Estudantes voltam a protestar pedindo revogação do Novo Ensino Médio
Grupo de 100 pessoas caminhou na Avenida Afonso Pena da Praça do Rádio até a Escola Estadual Joaquim Murtinho
Estudantes e professores fazem manifestação pela revogação do Novo Ensino Médio no Centro de Campo Grande no fim da tarde desta quarta-feira (19). A concentração aconteceu na Praça do Rádio, na Avenida Afonso Pena. O grupo de aproximadamente 100 pessoas caminhou até a Escola Estadual Joaquim Murtinho. Há cerca de um mês, houve outra passeata pacífica.
O estudante Paulo, de 16 anos, declarou que o Novo Ensino Médio foi aplicado de forma "violenta". "No primeiro ano, logo após a pandemia, recebemos os folhetos dos itinerários formativos, mas a maioria dos alunos não sabia o que eram, e não houve explicação por parte da coordenação ou dos professores. Muitos alunos reprovaram por falta de informação, entretenimento e força de vontade", contextualizou.
Ele está no segundo ano do ensino médio e complementou que isso afeta diretamente a preparação para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e para os vestibulares, porque as matérias são voltadas à prática. "Matérias importantes como história, geografia, filosofia e sociologia não tiveram muitas aulas. Sinto-me violado em meu direito de ter uma educação pública de qualidade.", reclamou Paulo.
A estudante Gabriela, de 16 anos, também está no segundo ano do ensino médio. Ela relatou que o processo de ensino tem sido complicado e os conteúdos aplicados não se relacionam com a área desejada de atuação.
"Eu escolhi a área de ciências humanas e tenho a disciplina de fotografia, o que não tem nada a ver com o que eu quero estudar no futuro. Muitos alunos também têm matérias que não têm relação com a carreira que desejam seguir, o que tem gerado muitas reclamações", declarou Gabriela.
Para ela, as escolas privadas têm vantagem sobre as públicas e a competição é desleal entre os estudantes. "Isso acaba prejudicando os alunos que estudam em escolas públicas e não têm as mesmas oportunidades de estudo e preparação para os exames".
Relação com as licenciaturas - O professor universitário e presidente da Adufms (Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Marco Aurélio Stefantes, de 53 anos, explicou a relação do Novo Ensino Médio com a formação de novos professores. Ele destacou que a proposta está fundamentada em falhas no sistema.
"Agora, só língua portuguesa e matemática são obrigatórias, todas as outras se tornaram optativas. Isso faz com que a maioria das escolas e governos estaduais reduza a carga horária do ensino médio, impactando significativamente a qualidade da formação", explicou Marco Aurélio.
O professor complementou que dentro da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) já se observa cursos de Letras sendo fechados e vestibulares suspensos na área de licenciatura. "Infelizmente, temos o argumento de que não haverá muitas oportunidades de trabalho para esses profissionais, pois, por exemplo, a disciplina de literatura não é mais obrigatória no ensino médio aqui no Estado", ressalta.
Consulta - O Ministério da Educação (MEC) está elaborando uma programação de consultas públicas, pesquisas e eventos para discutir a implementação do Novo Ensino Médio no país. O cronograma deve ser anunciado no próximo dia 24 de abril, informou a secretária executiva do MEC, Izolda Cela, nesta semana durante evento da organização Todos pela Educação, em Brasília. O primeiro evento deve ser um webinário com especialistas, no próprio dia 24.
A manifestação tem participação do Comitê Revoga Enem, Une (União Nacional dos Estudantes), Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), UJS (União da Juventude Socialista), Adufms, UJC (União da Juventude Comunista) e CUT (Central Unida dos Trabalhadores).