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Capital

"Era agressivo": filha descreve horror vivido por mãe antes de tortura e morte

Chorando, jovem afirma que tentou tirar mãe do convívio com o autor, Adailton, julgado hoje por feminicídio

Dayene Paz e Bruna Marques | 21/11/2022 10:48
Érika, filha de Franciele, foi ouvida em júri. (Foto: Paulo Francis)
Érika, filha de Franciele, foi ouvida em júri. (Foto: Paulo Francis)

A primeira vez que Érika Guimaraes Alcantara de Jesus viu a mãe ser agredida por Adailton Freixeira da Silva, de 46 anos, foi aos seis anos de idade. "Bateu nela com uma marreta", descreve. A cena fica na memória da jovem junto com as tentativas, em vão, de resgatar a mãe, Franciele Guimarães Alcântara, de 36 anos, torturada e morta por asfixia, em janeiro deste ano, em Campo Grande.

Érika foi ouvida em júri que irá decidir sobre o futuro de Adailton Freixeira, na manhã desta segunda-feira (21). Chorando muito, ela contou sobre os episódios de violência e tentativas de resgatar a mãe da casa onde ela vivia com Adailton, no Bairro Portal Caiobá. "Ele era bem agressivo. Da vez que bateu com a marreta, minha mãe me levou até a cozinha porque fiquei muito assustada. Ela pediu para eu ficar calma e que iria ficar tudo bem", lembra.

Além das agressões físicas, a mulher era xingada constantemente. "Xingava de demônio, estrupício, que não prestava para nada. Quando eu comecei a crescer e ter noção das coisas, pedi para a minha mãe separar dele". Adailton trabalhava fora e quando chegava em casa, Érika saía. "Toda vez que ele voltava, eu ia para casa das minhas amigas", conta.

Essa rotina se estendeu até Adailton mandar Érika embora. Foi quando as agressões contra Franciele passaram a ser constantes e na presença dos outros filhos. "Meu irmão via e não fazia nada. Quando ela disse que iria ao hospital, sumiu", lembra. Nessa época, Franciele pediu a separação e foi morar com outro homem, mas começou a ser ameaçada. Além disso, Adailton teria feito ameaças à filha do, então, atual companheiro e por esse motivo, retornou ao convívio com o agressor.

Em uma das vezes que foi até a casa da mãe, Érika percebeu que Franciele estava estranha e com marcas. "Ela pediu 'pelo amor de Deus não deixa a mãe sozinha com ele' e eu fiquei nesse dia. Levantei a blusa dela, estava toda rasgada de faca". Nessa ocasião, Érika mandou uma mensagem para a tia, saiu da casa e chamou a polícia. "Ela não queria ir de jeito nenhum, mas conseguimos o camburão, tiramos ela de lá e cuidamos dela", conta.

Em uma das conversas, a mãe contou que Adailton passava o dia inteiro em casa, fumando e bebendo. "Ela não comia, não bebia, não fazia nada. Ele mandava ela sentar no chão e falava que estava de castigo. Achou que minha mãe estava traindo ele, mas ela falava 'eu não te traí, pedi a separação e você nunca quer dar, nunca quer se separar'", descreve a filha.

Érika sugeriu que a mãe procurasse ajuda psicológica e queria dar apoio a uma nova vida. "Eu falei que a gente ia cuidar do meu irmão juntas, minha tia disse que poderíamos ficar morando na casa dela e minha mãe aceitou. Passou quinta, sexta, e no sábado meu irmão começou a ligar pedindo para a mãe voltar para casa", conta.

Na ocasião, o filho teria dito que seria para um churrasco na casa da namorada, mas na verdade, era na casa de Adailton. "Ele levou minha mãe para lá. Ela voltou dia 19 de dezembro e no dia 24 eu fui lá para desejar feliz Natal. Fiquei uma hora na frente batendo, ouvia meu padrasto mandando ela calar boca e ninguém abriu o portão para mim".

Érika afirma que agora quer justiça. "Tudo que eu tentei fazer para tirar ela de lá. Para ele [Adailton] fazer isso foi porque descobriu que ela tinha outro relacionamento, porque tinha ciúme possessivo", finaliza.

Júri - A 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande pronunciou Adailton por homicídio qualificado por motivo torpe, asfixia, recurso que dificultou a defesa da vítima e feminicídio (crime de ódio contra as mulheres). Além de cárcere privado e tortura. A Justiça manteve a prisão do autor, atrás das grades desde 31 de janeiro.

Franciele foi torturada por quase um mês e morta por asfixia. Para a polícia, o marido, Adailton, confessou que torturava a mulher como uma forma de punição, pois ela se relacionou com outro homem quando estavam separados. Para ele, uma traição.

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