Em culto, pastor nega desvio: "ganhei a Land Rover"
Denilson Fonseca, líder da Aliançados, se defendeu em culto das acusações de desvio e perseguição
O apóstolo Denilson Fonseca, líder da Comunidade Cristã Aliançados, com sede em Campo Grande, usou a parte final do culto deste domingo (1º) para se defender das várias acusações que vem recebendo nos últimos dias, inclusive de desvio de dinheiro levantado pela igreja.
A reportagem do Campo Grande News esteve no culto, que durou cerca de duas horas, de modo que após a celebração houve a conversa com os membros presentes. Essa parte não foi transmitida ao vivo pelas redes da Aliançados, como é feito no culto em si.
Durante sua explanação, Denilson não citou o nome de ninguém que o denunciou ou de veículos de comunicação que publicaram matérias sobre ele, falando sobre as denúncias de forma genérica, sendo mais objetivo em breves momentos. Em algumas oportunidades, o apóstolo deu conotação espiritual às denúncias, afirmando que tais relatos são provações à fé dos fiéis.
O primeiro ponto defendido por Denilson foi sobre seu patrimônio, mais especificamente sobre o fato de ter um carro de luxo da marca Land Rover e uma casa em um condomínio de alto padrão na Capital.
Sobre o carro, Denilson afirma ter sido presente de duas pessoas que, inclusive, estavam no culto e tiveram os nomes citados. "Eu cheguei lá na loja e estava o laço lá, eles me deram de presente. E que Deus multiplique mais e mais na vida deles. O mais interessante é que ele não tentou me comprar com o presente. Eu falei para ele: isso aqui vai ser impedimento de pastorear você, se for eu não quero".
Sobre a casa em um condomínio de luxo, Denilson explicou que chegou a Campo Grande em 2016 com 17 terrenos e duas casas em São Paulo e, depois de conhecer a cidade, comprou uma casa à vista no bairro Vilas Boas, que posteriormente foi usada, junto de duas cartas de crédito e um carro, para comprar a casa no condomínio.
Em seguida, Denilson autorizou que uma das pastoras presentes, que cuida do imposto de renda dele, mostrasse sua declaração a quem tivesse interesse. Ele afirma ser pastor voluntário na igreja e não recebe nada. "Muito pelo contrário, quando a igreja precisa eu faço aporte do meu bolso".
Na sequência, apóstolo convida toda a equipe administrativa da Aliançados, composta por seis mulheres, e um membro da equipe jurídica, para subir ao palco. Ele pediu para que uma representante da equipe administrativa falasse aos presentes se ele possuía alguma senha de banco ou tinha algum tipo de interferência na arrecadação e contabilidade da igreja.
A porta-voz prontamente diz que não e explicou brevemente como funciona a parte administrativa. "O apóstolo não tem nenhum acesso. Quem programa as datas, os dias, sou eu junto da equipe e mais membros. Tudo é feito em conjunto".
Ela também ratificou a afirmação anterior do apóstolo de que ele faz aportes em momentos de necessidade da Aliançados. "Nós temos algumas datas de pagamentos a serem cumpridas e quando, muitas vezes, não temos saldo, eu comunico a ele e ele faz o aporte para que a gente possa cumprir com as nossas obrigações".
Este foi o gancho para Denilson admitir que as inúmeras matérias publicadas desde o ano passado sobre a Aliançados têm causado a evasão de fiéis. "Com tudo isso que aconteceu no ano passado, com aquelas matérias fraudulentas, muitas pessoas foram embora. Nós tínhamos um orçamento e quem ficou, ficou com a pulga atrás da orelha, deixou de dizimar, quem dizimava R$ 10 passou a dizimar R$ 5. Eu não tenho vergonha de falar. Porém, nossas contas estão rigorosamente em dia".
A palavra, na sequência, foi passada ao membro do setor jurídico, que foi questionado sobre o estatuto da igreja. "No estatuto diz que tudo que envolve questões financeiras precisa primeiro da autorização de toda a diretoria e sua assinatura juntamente com a da primeira tesoureira".
Esse foi outro ensejo para Denilson falar sobre o assunto que mais tem dado repercussão, a tentativa de comprar um terreno da TIM, ao lado da sede atual, na Avenida Mato Grosso, que é alugada.
O Campo Grande News noticiou no começo de agosto o imbróglio judicial envolvendo o terreno. A ação de rescisão de contrato foi proposta inicialmente pela igreja, que tenta cancelar e reaver R$ 4 milhões já pagos na negociação acordada em R$ 13,5 milhões. No contragolpe, a TIM pede, no mesmo processo, o pagamento de R$ 3,366 milhões, por multa contratual, pagamentos de contas de água, luz e IPTU e indenização pela “perda de chance” da venda da área. Depois disso, teve até boletim de ocorrência com denúncia de falsificação de documentos.
"Por que eu quis comprar este terreno? Porque eu choro para gente ter nossa casa própria. Eu não vou desistir de ter nossa casa própria. Amados, isso aqui é alugado, temos um contrato, mas se o dono quiser de volta, para aonde a gente vai?".
Denilson cita trecho da matéria do Campo Grande News para falar mais especificamente sobre a denúncia de que tentou usar a compra do terreno para desviar terreno para si. Um advogado, ex-membro da Aliançados, que não quis se identificar, denunciou que nunca houve a intenção de obter realmente o terreno da TIM, a intenção sempre foi tentar a devolução para ficar com o dinheiro. Segundo ele, foi montado um estratagema onde o dinheiro levantado via consórcio para pagamento do terreno da TIM, avalizado por outro membro da igreja com capital o bastante, retornaria para as mãos de Denilson após a devolução do terreno.
"Queridos, para fazer a compra da TIM não foi a gente aqui, tinha um grupo chamado Master. Estavam presentes vários pastores, 20 cabeças. Inclusive, até o homem que deu a entrevista fazia parte. Então o terreno segue na Justiça e estamos em vantagem, mas eles preferem falar que foi um golpe para eu pegar o dinheiro. Não tem cabimento. Um homem que passou pelo vale da sombra da morte há quatro anos, vocês acham que eu brincaria de pegar o dinheiro da igreja?".
Por fim, o líder falou sobre a acusação de ex-pastores de que tem um comportamento hostil com quem não quer mais estar na igreja, inclusive com constrangimentos públicos. Para tanto, ele recorreu a algumas dezenas de pastores presentes, de várias unidades.
Pediu que para que eles se levantassem e perguntou se eles já testemunham ou foram vítimas de algum comportamento agressivo, ao que foi respondido que "não" por todos.
Denúncia de expulsão abusiva - O caso de maior destaque que foi a ponta do fio puxado para outras histórias aparecerem é do pastor Paulo Cesar Lemos. Ele divulgou um vídeo no começo desta semana em seu perfil no Instagram, onde narra uma série de situações que passou ao longo de cinco anos como pastor na Aliançados, que desaguou em sua expulsão durante uma reunião com líderes da igreja.
Paulo entrou com duas ações na Justiça, uma trabalhista, pelos direitos alegados enquanto atuou na igreja, e uma por danos morais, por conta da modo como foi tratado na reunião que o expulsou. Os processos correm em segredo de Justiça.