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Capital

Dia das Crianças na favela expõe que carência também é de espaço para brincar

Vaga no balanço e vez no escorregador, muitas vezes, são disputadas “no tapa”, admitem as mães

Anahi Zurutuza e Bruna Marques | 12/10/2021 11:46
Crianças brincam em balanços instalados em área no Dom Antônio Barbosa. (Foto: Kísie Ainoã)
Crianças brincam em balanços instalados em área no Dom Antônio Barbosa. (Foto: Kísie Ainoã)

Neste 12 de outubro, se não fossem as ações sociais espalhadas pelos bairros periféricos de Campo Grande, muitos meninos e meninas por aí não teriam um dia especial. Mas o Dia das Crianças expõe outra realidade: que no dia a dia dessa criançada que vive em comunidades carentes, não falta só brinquedo, mas espaço acessível e educativo para brincar.

O Dom Antônio Barbosa, um dos bairros mais pobres da região sul de Campo Grande, que por muitos anos, abrigou também uma da maiores favelas da Capital – a Cidade de Deus –, ganhou parquinho infantil há um ano e meio. Única área pública com brinquedos para crianças, por lá, a vaga no balanço e vez no escorregador, muitas vezes, são disputadas “no tapa”, admitem as mães.

“É o único parque que tem e está sempre lotado. Parece um formigueiro. Dá briga entre as crianças, porque tem pouco brinquedo. Tinha de ter banheiro, bebedouro e o bairro tinha de ter mais opções. Mas se não fosse esse parquinho, hoje estaríamos dentro da casa, sentados, sem fazer nada”, conforma-se  Juliana Silva, 16 anos, mãe do Heitor, de 2 anos.

Também dona de casa, Geisiane Guerreiro, 22 anos, é outra mãe que conta com o único parquinho do Dom Antônio Barbosa para suas 4 crianças – de 8 meses, 3, 4 e 6 anos de casa. “Se não é aqui, eles ficam no quintal brincando com a reciclagem”, explica sobre a família trabalhar catando recicláveis pelas ruas da Capital.

“Já que tem só um, acho que deveria ser maior, ter manutenção com frequência. Eles [crianças] brigam para poder brincar”, confirma o relato de Juliana.

No Dom Antônio, como descreveu mãe, área de terra onde crianças brincam "parece formigueiro". (Foto: Kísie Ainoã)
No Dom Antônio, como descreveu mãe, área de terra onde crianças brincam "parece formigueiro". (Foto: Kísie Ainoã)

Levantamento feito pela Cufa (Central Única das Favelas) revelou que pelo menos 5 mil crianças moram em 26 favelas existentes Campo Grande. Duas centenas destes meninos e meninas vivem na Favela do Mandela, na região norte de Campo Grande. Conforme registro feito por Greicieli Naiara, líder da comunidade de 27 anos, as 175 famílias instaladas por lá, criam 240 crianças de 0 a 11 anos, que não tem qualquer opção de lazer por perto.

“Temos de ir para a praça do Estrela do Sul ou para a quadra do Jardim Presidente, porque aqui não tem”, explica Greicieli, que cria sozinha 3 filhos, de 4, 7 e 11 anos. “Tem também um projeto que traz café da manhã, brincadeira e peças de teatro aos sábados”, completa.

A dependência da caridade do grupo que leva “o brincar” para as crianças do Mandela, também é criticada por Lindalva Alves Feitosa, 33, mãe de duas meninas de 7 e 12 anos. Muitas vezes, os afazeres do dia a dia impedem que a mãe se desloque até o espaço de lazer mais próximo para acompanhar as filhas. “Não tem lazer, de vez em quando, a gente leva na praça, mas é longe. Elas não têm com que brincar”.

Hoje, o Dia das Crianças na favela começou suprindo com o item mais básico de todos e que tem dia que falta para algumas delas: a comida. Segundo a líder, o almoço da criançada hoje será galinhada, macarronada e feijão, com refrigerante à vontade.

Ação na Favela do Mandela começou com o principal: comida boa. (Foto: Kísie Ainoã)
Ação na Favela do Mandela começou com o principal: comida boa. (Foto: Kísie Ainoã)

A falta de espaços públicos seguros e educativos para os filhos das entrevistadas e tantos outros foi uma constatação do levantamento da Cufa. Segundo a psicóloga Tatiana Samper, que pertence à entidade, “quando a pergunta é o que essas mulheres gostariam que mudasse no bairro onde elas moram, a resposta é a mesma: parquinhos ou uma pracinha para que elas possam levar as crianças em segurança”.

“Isso evidencia que os espaços públicos de hoje não são pensados para as mulheres e para as crianças, ou mesmo não existem. É extremamente importante a existência desses espaços nas comunidades, pois eles criam sentimento de pertencimento e fortalecem os laços entre os moradores”, pontua Tatiana.

Ação – Neste 12 de outubro, o Campo Grande News passará o dia acompanhando iniciativas para levar diversão à crianças da periferia, mas há outros trabalhos que estão para acontecer ao longo da semana. A Cufa Campo Grande realizará no dia 16 de outubro (sábado) a ação Brincante, na “Alfhavela”, localizada no Jardim Caiobá, das 8h às 12h. Para colaborar, é só entrar em contato com a organização pelo (67) 99181-8142.

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