto, não temos como avaliar a eficiência dos corredores, uma vez que não estão totalmente implantados na cidade, mas tudo o que for feito para melhorar a vida dos usuários do transporte público é bem-vindo".
Há mais de uma década, a população aguarda a conclusão das obras dos corredores, pactuadas pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento Mobilidade Urbana), prevista para o fim deste ano. Foram disponibilizados R$ 110 milhões para construção de 68,4 quilômetros de faixas exclusivas ao transporte coletivo e R$ 6 milhões para estações de embarque.
A expectativa depositada neste modelo é de aumentar em até 62% a velocidade média dos coletivos, chegando a 25 km/h, no entanto, a percepção de quem utiliza o transporte público é de que os vagarosos atuais 16km/h serão permanentes.
Os corredores entre as ruas Brilhante e Guia Lopes, deverão ser os primeiros a serem ativados. Parte da rede semafórica já está instalada, bem como as sinalizações verticais e horizontais. No momento da reportagem, funcionários de empresa contratada faziam a instalação de vidros na estação de embarque, construída entre uma faixa e outra da pista.
A trabalho na cidade, o fotógrafo Rodrigo Alves Cardoso, 47 anos, achou esquisito o embarque e desembarque ser pelo centro da via. "É um desperdício colocar a estação dividindo a rua porque se perde a otimização do espaço, além de deixar o condutor confuso, ainda coloca em risco a vida do usuário que terá que atravessar uma via movimentada sempre que utilizar o ônibus".
A estrutura é uma exigência da Lei Federal 12.587 de 2012, que obriga cidades com mais de 20 mil habitantes terem um plano diretor de transporte e mobilidade.
Conforme o Código de Trânsito Brasileiro, desde 2015, trafegar na faixa de ônibus é infração gravíssima, punida com multa de R$ 293,47 e sete pontos na Carteira de Habilitação.