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Capital

"Disciplina" do PCC, réu nega envolvimento em execução: "entrei de gaiato"

Três réus estão sendo acusados pela morte de Vinícius Souza, morto a facadas por contato com Comando Vermelho

Silvia Frias e Bruna Marques | 26/10/2022 11:13
Josiel (listrado), Matheus (vermelho) e Lucas (branco), julgados por morte no Tribunal do Crime. (Foto: Marcos Maluf)
Josiel (listrado), Matheus (vermelho) e Lucas (branco), julgados por morte no Tribunal do Crime. (Foto: Marcos Maluf)

Três homens, acusados de integrar a “disciplina” do PCC (Primeiro Comando da Capital), estão sendo julgados pela morte de rapaz que foi sentenciado à morte por envolvimento com o CV (Comando Vermelho). Todos negam envolvimento na execução, mas dois deles admitem participação, mesmo que indireta. “Entrei de gaiato”, disse um dos réus.

Josiel Carneiro de Souza, 31 anos, o “Vingança”; Matheus de Jesus Correia, 21 anos, o “Matheuzinho” e Lucas Oliveira Emeliano, 23 anos, o “Parazinho”, estão sendo julgados pela morte de Vinícius de Souza Silva. A vítima foi sequestrada, teve os braços e pés amarrados e foi morto a facadas no banheiro de “cantoneira”, local do Tribunal do Crime. O corpo foi jogado em área de matagal, sendo encontrado cinco dias depois.

Delegado Carlos Delano (terno) explica como investigação chegou aos réus. (Foto: Marcos Maluf)
Delegado Carlos Delano (terno) explica como investigação chegou aos réus. (Foto: Marcos Maluf)

Os réus foram denunciados por homicídio qualificado por motivação torpe, sem chance de defesa da vítima e emprego, ocultação de cadáver, organização criminosa, sequestro e cárcere privado.

O crime aconteceu no dia 5 de julho de 2020. O rapaz havia saído de casa, no Jardim Centro-Oeste, para pegar carro emprestado e levar a filha ao médico. No caminho, encontrou os acusados, sendo levado para uma “cantoneira”, como é denominado o local onde ocorre o Tribunal do Crime, no Jardim Tijuca.

Na denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), consta que os três, acompanhados ainda de William da Silva Rampagni de Moraes, 21 anos, o “Lacoste” e mais um adolescente de 16 anos, conhecido como “Terror da Madrugada”, sequestraram Vinícius para que ele fosse submetido ao Tribunal do Crime do PCC. A acusação era de suposta ligação com o CV, facção rival.

Laudo pericial indica onde facadas atingiram a vítima. (Foto/Divulgação)
Laudo pericial indica onde facadas atingiram a vítima. (Foto/Divulgação)

No processo, consta que “Vingança” soube que o irmão da vítima era integrante do CV, o que indica a ligação da vítima com a facção inimiga.

Vinícius entrou no carro voluntariamente, por acreditar que estava sendo levado a conversa para integrar o PCC, como havia pedido várias vezes à alguns dos envolvidos. Na “cantoneira”, teve os pés e mãos amarrados e foi morto com facadas desferidas no tórax. O corpo foi encontrado somente no dia 10 de julho, em área de mata do Loteamento Rancho Alegre.

Investigação – O delegado Carlos Delano, titular da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio), prestou depoimento sobre o caso. Disse que investigavam o desaparecimento de Vinícius quando o corpo foi encontrado.

Vinícius de Souza Silva foi morto aos 21 anos, acusado de ter envolvimento com CV. (Foto/Reprodução)
Vinícius de Souza Silva foi morto aos 21 anos, acusado de ter envolvimento com CV. (Foto/Reprodução)

No boletim de ocorrência constava que o rapaz tinha sido levado por dois homens conhecidos como “Vingança” e “Lacoste”. Posteriormente, a PM (Polícia Militar) tinha informação de que pessoas envolvidas em homicídio estavam se escondendo em uma casa e preparavam-se para fugir. Nesse local foram presos Josiel e outro homem, o “Lacoste”, identificado como sendo William da Silva Rampagni de Moraes, 21 anos.

Todos os envolvidos foram presos entre outubro e novembro de 2020.

