Empresa de vendedor de queijos ficava em saleta quando fez contrato milionário
Já a MS Brasil Comércios e Serviços, que também aluga maquinário, fica em sede sem pátio
Dona de contratos de R$ 224 milhões com a Prefeitura de Campo Grande e alvo da Operação Cascalhos de Areia, a empresa JR Comércio e Serviços LTDA funcionava em uma saleta, numa galeria da Rua Spipe Calarge, na Vila Carlota, quando foi contratada para alugar máquinas pesadas, caminhões, veículos leves e equipamentos.
A contratação pela Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) foi oficializada em 9 de junho de 2017, no valor de R$ 34,6 milhões. Com aditivos e prorrogação até agosto de 2023, o total de somente um dos contratos subiu para R$ 219,7 milhões.
Nesta segunda-feira (dia 19), a reportagem esteve no endereço informado no contrato. De lá, só restaram duas fotografias, disponíveis na internet, que mostram que a empresa funcionou onde atualmente se localiza empresa de informática. A reportagem foi informada de que é comum baterem no endereço em busca da JR Comércio, inclusive por pessoas que se identificam como da prefeitura.
Na Receita Federal, o endereço da empresa é a Rua Fernando Rei, Jardim Monte Alegre. O GPS nos leva até um terreno. Já a Operação Cascalhos de Areia localizou um imóvel.
Oficialmente, conforme informado à Receita, a JR Comércios e Serviços tem como proprietário Adir Paulino Fernandes, de 65 anos, que informou ter renda mensal de R$ 2.500 com a venda de queijos.
Já o contrato com a Sisep foi assinado por Jeferson Benites Cardoso, representante comercial.
MS Brasil – Em segundo lugar no ranking de valores de contratos, a MS Brasil Comércios e Serviços também foi contratada para a locação de maquinário e caminhões. Ao todo, o serviço soma R$ 117 milhões.
Tanto na Receita Federal quanto nos documentos da prefeitura, a empresa tem o mesmo endereço: Rua Quintino Bocaiúva, Jardim Paulista. No local, cercado por residências, a reportagem encontrou a MS Brasil de portas abertas.
O Campo Grande News questionou o fato de uma empresa que loca maquinários e veículos não ter pátio. A informação foi de que os equipamentos são locados ao município e ficam em prédios públicos.
A empresa é de Edcarlos Jesus Silva, que não estava no local.
Engenex – A reportagem foi a endereços que a Engenex Construções e Serviços, dona de contratos de R$ 37 milhões para manutenção de vias sem asfalto, informou à Receita Federal e à prefeitura, mas não conseguiu localizar a empresa.
A primeira parada foi em um imóvel na Rua Arraia, Bairro Lagoa Dourada, que sedia quatro empresas. Pelo interfone, a reportagem recebeu a informação de que a Engenex se mudou há dois anos.
O endereço informado à Receita Federal é Rua Fernando Rei, Jardim Monte Alegre, mesma rua onde fica a JR Comércio, mas a empresa não foi localizada.
Os documentos sempre eram assinados pelo empresário Mamed Dib Rahim, no papel de representante. Mas, em 12 de maio de 2021, a empresa mudou a razão social e o último aditivo foi assinado por Edcarlos Jesus Silva, dono da MS Brasil e Comércio.
Na Receita Federal, os donos da Engenex são Edcarlos Jesus Silva e Paulo Henrique Silva Maciel. A empresa foi aberta em 2011 e tem capital social de R$ 950 mil. A principal atividade é a construção de prédios.
A empresa tem 38 atividades secundárias, como paisagismo, limpeza, locação de mão de obra, aluguel de máquinas, coleta de resíduos e construção de rodovias. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos citados.
ALS – A Operação Cascalhos de Areia também investiga as empresas AL dos Santos e Cia e ALS Transportes. A primeira fica localizada na Avenida João Arinos, perto da entrada para o Parque dos Poderes, e tem grande pátio com veículos e maquinários.
Já a ALS Transportes informou à Receita Federal que está no Jardim Paulista. No endereço, a reportagem encontrou uma residência, onde a moradora disse que reside há 20 anos e que comprou o imóvel do pai do proprietário da ALS.
A Operação Cascalhos de Areia investiga crimes de peculato, corrupção, fraude à licitação e lavagem de dinheiro, relativos a contratos para manutenção de vias não pavimentadas e locação de maquinário de veículos.
A ação foi realizada pela 31ª Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social de Campo Grande, Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção), com apoio do Batalhão de Choque da Polícia Militar.
A Prefeitura de Campo Grande divulgou manifestação sucinta sobre a Operação Cascalhos de Areia. “O Município permanece à disposição para qualquer esclarecimento ou fornecimento de informações necessárias aos entes do processo”.