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Capital

Família com quatro filhos perdeu tudo e não tem nem o que comer depois de chuva

Casal e os quatro filhos vieram do Paraná há 1 mês em busca de vida melhor. Família perdeu até alimentos depois de chuva de ontem

Paula Maciulevicius Brasil e Bruna Marques | 28/01/2021 12:28
Vindos do Paraná, família perdeu até alimentos e cesta básica na Vila Popular. (Foto: Henrique Kawaminami)
Vindos do Paraná, família perdeu até alimentos e cesta básica na Vila Popular. (Foto: Henrique Kawaminami)

Há 15 dias, quando André Quechone, de 34 anos e a esposa Claudineia Silva Chaves, de 30, alugaram uma casa por R$ 300,00 na Vila Popular, em Campo Grande, ninguém avisou que os problemas recorrentes da chuva arrombariam a porta de casa. Basta começar a chover que a força da água leva tudo o que vê pela frente: seja guarda-roupa, coleção de livros, fotografias, colchões, cobertas e até mesmo alimentos.

O casal veio do Paraná em busca de uma "vida melhor". Serviços gerais, André está desempregado e trouxe a família para cá na tentativa de conseguir se recolocar no mercado de trabalho. A mulher é dona de casa e os filhos têm entre 2 a 10 anos.

Ontem, a altura da água chegou a 1 m dentro de casa que fica na Avenida Rádio Maia. "Perdemos tudo, geladeira, TV, colchão, cobertores, sapatos, roupas. A gente ganhou uma cesta básica tem uns dias e foi também. Não temos nem o que comer hoje", diz.

Desesperado, ele vendeu pedaço de ferro e conseguiu R$ 13,00, mas para o número de filhos, não tem muito o que oferecer em comida.

Pai visivelmente desesperado depois de chuva levar até cesta básica. (Foto: Henrique Kawaminami)
Pai visivelmente desesperado depois de chuva levar até cesta básica. (Foto: Henrique Kawaminami)

A casa alugada se resume a uma peça que se divide entre cozinha e quarto, além de um banheiro. No momento em que a chuva começou, na tarde dessa quarta-feira (27), estavam todos em casa. "As crianças choraram muito, eu já morei aqui em Campo Grande e nunca tinha passado por isso, entraram duas cobras também. A hora que a gente viu que começou a encher, saímos e fomos pra rua", descreve o pai.

A esposa comenta que todos entraram em pânico. "Nunca passamos isso na vida. Erguemos o que deu e fomos correr com as crianças. Foi tudo, alimentos, roupas, nós dormimos no chão com as crianças em cima de um cobertor", relata.

O contato da família para ajudas é o número: 99962-5011.

Maira chora e diz que não aguenta mais perder o que comprou para a chuva. (Foto: Henrique Kawaminami)
Maira chora e diz que não aguenta mais perder o que comprou para a chuva. (Foto: Henrique Kawaminami)
Altura de onde a água chegou na casa da pedagoga. (Foto: Henrique Kawaminami)
Altura de onde a água chegou na casa da pedagoga. (Foto: Henrique Kawaminami)

"Trabalho, compro e perco" - Hoje a pedagoga Maira Alves de Oliveira, de 36 anos, esbravejava e com razão. Com a chuva de ontem que caiu em Campo Grande, ela viu tudo ir embora de novo. Mãe de um menino de 15 anos e outro de 5, que inclusive é autista, Maira faz questão de frisar que foi preciso medicar o caçula tamanho o desespero dele com o alagamento.

"Começou 1h da tarde, a água subiu muito rápido, tirei o carro lá pra cima, longe de casa, peguei meus filhos, meus cachorros e saí. Não deu tempo de mais nada", diz.

Sem nem precisar perguntar, Maira é o tipo de personagem que conta tudo, mostra, aponta e também sensibiliza. "Perdemos tudo: travesseiro, almofada, sofá. A água que subiu era do esgoto, estragou meus livros que eu uso pra trabalhar, colchão, coberta, guarda-roupa que eu ainda vou pagar a última prestação este mês", enumera.

Ela calcula ter ficado 5h na rua, vendo de fora a casa ser tomada pela água. Hoje, a função era recolher os entulhos, o que era da casa e que virou lixo. "Não tenho ânimo pra mais nada, não tem como falar que estamos bem, mas estamos vivos. Eu estou arrasada, desolada, minha vontade é de correr. Não aguento mais, é a terceira vez. Eu trabalho, compro e perco, amanheci chorando".

O que ela diz a seguir é ainda pior e mostra que ela sabe que não será a última vez. "Sinceramente, não tenho esperança que aconteça nada para mudar isso. Tem gente que mora aqui há mais de 40 anos e sempre foi assim. O poder público sabe o que tem que fazer, mas não fazem".

Guarda-roupa que Maira ainda está pagando também estragou. (Foto: Henrique Kawaminami)
Guarda-roupa que Maira ainda está pagando também estragou. (Foto: Henrique Kawaminami)
Objetos de casa viraram entulho depois da chuva. (Foto: Henrique Kawaminami)
Objetos de casa viraram entulho depois da chuva. (Foto: Henrique Kawaminami)


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