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Capital

Em rua do Centro, lixo e urina incomodam moradores há meses

Quem trabalha e mora na Rua Joel Dibo diz não aguentar mais sujeira acumulada, além de relatar insegurança

Geniffer Valeriano e Antonio Bispo | 21/09/2023 17:45
Moradores de rua indo em direção ao Centro Pop (Foto: Henrique Kawaminami)
Moradores de rua indo em direção ao Centro Pop (Foto: Henrique Kawaminami)

Intensa movimentação de moradores de rua e dependentes químicos preocupa comerciantes da Rua Joel Dibo, na região central de Campo Grande. Quem trabalha e mora na região relata que com frequência as calçadas são tomadas por lixo e pessoas chegam a urinar nas portas das casas. Em julho, a reportagem esteve no local e a situação era a mesma.

No local funciona um unidade conhecida como POP (Centro de Referência Especializado à População em Situação de Rua). A principal função é abrigar pessoas que são consideradas moradoras de rua. Ao dar entrada em uma unidade, o cidadão tem a oportunidade de participar de uma série de ações voltadas a melhorar sua condição social.

A vizinhança acredita que a falta de solução para a questão social retratada no entorno esteja gerando insegurança e até suspeitas de crimes.

Há dois meses, o mecânico Fabiano de Oliveira, de 41 anos, conversou com o Campo Grande News e agora em nova entrevista disse não ter esperanças de mudança. Há três meses a oficina dele foi assaltada. Cercas elétricas foram instaladas no local. “Eles não respeitam ninguém aqui na rua. Tem muita mulher idosa que mora aqui, que quando sai para passear com os cachorros, eles tão urinando na rua sem se importar com nada”, disse.

Lixo continua acumulado mesmo após limpeza (Foto: Henrique Kawaminami)
Lixo continua acumulado mesmo após limpeza (Foto: Henrique Kawaminami)

O mecânico diz que a GCM (Guarda Civil Metropolitana) foi proibida de abordar dependentes químicos na Rua Joel Dibo após uma assistente social denunciar os guardas.

Fabiano ainda relata que a rua chega a ficar com sofás, barracas e muita sujeira, a prefeitura faz a limpeza e depois o lixo volta a ser espalhado pela calçada.

Proprietária de uma loja que conserta eletrônicos, Cristiane Lorasche, de 50 anos, relata que perdeu muitos clientes.

“Antes eles só iam ao Centro pop, se alimentavam e iam embora. Mas há alguns meses, passaram a morar na rua e agora atrapalham a vida de quem mora e trabalha na rua [...] Parece que a rodoviária fechou e eles vieram pra cá. Não tem sossego. Vem incomodar a gente. Se não dá dinheiro, xingam”, relata.

A empresária também foi furtada. Apesar de conseguir recuperar alguns aparelhos levados, Cristiane diz que perdeu base de dados dos clientes. Agora, ela tenta recomeçar. Reforçou a segurança na loja com a instalação de grades na porta, alarme e câmeras.

Comerciante colocou grades em suas portas (Foto: Henrique Kawaminami)
Comerciante colocou grades em suas portas (Foto: Henrique Kawaminami)

Proibições - A GCM (Guarda Civil Metropolitana) afirmou que não há registro sobre proibição de atuação na Rua Joel Dibo, no âmbito de revista pessoal ou outro tipo de abordagem.

Sobre os problemas de furtos que vem ocorrendo na região, foi dito que os dados são repassados para o comando da Guarda. Quando ficam a par da situação, é definida qual a intervenção mais apropriada. “O que o cidadão deve fazer é, se vítima de furto, acionar o 153, número da GCM, o 190, número de atendimento da Polícia Militar, e registrar o Boletim de Ocorrência”, diz a nota da GCM.

Assistência - Para o Campo Grande News, o secretário de Assistência Social, José Mário Antunes, comentou que os moradores de rua e dependentes químicos sofrem muito preconceito. Isso acaba se refletindo até na hora de conseguirem alugar um prédio para realizar o acolhimento desse público.

“Em qualquer lugar que fosse levar o Centro POP ninguém quer. É uma população completamente excluída da sociedade. É uma população invisível, ninguém quer, ninguém quer saber de acampamentos próximos às suas casas. Em qualquer lugar que você coloca Centro POP, ninguém quer. É uma situação bastante complicada para essa população. É uma rejeição total a essa população, infelizmente”, disse.

