Distantes 9 km, áreas mais cara e mais barata têm abismo de R$ 350 mil
A Campo Grande de Vanessa tem asfalto só na linha de ônibus, e escola e serviços de saúde ficam bem distante de casa. Na cidade de Elaine, todas as ruas são pavimentadas, a localização é perto de tudo e a coleta seletiva passa uma vez por semana.
Vanessa Santos, 33 anos, é dona de uma mercearia no Bairro Nova Serrana, nos limites do perímetro urbano da Capital. Elaine Guimarães Reis, 31 anos, mora na Chácara Cachoeira, uma das regiões mais valorizadas de Campo Grande.
A distância entre os dois bairros é de nove quilômetros. Mas quando se fala em valor de área, abre-se um abismo. No primeiro bairro, na região do Noroeste, saída para Três Lagoas, um terreno custa R$ 17 mil. Na Chácara Cachoeira, o lote custa a partir de R$ 367.500.
O Nova Serrana é endereço de Vanessa há 10 anos. Há uma década, ela pagou mil reais por uma casa com duas peças. O asfalto chegou ano passado, por ser caminho do transporte coletivo. Mas ainda é preciso ir ao Jardim Noroeste para estudar ou receber atendimento médico. Em tanto tempo, uma paisagem não mudou. Um terreno baldio continua a ser o seu vizinho da frente.
Depois de passar por São Paulo, Minas Gerais e Goiás, Elaine mora há sete anos em Campo Grande, sempre na Chácara Cachoeira. Ela está no atual endereço há cinco anos. À época investiu R$ 180 mil. Hoje, no entorno, há imóveis que ultrapassam R$ 1 milhão.
No bairro chique, câmeras de vigilância, cerca elétrica e portões reforçados afugentam invasores. Falta ainda é um recurso que intimide os ladrões de rosas, que “atacam” o jardim que ornamenta as calçadas.
Estigma e vocação para elite - Na ponta de baixo do ranking imobiliário, a região do Jardim Noroeste sofre a influência de ser longe do Centro e o estigma de ficar no entorno do complexo penitenciário.
De acordo com o presidente do Sindimóveis (Sindicato dos Corretores de Imóveis), James Antônio Gomes, os terrenos mais baratos da cidade são encontrados nos fundos do bairro Noroeste, Jardim Inápolis (saída para São Paulo) e no Parque Atlântico, próximo ao balneário. “O lote de 360 metros custa de R$ 17 mil a R$ 20 mil”, afirma.
No topo dos preços, aparecem o Jardim dos Estados e a Chácara Cachoeira. No primeiro, o metro quadrado custa R$ 800. No segundo, o valor é de R$ 700. Nas imediações da Afonso Pena, o Jardim dos Estados sempre teve vocação para o luxo. “Primeiro que é do lado do Centro da Cidade. Era endereço dos fazendeiros, pessoas com muitas posses”, salienta James Gomes.
Depois, com o crescimento da cidade, o bairro foi se projetando como área comercial. Na Chácara Cachoeira, o atrativo é o tamanho do lote, que foge ao padrão de 360 metros.
“O terreno é bem mais interessante para se fazer mansões ou casas de grande porte”, afirma o presidente do Sindimóveis. A área é de 525 metros. Levando em consideração que metade do terreno pode ter edificação, pode-se construir em até 262,5 metros, valor que se amplia verticalmente no caso dos sobrados.
“Está também do lado de cima da avenida Afonso Pena e tudo que está perto tem maior valorização em Campo Grande”, analisa James Gomes.
Valorização e ações do poder público têm relação de dependência. “O que faz a valorização são as benfeitorias na área. Asfalto, colégio, energia elétrica, posto de saúde”, enfatiza o presidente do Secovi (Sindicato da Habitação), Marcos Augusto Netto.
O valor de ser centro – Na liderança de onde é mais caro para se morar em Campo Grande não há consenso. Para o presidente da CVI-MS (Câmara de Valores Imobiliários), Ronaldo Ghedine Ribeiro, o preço do metro quadrado na região central, como 14 de Julho e 13 de Maio é insuperável. Mas lá, as oportunidades de comprar terreno surgem quando os imóveis são postos a baixo.
“Há dois anos, já teve negócio em que o metro quadrado saiu por R$ 3.500”, afirma Ronaldo Ribeiro, sobre o quanto pode ser dispendioso custear um imóvel no “coração” da cidade.
Da janela do apartamento em que mora há seis anos, em frente à Praça Ary Coelho, o economista Eugênio da Silva Pavão, 46 anos, convive com as dores e as delícias de um endereço tão concorrido. Para ele, o fim de semana começa às quintas-feiras. “De segunda a quarta-feira, de cada 10 carros, um passa com o som alto. De quinta a domingo, de cada 10 carros, um passa com som baixo”, diz.
Por outro lado, há a comodidade de morar perto da área comercial, com farmácias, bancas de revistas e lojas sempre do lado. Com a retirada das vagas de estacionamento do canteiro central da Afonso Pena, o economista assiste, a contragosto, os imóveis serem derrubados para se transformarem em áreas para os carros. “Muitos imóveis na região estão sendo demolidos para virar estacionamento”, reclama.
Crescer para dentro - Para quem acompanha de perto a expansão imobiliária, resta uma certeza: Campo Grande soube crescer. “É fruto da política da Prefeitura, que há 16 anos, determina a ocupação das áreas dentro do perímetro. Se não, seria uma cidade monstruosa”, afirma o presidente da CVI, Ronaldo Ribeiro. O poder público estabelece regras de ocupação, evitando o adensamento populacional somente em determinadas regiões.
“Há 20 anos, todo loteamento tem que ter infraestrutura básica, com água, demarcação de lote e abertura de ruas. Isso é muito importante”, afirma o presidente do Secovi.
Marcos Augusto Netto explica que a Lei do Uso do Solo priorizou o “crescer para dentro”, ou seja, só expandir depois de preencher os vazios urbanos. “Tudo isso faz com que a cidade tenha mais harmonia”, diz.
Para o dirigente do Secovi, uma característica ainda marca a identidade da cidade que chega aos 114 anos no dia 26 de agosto. A região dos quartéis, na saída para Aquidauana, é a que cresce menos. Enquanto os limites da área urbana se alarga para o lado Leste, na saída para Três Lagoas.