Festa à tarde tem “corotinho” open bar e maconha para molecada
Vizinhança sofre com barulho, confusões frequentes, sujeira e forte cheiro de urina na Vila Planalto
Em plena tarde de quarta-feira (10), a festa “sunset” libera o “corotinho” saborizado, aquela água ardente baratinha, além de catuaba e vodca com energético para uma turma de adolescentes que também fuma maconha sem pudor.
Com entrada a R$ 25, o preço já denuncia que quem frequenta tem dinheiro, já que na periferia ninguém paga mais que R$ 10 pelo baile. Outros itens como tênis caro e iPhone na mão confirmam a suspeita. Depois a gurizada reforça que veio do "centro", alunos de escolas de mensalidade alta.
A festa ocorre em área externa de casa na Rua João Azuaga 525, na Vila Planalto. O som alto e a algazarra que domina o lugar incomoda a vizinhança que resolveu denunciar o evento. Segundo moradores, as confusões são frequentes, assim como a sujeira e o forte cheiro de urina.
O Campo Grande News entrou na festa ontem. O portão fica parcialmente fechado com apenas uma fresta. Na entrada, menina – aparentando ser adolescente - coloca o dinheiro da entrada em uma caixa de papelão. Em seguida, outro rapaz jovem faz a revista.
Estranhando rostos mais velhos, o anfitrião “Thiago” recepciona dando boas vindas à festa. “Como ficaram sabendo da festa? Sempre fazemos, podem chamar os amigos e qualquer coisa fala comigo”, diz o menino, com no máximo 19 anos.
A festa começou às 15h. O movimento ainda era pouco lá pelas 16h, com cerca de 30 pessoas carregando copos com gelo e as bebidas destiladas do open bar.
“Tenho 16 anos e sempre venho com minhas amigas”, diz estudante de escola particular tradicional de Campo Grande. Ela se refere ao grupo de pelo menos quatro meninas logo a frente, que canta e dança.
As bebidas ficam em bar improvisado, montado com mesas e cadeiras de plástico. Uma caixa térmica grande é o lugar onde está grande quantidade de gelo picado. Os copos são montados por meninos e meninas com a mesma faixa etária dos convidados. Eles servem porção generosa de gelo e adicionam os destilados.
Outra coisa liberada no evento são os narguiles, que geram rodas com meninos e meninas mostrando habilidade em até fazer “bolinhas” no ar com a fumaça expelida.
O look dos convidados é outra coisa que chama a atenção. Calça jeans parece algo abolido de qualquer guarda roupa para meninos e meninas. As camisetas e tênis são de marcas da moda e alguns participantes até ousaram em vestir samba canção e chinelo.
Enquanto isso, as meninas vestem shortinhos bem curtos e combinações estilosas, mostrando que quem frequenta tem no mínimo amparo financeiro de pais com bom poder aquisitivo.
Além disso, na era da tecnologia, os adolescentes parecem não ter interesse em postar nas redes sociais a festa, esquecendo das selfies. Só pegam no celular se for para enviar mensagens de áudio aos amigos.
O anfitrião volta à cena. De meias pela festa, ele volta a procurar conversa com a equipe, que destoa do ambiente bem mais jovial. “Aqui é de um brother meu. Sempre organizamos essas festas, porém hoje, na quarta foi uma exceção devido às férias do pessoal. É bem tranquilo, não temos problemas com vizinhos, sempre avisamos quando vamos fazer barulho. Aqui bomba mesmo é depois das 18h”, alega o então rapaz desconfiado.
A bebida parece começar a fazer efeito já na primeira hora de sunset. Ao lado da equipe, um grupo de meninos vai mais longe. Prepara e fuma cigarro de maconha. Logo, outros adolescentes que estavam no lugar se aglomeram e também entram na roda.
Ainda com suspeitas, agora quem se apresenta é uma menina, claramente enviada pelo anfitrião. Ela se apresenta como jovem de 19 anos, puxa assunto e afirma que a maioria dos frequentadores é como ela “parece adolescente mas, não é”.
A festa avança e antes da reportagem deixar o local a quantidade de gente dobrou e as danças em volta de uma grande caixa de som mudam o cenário do lugar.
Vizinhança – Nesta manhã, o Campo Grande News voltou ao local e viu que copos plástico e embalagens de “corotinho” foram deixadas na calçada e rua perto do local da festa.
“É frequente. A música parece que está dentro da minha casa de tão alta. Mas, o verdadeiro problema são as confusões. Eles quebram garrafas na rua, urinam nos muros das casas e ficam até seminus. Além disso, mesmo quando a festa acaba eles continuam na rua bebendo e gritando”, detalha vizinha do local de 44 anos.
Sobre o público, a vizinha diz que a festa começa sim com adolescente, porém durante à noite pessoas mais velhas também entram no local. “A gente chama a polícia e eles vem no local desmobilizando a festa. Mas, na semana seguinte a mesma cena se repete. Ontem, ninguém apareceu e a festa foi até 21h”, desabafa a mulher.
Enquanto isso, outro vizinho de também 44 anos, diz que as festas no lugar começaram a ficar frequentes há quatro meses. “Sempre as quartas e aos sábados. Já vi adolescentes saindo da festa bêbados e dirigindo. Uma vez mesmo um deles tentou atropelar outro de caminhonete após um desentendimento”, detalha.