Erro na manipulação causou três mortes na Santa Casa, conclui Anvisa
Falha humana foi a responsável pelas mortes de três mulheres na oncologia da Santa Casa de Campo Grande, conclui relatório da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Por meio de um representante oficial, a entidade disse ao Campo Grande News que, apesar das limitações de documentos, “os investigadores concluíram pelo erro no processo de manipulação intra-hospitalar”.
O grupo de técnicos que veio ao Mato Grosso do Sul para apurar o caso, informou também em relatório que não foram detectados problemas no lote do medicamento Fluorouracil (5-FU), importado de um laboratório indiano e administrado às vítimas em sessões de quimioterapia durante o mês de junho. Ainda não foram divulgados detalhes sobre o relatório.
Os medicamentos já foram manipulados pelo farmacêutico Raphael Castro, que prestou depoimento por cinco horas ontem à tarde à Polícia Civil. Ele estava no cargo há um mês a convite de um dos sócios do Centro de Oncologia e Hematologia de Mato Grosso do Sul, José Maria Ascenço.
No depoimento à delegada Ana Cláudia Medina, na 1ª Delegacia de Polícia da Capital, ele disse que tinha "dúvidas" na manipulação dos medicamentos usados na quimioterapia. Também destacou que foi “orientado” pela enfermeira Giovana de Carvalho Penteado, que realizava o processo com frequência.
“Ele disse que fez a manipulação sozinho entre os dias 23 a 28 de junho, quando as pacientes tiveram reações negativas ao tratamento, e contou que não conhecia quais eram esses remédios. Apesar disso, ele falou que não errou em nenhum momento, apenas teve algumas dúvidas quanto a manipulação, que foram sanadas pela enfermeira Giovana”, disse Medina, ontem.
Carmen Insfran Bernard, 48 anos, Norotilde Araújo Greco, 72 anos, e Maria Glória Guimarães, 61 anos, morreram nos dias 10, 11 e 12 de julho, respectivamente, devido à complicações durante o tratamento de câncer colorretal. Elas receberam doses do Fluorouracil (5-FU) em junho, apresentaram reações adversas e morreram no mês seguinte.
Os óbitos foram informados a Santa Casa apenas uma semana depois, motivo que levou a ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande), entidade gestora do hospital, a antecipar o fim de contrato com o Centro de Oncologia e Hematologia de Mato Grosso do Sul.
A polícia prossegue com as investigações. Na sexta-feira (15) será ouvido o farmacêutico que atuava antes de Raphael. Em seguida, deve prestar depoimento mais dois médicos e técnicos em enfermagem que participavam do processo e o fornecedor do medicamento, com datas ainda a serem agendadas. Já apresentaram suas versões, os médicos do centro de oncologia José Maria Ascenço e Henrique Ascenço, a enfermeira Giovana e a farmacêutica Rita de Cássia Godinho, além de familiares das vítimas.