Em bairro onde manga caíndo dá susto, moradora fala do pavor ao socorrer baleado
Na semana passada, mulher foi quem prestou os primeiros socorros para caminhoneiro vítima do falso frete
“A manga cai ali do lado e a gente já acha que é alguma coisa”. Ainda com o susto fresco na memória de ter um homem baleado no quintal, Sandra Ribeiro dos Anjos conta que não esquece a imagem do caminhoneiro desde a última quinta-feira (24). Ela foi quem prestou os primeiros socorros para a vítima do falso frete, na Rua Ênio Cunha.
Trinta anos no Jardim das Perdizes não fizeram com que Sandra se mantivesse mais firme quando viu o caminhoneiro, de 39 anos, sangrando na porta de casa. Pavor, pressão subindo e diabetes disparada foram os primeiros resultados da situação.
Ele veio atravessando rua e pingando sangue, aquela loucura sem conseguir falar, cansado e suando bastante. A camiseta estava ensopada.
Toda a movimentação aconteceu depois das 16h, quando o sol ainda estava no céu, como Sandra se lembra. “Eu estava tranquila com minha filha e minha neta quando, de repente, ele apareceu pedindo por socorro. Foi um susto, ele com sangue e aqui tudo aberto”.
Sem muros, a casa de Sandra foi o ponto de ajuda inicial para o motorista baleado. Cerca de 170 metros separam o “Buracão”, na Rua Ênio Cunha, entre a Chain Jorge e Antônio Pedro Estefan, até a casa da moradora que fica na mesma via.
Acostumada com ocorrências variadas no bairro, Sandra explica que por ali já aconteceu muita coisa fora da lei.
Essa foi a vez mais assustadora, mas já teve esfaqueamento, morte, assalto, gente sendo espancada, apedrejada porque estava envolvida com droga. Só que agora foi diferente porque parou aqui.
Minutos antes do aparecimento inesperado, a moradora diz que escutou o barulho dos tiros, mas imaginou ser adolescentes com bombinhas. “Depois minha filha viu o caminhão passando bem rápido aqui na frente, até comentou sobre o perigo da velocidade. Um pouquinho depois o motorista apareceu, entrando no meu quintal e tentando ir para dentro da casa”.
Relembrando, ela conta que depois de ver a roupa ensanguentada, a atenção se virou para a mão inchada. “Parecia que a bala estava alojada porque sangrava muito e foi aumentando o tamanho. Ele gaguejava muito, não conseguia falar direito, mas disse que tinha sido atingido por tiros”.
Acompanhada da nora, Sandra disse que a primeira parte da sorte dela e do homem foi justamente a presença da mulher na casa. “Ela vem me ver pela tarde e conseguiu ajudar porque eu fiquei tonta, não conseguia nem salvar ele depois do susto. Ela estancou o sangue até aparecer a polícia”, explica.
Eu tentando me acalmar também precisei sentar em uma cadeira porque fiquei mole. Aí fizemos ele sentar também porque estava muito pálido. Minha filha chamando polícia de um lado, minha nora ajudando e tentando pedir salvamento.
Depois de pensar sobre toda a história, Sandra diz pensar que a segunda etapa da sorte do homem foi justamente o problema de renda da moradora, “se eu tivesse conseguido colocar muro aqui, vai saber o que ia acontecer. Se aqui não fosse aberto, quem ia socorrer ele?”.