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Capital

Denúncia do Gaeco liga guardas municipais a grupo de extermínio

Esposa de guarda preso com arsenal disse que o marido também atuava na segurança de empresário

Aline dos Santos | 16/08/2019 12:48
Guardas municipais em 28 de maio, quando chegaram ao Centro de Triagem. (Foto: Kisie Ainoã)
Guardas municipais em 28 de maio, quando chegaram ao Centro de Triagem. (Foto: Kisie Ainoã)

Dois guardas municipais e um auxiliar de segurança foram denunciados pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) por obstruir investigação e integrar organização criminosa. No caso, um grupo de extermínio responsável por três execuções em Campo Grande. O processo tramita na 3º Vara Criminal de Campo Grande.

Robert Vitor Kopetski,  Rafael Antunes Vieira e Flávio Narciso Morais da Silva foram denunciados por ameaçar e coagir a esposa do guarda Marcelo Rios, preso em 19 de maio, na Capital, com arsenal. Robert e Rafael também são guardas municipais. 

No dia da prisão, conforme a denúncia, a mulher prestou informações relevantes sobre a atuação de membros do grupo criminoso. Ela disse que além de guarda, o marido atuava na segurança de empresário. Na sequência, a testemunha passou a ser ameaçada pelos três.

De acordo com o Gaeco, na tarde do dia seguinte, 20 de maio, Rafael foi até a casa da testemunha e entregou R$ 1.250 para ajudar no pagamento de despesas. À noite, a visita foi de Flávio com alerta de que ela deveria “tomar muito cuidado com a polícia”. Ele também disse que seria o responsável por ela. No dia 21, Flávio levou a testemunha para ver o marido antes da audiência de custódia. Mas o encontro não aconteceu.

Depois, foram ao banco e a testemunha foi alertada pela mãe, por telefone, de que havia um homem a sua procura. Neste instante, a testemunha percebeu que “ seus passos estavam sendo efetivamente monitorados pela organização criminosa objeto de investigação, com a finalidade de evitar ela que fornecesse informações à Polícia Civil sobre as atividades dos membros desse grupo criminoso”.

Ela recebeu mais R$ 500 e foi orientada a mudar de casa, telefone e alertada de que estava com a “cabeça a prêmio”. Segundo a denúncia, equipe policial foi atrás da testemunha e a encontrou junto com Flávio, que se identificou como amigo da família.

A mulher foi levada para o Garras (Delegacia Especializada Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestro) e, ao retornar para a casa, encontrou um homem no portão. Ele alertou que sabia que a testemunha tinha ido à delegacia e fez nova ameaça de morte. O terceiro homem foi identificado como Robert. 

Carta de testemunha em defesa de guardas foi anexada a processo. (Foto: Reprodução)
Carta de testemunha em defesa de guardas foi anexada a processo. (Foto: Reprodução)

No entanto, numa reviravolta, a mesma testemunha saiu em defesa dos acusados. Numa carta datada de 11 de junho, a mulher afirma que não sente “a vida e nem a integridade física ameaçada”. Também foi anexada representação dela contra o delegado titular do Garras, que lidera força-tarefa da Polícia Civil para investigar as execuções.

Execuções – A denúncia do Gaeco informa que o arsenal apreendido com Marcelo Rios foi utilizado em crimes de homicídios. Até então, foi divulgado que havia suspeita, mas que o armamento seria periciado pela PF (Polícia Federal).

O arsenal tinha o mesmo modelo de fuzil usado em três execuções. As vítimas foram Ilson Martins de Figueiredo (policial militar reformado e então chefe da segurança da Assembleia Legislativa), Orlando da Silva Fernandes (ex-segurança do narcotraficante Jorge Rafaat) e o universitário Matheus Coutinho Xavier (a suspeita é de que o alvo fosse seu pai, um policial militar reformado).

A denúncia recorda que além do armamento pesado usado nos crimes, os veículos dos autores foram encontrados incendiados. “Em outras palavras, ficou demonstrado que esses crimes de homicídios foram meticulosamente planejados e executados por uma organização criminosa, em autêntica divisão de tarefas, com as vistas a ludibriar as autoridades envolvidas na persecução criminal e, via de consequência, obter a impunidade”.

De acordo com a denúncia, após a apreensão do arsenal, houve avanço na identificação de integrantes da organização criminosa. Neste cenário, os guardas e o auxiliar de segurança, numa milícia, passaram a praticar atos para dificultar o andamento dos trabalhos investigativos, para garantir a impunidade do grupo criminoso.

O Gaeco pede a decretação da perda do cargo dos guardas, atualmente presos e afastados das funções. Marcelo Rios está preso no presídio federal de Campo Grande, aguardando transferência para a penitenciária federal de Mossoró (Rio Grande do Norte).

Até agora, Rios foi denunciado por crimes previstos no Estatuto do Desarmamento (posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, posse irregular de arma de fogo de uso permitido e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido) e no Código Penal (receptação e adulteração de sinal identificador de veículo).

Braço do MP/MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), Gaeco apresentou denúncia na tarde de quinta-feira. (Foto: Marina Pacheco)
Braço do MP/MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), Gaeco apresentou denúncia na tarde de quinta-feira. (Foto: Marina Pacheco)
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