Diretoria de creche foi omissa sobre tortura de menino, diz delegado
Agressão que levou criança a ser internada no dia 23 de fevereiro poderia ter sido evitada
Um dos últimos a entrar na investigação sobre as torturas a um menino de 4 anos em rituais de magia negra, o depoimento de uma diretora de Ceinf (Centro de Educação Infantil) de Campo Grande revelou que as agressões que levaram o menino a ser internado em estado grave no dia 23 de fevereiro poderiam ter sido evitadas. A diretora da creche é mencionada no inquérito por omissão.
De acordo com o delegado Paulo Sérgio Lauretto, responsável pelo caso, no dia 16 de fevereiro a tia adotiva da criança teria levado o menino até a creche, sob pressão do conselho tutelar que exigia que ele frequentasse uma instituição de ensino. A diretora teria recusado recebê-lo ao ver machucados no rosto do menino, recomendando que a responsável procurasse um médico.
"Se, nesse momento, algum órgão de proteção tivesse sido acionado, nada disso teria acontecido", comentou Lauretto.
Segundo as investigações, a assistente social chegou a entrar em contato com a escola no dia 22 de fevereiro e, diante da explicação da diretora, resolveu fazer a vista surpresa à casa da família no dia seguinte, quando o menino foi encontrado machucado e encaminhado para a Santa Casa.
Lauretto afirmou, ainda, que não há indícios da participação de outras pessoas, além dos quatro suspeitos presos, nem que eles tenham feito outras vítimas. A adoção da criança pelo casal de tios, segundo o delegado, teria sido proposital para que ela fosse usada nos rituais de magia negra.
O inquérito, que tem cerca de 700 páginas, foi encerrado hoje e será encaminhado à 7ª Vara Criminal de Campo Grande.
Caso – Os tios do menino, a mãe da tia da criança e um primo de 18 anos foram presos suspeitos de torturar o menino de quatro em rituais de magia negra. A criança foi adotada pelo casal em maio do ano passado.
O caso que chocou a cidade veio à tona em 23 de fevereiro, após o Conselho Tutelar constatar queimaduras e marcas de espancamento pelo corpo do menino, que está internado na Santa Casa.
Os tios e o primo confessaram a violência e dizem que agiam sob influência de uma entidade. Caso sejam condenados, os suspeitos podem pegar de 5 a 13 anos de prisão. Eles serão indiciados pelos crimes de tortura duplamente qualificada, associação criminosa e corrupção de menores.