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Capital

Espancada na porta de casa, estudante espera há 6 meses punição do ex-namorado

Agressão filmada por câmeras de vizinhos foi denunciada em 31 de dezembro e até agora investigação não andou

Geisy Garnes | 01/06/2021 11:36



Seis meses separam a noite do pesadelo vivido pela estudante de 19 anos nas mãos do ex-namorado, de 24 anos, O sentimento, no entanto, não mudou muito. A injustiça, a dor e humilhação que é compartilhada por milhares de mulheres vítimas de agressão pelos companheiros todos os dias no Brasil, é revivida a cada dia sem resposta da polícia sobre a violência, que para ela sequer deveria ser questionada.

É que parte das agressões foram filmadas. As câmeras de segurança na casa do vizinho serviram de prova para o que aconteceu na madrugada do dia 31 de dezembro do ano passado. As imagens contam o desfecho da discussão que começou horas antes, na casa de amigos do casal e marcam o ápice de um relacionamento abusivo.

Durante os mais de um ano de namoro, o rapaz apresentou um comportamento “explosivo”, diz a vítima que terá o nome preservado. Nas discussões, "socava a parede e gritava", mas até aquele dia, nunca tinha encostado na namorada. O clima do namoro, no entanto, era de medo. “No dia 30 de dezembro fomos pra casa de um amigo dele e discutimos. Ele começou a se alterar muito, de uma forma que eu já conhecia e senti medo pela reação dele, então decidi ir embora pra casa sozinha”.

A jovem tentou, mas foi impedida pelo ex. De forma violenta, o estudante jogou a namorada no banco de trás do carro e falou que ele mesmo ia deixá-la em casa. Durante todo o caminho ele gritou com a vítima e dirigiu pela cidade em alta velocidade. Ela tentou sair do carro, mas foi segurada.

A partir do momento em que chegam à casa da jovem, o crime passa a ser registrado pelas câmeras. Como mostram as imagens, a vítima saí do banco traseiro e vai até o portão. O suspeito desce logo em seguida, bate no rosto da namorada, a puxa pelos cabelos e a joga no chão para impedir que ela toque a campanha. “Pedia pra ele não chegar mais perto de mim, ir embora já que eu já estava em casa, mas ele ainda assim veio pra cima de mim”.

A vítima rola no chão e é colocada pelo namorado perto do portão, sentada no chão. Eles continuam a discussão e ele tentar novamente impedir que ela toque a campainha. “Fraturei um dente e o osso maxilar, tive que fazer vários procedimentos depois. Fora todas as marcas no corpo, arranhados no pescoço”.

O caso foi denunciado no dia 31 de dezembro. A vítima passou por exame de corpo de delito e entregou as imagens à Deam (Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher), mas conta que até agora não teve resposta sobre as investigações, mesmo com todas as provas do crime.

“Fiz o boletim de ocorrência, mas até hoje não tive nenhuma posição da delegacia. Sinto que ele está impune”, desabafa. Paralelo a isso, ainda precisa conviver com a descrença de quem escuta a história. “As pessoas que ouvem o lado dele acreditam que eu tropecei”.

Segundo a jovem, o rapaz já foi denunciado pelo mesmo crime por outra namorada, em 2018. “Não deu em nada e eu não gostaria que fosse da mesma forma dessa vez”.

Conforme a vítima, a mãe do ex-namorado é policial civil e um dos temores é que isso influencie na investigação. “Me sinto totalmente desamparada, sinto que a justiça no Brasil falha muito em relação as mulheres. Muitos dizem que é só denunciar, mas não é tão simples assim. A gente fica meses esperando pelo mínimo e nem resposta pra isso temos. É triste, ainda mais por pensar que isso pode acontecer com qualquer outra simplesmente pela justiça não ter sido feita”.

O medo da história se repetir, da mesma dor ser sentida por outra mulher é o que motiva a estudante a denunciar e a continuar na luta por justiça. “Nenhuma mulher merece passar pelo que eu passei e pelo que tantas passam todos os dias. Eu graças a Deus consegui sair disso, mas sei que muitas estão presas e não conseguem nem pedir ajuda. Não são só danos físicos, tem os danos psicológicos também e é doloroso demais”.

Ao Campo Grande News, a Polícia Civil informou, através da assessoria, que a investigação dos crimes ocorridos contra a vítima está em trâmite na Deam  em fase bem adiantada.

"O autor dos fatos, inclusive, já foi indiciado pela Delegada responsável pelo caso e, ao contrário do que diz na matéria, o caso não está parado. O inquérito ainda não foi concluído, por aguardar laudo pericial, imprescindível para a conclusão das investigações.", diz a nota.

* Matéria editada às 15h35 para acréscimo de resposta.

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