Favela foi levada para área imprópria e, agora, prefeitura analisa riscos
Se o Vespasiano é o único que preocupa no quesito terreno, todos locais têm problemas com a construção de casas
Endereço das primeiras famílias removidas há 13 meses da favela Cidade de Deus, o loteamento no bairro Vespasiano Martins tem um problema que vem do chão: lençol freático aflorante.
A água do solo muita próxima à superfície fez com que a área fosse descartada para moradias no passado, mas, com transferência de 42 famílias em 2016, a nova gestão da Prefeitura de Campo Grande vai contratar uma empresa para avaliar a estrutura dos imóveis. O terreno alagadiço se torna mais perceptível nos dias chuvosos, conferindo à area um cenário de atoleiro.
“Quando estive aqui, sabia que naqueles lotes não foram construídos casas exatamente por causa do lençol freático aflorante e vai depender de estudos para averiguar o que vai ser feito”, afirma o diretor-presidente da Emha (Agência Municipal de Habitação), Eneas José de Carvalho Netto.
Possíveis saídas são rebaixamento do lençol freático ou nova remoção, mas o caminho será definido somente após avaliação técnica. “Mas vamos aguardar a manifestação da empresa que vai emitir esse laudo para nos dar tranquilidade e garantias quanto à execução da obra”, salienta o diretor.
Nascida no entorno do lixão de Campo Grande, no bairro Dom Antônio Barbosa, a favela foi removida em março do ano passado. Em vez das 390 famílias, a área deveria abrir espaço para cortina arbórea (de árvores) em frente ao aterro.
Além do Vespasiano, as famílias foram levadas para os bairros Canguru, Bom Retiro e José Teruel, este último bem próximo ao antigo endereço.
“O Bom Retiro é um parcelamento muito bom, com uma situação privilegiada ao meu ver”, afirma Enéas. Já no Jardim Canguru, os lotes utilizados eram remanescentes do loteamento do bairro.
Se o Vespasiano é o único que preocupa no quesito terreno, todos os locais têm problemas com a construção de casas. A prefeitura delegou o serviço à ONG Morhar Organização Social. O convênio era de R$ 3,6 milhões para 300 imóveis, mas somente 42 foram feitos no terreno do Vespasiano e, ainda, apresentaram problemas de infraestrutura.
À época, o Campo Grande News mostrou que a ONG tinha uma situação peculiar. Apesar de contratada para construir imóveis, não tinha nem mesmo um teto para si.
Na ocasião, a reportagem consultou endereços e telefones disponíveis na consulta por CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) e na internet, mas não conseguiu localizar a sede da ong (organização não governamental). A parceria foi cessada em dezembro de 2016, no fim da gestão do prefeito Alcides Bernal (PP), com abertura de tomadas de conta especial.
Difícil - O atual dirigente da Emha classifica o convênio como de “difícil entendimento” e que conseguiu fazer casa com valor de R$ 12 mil, bem abaixo do custo normal. Enéas explica que a agência faz levantamento de custos para construção de todos os imóveis e o valor deve ser custeado pelo Governo do Estado, por meio de parceria com o município.
De acordo com o diretor-presidente da Emha, os moradores que desejarem passarão por curso de qualificação e serão contratados por intermédio da Funsat e Proinc (Programa de inclusão profissional). “Serão contratados, qualificados e reaproveitados em outras obras, como reforma de escolas”, afirma Enéas.