Gaeco desconfia que advogada usava tablet de criança no “trabalho” para o PCC
Paula Tatiane Monezzi é um dos alvos de operação que investiga advogados por auxiliarem facção em crimes
A suspeita de que a advogada Paula Tatiane Monezzi, de 35 anos, teria escondido informações comprometedoras sobre relacionamento criminoso com o PCC (Primeiro Comando da Capital) em outros dispositivos que não o celular usado no dia a dia, incluindo tablet que pertence a uma criança, está entre os argumentos usados pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) para pedir que a Justiça a mantenha presa.
Paula é um dos alvos da Operação Courrier, deflagrada há uma semana, contra a chamada “Sintonia dos Gravatas”, grupo de advogados investigados por trabalhar para membros da facção não só em ações judiciais, mas como auxiliares no cometimento de crimes.
Na cadeia desde o dia 25 de março, a advogada tenta a substituição da prisão preventiva (por tempo indeterminado) por domiciliar. O Gaeco é contra e o juiz Olivar Augusto Roberti Coneglian, da 2ª Vara Criminal, ainda não tomou decisão.
Para sustentar o pedindo de manutenção da prisão, os promotores Marcos Roberto Dietz, Tiago Di Giulio Freire e Gerson Eduardo de Araujo argumentam que já sabendo que poderia ser alvo de operação, a advogada escondeu equipamentos eletrônicos. “Em conversa com o coinvestigado Bruno Ghizzi, sobre estratégias adotadas para dificultar investigações em andamento contra eles e outros integrantes do PCC, a requerente se avaliou ‘tranquila’ por manter em esconderijo, entre outros dispositivos comprometedores, o tablet do (...)”, diz trecho do parecer assinado pelos três.
O Gaeco alega ainda que a prisão domiciliar não é suficiente para impedir que Paula atrapalhe as investigações ou cometa outros crimes na tentativa de barrar os trabalhos. “É irrefutável que a manutenção da prisão preventiva da requerente Paula Tatiane Monezzi, pela própria posição na organização criminosa, faz-se de extremada importância no caso, uma vez que, em liberdade, certamente se sentirá estimulada a voltar a delinquir, dando suporte à predita organização criminosa e fomentando a prática da mais diversa ordem de crimes”, opinam os promotores em outro trecho da manifestação.
Conforme a investigação, Paula é uma das advogadas responsáveis por distribuir ordem do PCC para matar um promotor do Gaeco.
Outro lado – A defesa de Paula Tatiane pediu a substituição da prisão preventiva por domiciliar alegando que a advogada é a única pessoa responsável por manter financeiramente e cuidar de pessoa vulnerável. Além disso, o advogado Carlos Alberto Correa Dantas argumenta que a Operação Courrier levou três meses para cumprir os mandados de prisão e busca expedidos e até agora, nenhum dos alvos foi denunciado à Justiça.
Questionado pela reportagem sobre o que a cliente teria a dizer sobre as suspeitas que recaem sobre ela, o defensor de Paula informou que nada pode comentar uma vez que a investigação tramita em segredo de Justiça.
“Sintonia dos Gravatas” – No dia 25, Gaeco e Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), além de policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar, Bope (Batalhão de Operações Especiais) e da Gisp (Gerência de Inteligência do Sistema Penitenciário) foram às ruas da Capital, Dourados, Jardim e Jaraguari para cumprir um total de 38 mandados judiciais.
Além de prender 4 advogados – além de Paula, Bruno Ghizzi, Inaiza Herradon Ferreira e Thais de Oliveira Caciano –, a operação também levou para a cadeia, o agente penitenciário Jonathas Wilson Moraes Cândido, o analista judiciário Rodrigo Pereira da Silva Correa e Kamila Mendes de Souza. Há ainda servidores da Defensoria Pública suspeitos de envolvimento no esquema.
Os alvos são investigados por integrarem organização criminosa, violação do sigilo profissional e corrupção passiva e ativa.