Entre emoção e revolta, família de vereador pede pena máxima em júri
“Seu marido sai de casa para viajar a serviço e volta no caixão. É bastante desesperador”, diz esposa
Um ano e quatro meses depois do assassinato do então presidente da Câmara Municipal de Alcinópolis, Carlos Antônio da Costa Carneiro, a família do vereador, reunida na 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, pede pena máxima para o pistoleiro e o contratante da execução.
Hoje, sentam no banco dos réus Irineu Maciel, preso logo após balear o vereador, e Valdemir Vansan, apontado como contratante da execução. “O desejo da nossa família é a pena máxima e, mesmo assim, não vai pagar o mal que causou às filhas, à família e a esposa”, afirma Nara Simone Silva Carneiro, de 38 anos. Ela era esposa do vereador, com quem teve três filhas, atualmente com 19, 12 e 11 anos.
Nara relata que o julgamento faz passar um filme em sua cabeça. “Seu marido sai de casa para viajar a serviço e volta no caixão. É bastante desesperador”, diz.
Pai de Carlos Antônio, Alcino Carneiro, fundador de Alcinópolis, se mostrava emocionado. “A gente confia em Deus e na Justiça. Quero que peguem 20,30 anos de cadeia”, afirma.
Para Helder Costa Carneiro, de 43 anos, irmão da vítima, é o começo do fim. “Faltam outros para serem julgados e espero que seja logo. Meu irmão morreu por causa de política, é uma coisa absurda”, lamenta.
O vereador foi morto em 26 de outubro de 2010 na avenida Afonso Pena, próximo ao Hotel Vale Verde, em Campo Grande. Irineu foi preso em flagrante por policiais civis que passavam no local logo após o crime.
Ele foi levado ao local da execução na garupa da moto de Aparecido Souza Fernandes, que também foi preso, mas recorre para não ir a julgamento. A família sempre apontou o caso como um crime político.
Em julho do ano passado, foram presos três vereadores e o prefeito de Alcinópolis. Todos já estão em liberdade, mas o prefeito foi afastado e a prefeitura está sob o comando de Alcino Carneiro, que era vice.
Réus - Conforme a denúncia, Irineu e Valdemir agiram por motivo torpe, diante da promessa de receber recompensa, e utilizaram recurso que dificultou a defesa da vítima.
Ainda na delegacia, Irineu disse que receberia R$ 20 mil, sendo R$ 3 mil adiantados, pelo crime e que o revólver calibre 38 lhe foi entregue pelo cunhado. O acerto era para “fazer uma pessoa”, cujo nome foi repassado por Valdemir.
Em interrogatório diante do juiz, Irineu deu uma nova versão para o crime. De acordo com ele, o motivo foi vingança porque o vereador o teria humilhado. O pistoleiro também afirmou ser dono da arma utilizada na execução.
Crime político – Em julho do ano passado foram presos o prefeito de Alcinópolis, Manoel Nunes da Silva (PR), os vereadores Valter Roniz (PR), Enio Queiroz (PR) e Valdeci Lima (PSDB), o comerciante Ademir Luiz Muller e a funcionária da prefeitura Jurdete Marques de Brito.
À época, a Polícia afirmou que as novas prisões eram para identificar o mandante do crime. A justiça aceitou denúncia contra os vereadores, que vão responder pelo crime e podem ir a júri popular.
Mesmo afastado da prefeitura, Manoel Nunes da Silva tem direito a foro privilegiado e só pode ser processado pelo TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul). O tribunal aceitou a denúncia, mas a defesa do prefeito recorreu.