Depois de negar participação e até apresentar outro envolvido, “Lacoste” foi quem mais detalhou o momento da execução, em que foi taxativo ao dizer que o adolescente “Terror da Madrugada” que esfaqueou a vítima, que estava no banheiro.

Tanto “Lacoste” quanto “Vingança” falaram em depoimento que estavam sendo assediados pela vítima, que queria integrar o PCC.

Lucas observa delegado durante depoimento à Justiça. (Foto: Marcos Maluf)
Lucas observa delegado durante depoimento à Justiça. (Foto: Marcos Maluf)

O carro usado no sequestro pertencia à Lucas Oliveira, o “Parazinho”. A casa usada para execução era da mãe de Matheus de Jesus Correia, o “Matheuzinho”.

“William chegava chorar de medo nos interrogatórios, com medo da represália que ia sofrer por dar informações corretas para a polícia”, disse o delegado, durante depoimento.

Negativa – Os réus estava presentes no interrogatório e foram ouvidos pelo juiz da 2º Vara do Tribunal do Júri, Aluizio Pereira dos Santos.

Josiel Carneiro de Souza, o “Vingança”, disse que veio de Mato Grosso e está há sete anos em Campo Grande. Admitiu o apelido, mas negou envolvimento com PCC. “É aleatório, por causa de filme”, disse. Também disse que conhecia de vista “Lacoste”, mas não sabia quem era a vítima.

Porém, se contradiz em seguida, ao dizer que Vinícius o havia procurado, pois queria chegar nos integrantes do PCC. “Eu consegui o número, coloquei em contato, essa foi minha participação”, disse, lembrando que foi interpelado pela vítima pelo menos três vezes.

“Se eu falar que não participei, vou estar mentindo, mesmo sem intenção do desfecho que teve, tive participação sim”, admitiu o réu, explicando que foram pelo menos três pedidos para o contato.

No dia do crime, se lembrou que estava em frente de casa quando foi chamado por “Lacoste”, que pediu para que fosse até o Jardim Tijuca, juntamente com Vinícius. “Entrei lá dentro, fiquei 10 minutos e fui embora, fiquei sabendo que ele morreu quando eu fui preso”, afirmou. “Não posso falar quem matou porque eu não estava lá”.

No depoimento, voltou a negar envolvimento. “Entrei de gaiato, não tinha interesse em nada, foi um envolvimento paralelo”.

O outro réu, Matheus de Jesus Corrêa, o “Matheuzinho”, iria ficar em silêncio, mas acabou respondendo algumas perguntas. Disse que era de Corumbá e mora há 10 anos em Campo Grande. De resto, negou tudo. “Não conheço Josiel, Lucas eu conheço de vista do bairro, William eu conheço. Não conheci o Vinícius”.

Corpo foi encontrado em área de matagal. (Foto/Reprodução)
Corpo foi encontrado em área de matagal. (Foto/Reprodução)

O terceiro réu a depor, Lucas Oliveira Emiliano, o “Parazinho”, disse que emprestou o carro para os envolvidos, a pedido do irmão de Matheuzinho, mas não sabia o que estava acontecendo. “O Lacoste chegou em mim e falou o que era”, porém, sem detalhar. “Me assustei porque nunca me envolvi nessas caminhadas. Aí eu deixei o carro pra eles e voltei pra minha casa”. Também diz que não deixaram que entrasse na casa.

 O réu afirmou ter pego o carro dois dias depois. “Sem saber emprestei meu carro para um crime”, afirmou. “Fiquei sabendo que ele morreu quando fui preso”.

Julgamentos – William da Silva Rampagni de Moraes, o “Lacoste”, foi preso em outubro de 2020, mas foi solto semanas depois. Depois, teve a prisão decretada, sendo cumprida em setembro de 2022. Recorreu da pronúncia e ainda aguarda decisão para julgamento.

O adolescente de 16 anos que desferiu os golpes, conhecido como “Terror da Madrugada”, foi julgado por ato infracional aos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver, sequestro e organização criminosa. Em decisão de outubro de 2020, foi determinada a internação na Unei Dom Bosco, por prazo indeterminado. No processo não consta a situação atual dele, hoje, com 18 anos.

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