Ainda foi explicado para a reportagem que a única ferramenta da assistência social no acolhimento desta população é o convencimento. Assim, não podendo forçar nenhum morador de rua a ir para o Centro POP ou para alguma clínica de reabilitação.

Nós fazemos um mapeamento da cidade onde se concentra o maior número de pessoas em situação de rua. A gente percorre essas vias oferecendo acolhimento e às vezes, no mesmo dia, a mesma pessoa é abordada até cinco vezes por equipes diferentes, mas nós temos que ter o ok da pessoa, concordância e ela aceitar ou não o acolhimento”, explicou o secretário.

José Mário Antunes ainda lista as dificuldades dos dependentes químicos para lidar com regras, o que faz com que essas pessoas não permaneçam muito tempo nos acolhimentos.

"Se eles estão sob efeito de substâncias droga, eles já falam não, que não aceitam, entendeu? E se tornam agressivos, inclusive, quando eles estão sob efeito de drogas, eles agridem até as nossas equipes mesmo que ninguém esteja ali para levar forçadamente, mas só pelo fato de você insistir eles acabam se irritando, entendeu? Se irritam e partem pra cima”, conta.

Quando a pessoa abordada aceita o acolhimento ofertado, nos casos mais graves, ela é encaminhada para o CAPS (Centro de Assistência Psicossocial), onde passa por uma primeira desintoxicação. Posteriormente, elas são encaminhadas para o abrigo ou para uma das unidades terapêuticas conveniadas.

Centro POP é um dos locais onde o acolhimento acontece (Foto: Henrique Kawaminam)
Centro POP é um dos locais onde o acolhimento acontece (Foto: Henrique Kawaminam)

“Ali [no Centro POP] também é feito um trabalho de localização dos parentes familiares. Essa pessoa muitas vezes é alguém que vem de fora. A gente vê muitos que vêm de São Paulo, gente que vem do Rio, gente que vem de Rondônia e Goiás e aí a gente procura, então através das entrevistas, até dos nossos psicólogos e assistentes sociais, localizar os familiares para saber se eles querem os entes queridos de volta. Eles aceitando, a gente faz o encaminhamento dessa pessoa para os seus familiares, mas desde que a família aceite. Se não quiser o ente querido, a gente não manda”, explicou o secretário.

Ainda foi relatado pelo secretário que a maior parte dos parentes desses dependentes químicos acaba rejeitando a pessoa acolhida. Dentre os motivos ouvidos está o cansaço de quem já tentou por muitas vezes ajudar o familiar e acabou tendo o vínculo familiar rompido.

Pensando nessa situação e tentando reintegrar essas pessoas à sociedade, as unidades de acolhimento também contam com atividades que promovam a capacitação profissional deste público. Com apoio da Funsat e empresas parceiras, as vagas de emprego são separadas para eles.

Para a reportagem, a Sesau informou que não possui um número exato de pessoas em situação de rua, pois esta população é flutuante e uma boa parcela é migrante. Somente no primeiro semestre deste ano, o Consultório na Rua, trabalho realizado pela secretaria, realizou mais de 2,5 mil atendimentos.

“O Consultório na Rua é um serviço ligado à Atenção Primária em Saúde, sendo uma política do Ministério da Saúde. O serviço foi instituído em Campo Grande em 2013. O trabalho consiste em levar atendimentos básicos de saúde à população em situação de rua, fazendo a vinculação destas pessoas tanto à equipe quanto a uma unidade de saúde que possa realizar o acompanhamento posterior e a articulação com equipamentos disponibilizados por outras instituições, como a Secretaria de Assistência Social (SAS)”, explica a nota recebida.

Durante o trabalho, são oferecidos atendimentos médicos, de enfermagem e também testes rápidos e tratamentos de IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis), além da redução de danos. O serviço também faz a distribuição de cobertores e produtos de higiene.

A principal dificuldade encontrada é fazer a abordagem destas pessoas, no entanto, a equipe se utiliza da experiência e protocolos para que essa aproximação seja possível, sendo necessário, em alguns casos, até mesmo fazer o contato inicial com as 'lideranças' do território”, encerrou a nota.

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