"Escondi minha filha", descreve sobrevivente de atentado que matou professora
Após ser alvejada por ex-guarda, jovem se arrastou até quarto para esconder a filha dos disparos
"Me arrastei até o quarto, escondi minha filha, enchi ela de travesseiro". O relato é de Camila Telis Bispo, sobrevivente do atentado a tiros que matou o marido dela, Steferson Batista de Souza, 32 anos, e a amiga, professora Maxelline da Silva dos Santos, de 28 anos, em 29 de fevereiro de 2020, em Campo Grande. O acusado pelos crimes, à época guarda municipal, Valternir Pereira da Silva, é julgado nesta quinta-feira (5).
Camila foi a primeira a ser ouvida na sessão de julgamento presidida pelo juiz Carlos Alberto Garcete. Ao juiz, contou detalhes que antecederam os disparos e os assassinatos na residência do Loteamento Nova Serrana, na Capital.
Naquele dia, Camila saiu do trabalho e foi para casa. "Começamos a conversar, tomar tereré e o Steferson resolveu fazer churrasco. Estava todo mundo conversando, tomando cerveja, como de costume", lembra. Valtenir estava separado de Maxelline e chegou no local pedindo para que Steferson a chamasse. "Quando eu saí para fora, era ele. Começaram a conversar por uns 40 ou 50 minutos. Ela gesticulava com o braço, mas eu não conseguia entender, sei que ele falava que queria levar ela embora, mas ela dizia que não iria", afirma.
Após alguns minutos, os convidados de Camila e Steferson começaram a irem embora. "Eu vi que ela falou 'me solta eu não vou com você', então peguei na mão dela e falei 'tenta conversar, resolver a situação', mas não achei que ele ia fazer isso". Camila saiu, mas quando chegou na porta de casa, foi alvejada por um tiro. "Senti um calor, queimação nas costas. Eu não senti mais minha perna, não conseguia levantar, nem virar, fraturei duas vértebras".
A filha de Camila presenciou tudo. "Ela veio e perguntou: 'Que foi mãe?'. O Steferson estava na cozinha, quando ouviu o disparo veio ao meu encontro assustado. Ele chegou perto da porta e ouvi o disparo, pegou no coração e ele já caiu no chão". Nesse momento, mesmo com dor, Camila se arrastou para o quarto. "Nisso, minha filha veio e falei para ela correr até o quarto. Consegui me arrastar e coloquei ela do lado da minha cama, enchi ela de travesseiro e entrei em desespero. Fechei a porta, ouvi mais um tiro. Fiquei desesperada, sem entender o que estava acontecendo lá fora", lembra.
O amigo que estava no local e já havia deixado minutos antes a residência do casal retornou. "O Vilmar, melhor amigo do meu marido, entrou perguntado se tinha alguém vivo. Eu abri a porta, ele pegou minha filha e a namorada dele não sabia o que fazer. Fui no chão, ele [Steferson] não tinha mais pulso e a Maxelline também não."
Camila afirma que o casal estava separado e a amiga já havia reclamado de mentiras que havia descoberto. "Foi descobrindo as coisas dele, que tinha cinco filhos. Depois, que ele invadiu a casa dela, pediu medida protetiva, trocava de chip de celular. Eles estavam separados", afirma.
Camila teve sequelas, sente dor e tem demência em uma das pernas. Até hoje, não conseguiu retornar as atividades de trabalho e receberá pelo INSS até 23 de outubro de 2023.
Outra testemunha - Vilmar Amorim Suriano, amigo de Steferson, que estava na casa momentos antes dos disparos, também foi ouvido nesta manhã. Ele afirmou que não conhecia Valtenir, mas o viu na frente da casa conversando com Maxelline, e também viu o momento em que o ex-guarda disparou contra a jovem.
"Foi questão de eu entrar no carro, ele começou a disparar. Achei que era brincadeira do Steferson, porque ele era muito brincalhão, mas minha namorada falou que era tiro. Eu arranquei com o carro e pelo retrovisor vi ele disparar mais um tiro e subsequente na Maxelline. Ela tentou segurar, contê-lo, mesmo assim, ele conseguiu disparar", lembra.