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Capital

Hospitais de Campo Grande registram alta de pacientes com sintomas gripais

Reportagem verificou que unidades de saúde na Capital têm movimento intenso nos últimos dias

Jhefferson Gamarra, Guilherme Correia e Cleber Gellio | 04/01/2022 13:00
Entrada de hospital da Unimed, em Campo Grande, onde pacientes relatam sintomas gripais. (Foto: Marcos Maluf)
Entrada de hospital da Unimed, em Campo Grande, onde pacientes relatam sintomas gripais. (Foto: Marcos Maluf)

Além da rede pública, hospitais particulares de saúde de Campo Grande têm recebido número maior de pacientes com sintomas de gripe. Levantamento feito pelo Campo Grande News junto aos estabelecimentos hospitalares mostra aumento na procura por atendimento de pacientes com sintomas gripais.

Relatos ouvidos nesta manhã pela equipe de reportagem que visitou o Hospital da Unimed (Confederação Nacional das Cooperativas Médicas), na Avenida Mato Grosso, é de que há pouca oferta para muita demanda.

A empresária Michelle Pinho Echeverria, de 39 anos, buscou consulta no pronto atendimento na tarde de ontem (3). Ela aguardou das 14h às 19h, mas desistiu diante de tanta demora. No período de cinco horas, ela observou, além de aglomerações de pacientes com sintomas gripais, o descumprimento de medidas de biossegurança.

“Estava bem lotado, não estavam higienizando nada, as pessoas com testes positivos para covid estavam aguardando no meio de pessoas que ainda não haviam sido diagnosticadas, muitos tossindo e com dores. Os próprios colaboradores do hospital se abraçando, não fizeram troca de máscara”, relata Michelle.

Outro fato observado pela empresária foi a demora apenas para o atendimento médico, uma vez que a triagem feita por enfermeiros era realizada de forma rápida. “Quando saí, tinha 16 pessoas na minha frente e quando chegam prioridades, vão passando na frente dos que estão aguardando no pronto atendimento."

"O que está pesando é a demora para atendimento médico. O problema deve ser de escala sem conseguir médico para fazer os plantões e suprir esse aumento na demanda”, opina.

Pacientes esperam em tenda de triagem no Hospital da Unimed, nesta manhã. (Foto: Cleber Gellio)
Pacientes esperam em tenda de triagem no Hospital da Unimed, nesta manhã. (Foto: Cleber Gellio)

O advogado Rubilan Lima Oliveira, de 50 anos, buscou atendimento no Hospital da Unimed nesta manhã, com dor de garganta, mas desistiu do atendimento e disse que iria procurar outro estabelecimento para consulta particular.

"Uma baita de uma estrutura e falta profissionais para atender. Não faz sentido isso, o cidadão está fazendo a sua parte. Estou vacinado com as três doses e até estacionamento a gente tem que pagar, por um serviço que já pagamos".

O advogado Matheus Sayd, de 32 anos, reclama que apenas duas das seis salas no local atendem – ele chegou às 6h45 e só foi atendido às 9h20. "É falta de organização, pois sabendo que está tendo um aumento expressivo de casos com dois vírus ao mesmo tempo, deveriam ter uma equipe mais volumosa. Com esse aumento de casos, cadê o drive daqui? Eu estou aqui fora, mas quem já passou pela triagem está lá dentro, cerca de 20 pessoas numa sala fechada e muitos tossindo".

Depois de sair da consulta, ele relata que recebeu identificação apenas da dor de garganta e que não recebeu indicação para o teste.

O Campo Grande News questionou a Unimed a respeito do número de pacientes que deram entrada com sintomas gripais. Em resposta, a unidade confirmou que na última semana dezembro houve uma “explosão de atendimentos no Pronto Atendimento de Síndrome Respiratória do Hospital”, porém o número de casos graves é considerado baixo.  A cooperativa afirmou ainda ter dobrado o número de profissionais para dar assistência aos que necessitam de cuidados.

Tenda montada desde o começo da pandemia serve de triagem para pacientes com sintomas gripais. (Foto: Marcos Maluf)
Tenda montada desde o começo da pandemia serve de triagem para pacientes com sintomas gripais. (Foto: Marcos Maluf)

A rede não encaminhou dados sobre o número de entradas hospitalares nos últimos dias, mas boletim encaminhado diariamente pela unidade mostra que na última quinta-feira (30), estavam ocupados por pacientes dois dos seis leitos de terapia intensiva dedicados ao tratamento da covid. Na atualização da segunda-feira (3), porém, nenhuma estrutura deste tipo estava ocupada.

Aumento dos casos de influenza - De acordo com o diretor do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, Lívio Leite, os casos de covid-19 na maior unidade hospitalar do Estado seguem estáveis, com apenas dois pacientes internados, com sintomas não tão graves, ainda que o segundo tenha dado entrada no domingo (2).

No entanto, há um crescimento nos registros de enfermos com o vírus da influenza, também na rede pública.

A arquivista Jéssica Carneiro, de 30 anos, relata que passou pelo posto de saúde, mas ficou mais de uma hora e não foi atendida. Por conta própria, foi ao Hospital Regional. "Desde ontem, estou sentindo muitas dores nas pernas, embaixo das costelas, dor de cabeça e garganta", relata.

A equipe de reportagem verificou que a unidade não estava tão lotada na manhã de hoje, ainda que profissionais do local relatem a falta de insumos, como seringas e materiais para cirurgias.

Boletim referente à segunda-feira (3) indicava 25 casos confirmados no estabelecimento, dos quais oito estavam hospitalizados. Em 24 horas, deram entrada nove pacientes e cinco tiveram de ser internados. “É possível observar um aumento de casos de influenza, todos da cepa H3N2. Houve um aumento considerável de um dia para o outro”, diz Lopes.

Ele explica que, em contato com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), foi verificado aumento durante o período festivo do fim de ano, ainda que tenha havido pequena redução entre a semana de Natal e Ano-Novo com o atual cenário.

A gente estima, observando o que está acontecendo em outros estados, que haja um aumento nos próximos 60 dias. No entanto, a influenza é uma gripe, como qualquer outra, e acontece em diversos anos. É uma gripe que se trata basicamente nas unidades de saúde, não hospitalares e uma pequena porcentagem vai precisar deste atendimento”.

Segundo ele, as estratégias de prevenção ao vírus são úteis – tais como uso de máscaras adequadas, higienização das mãos e distanciamento social. “O tratamento depende muito das UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), já que a grande maioria vai ser tratada lá”.

Demanda da covid no Hospital Regional é menor do que a verificada no primeiro semestre de 2021. (Foto: Cleber Gellio)
Demanda da covid no Hospital Regional é menor do que a verificada no primeiro semestre de 2021. (Foto: Cleber Gellio)

Leite ressalta que a preocupação se dá por conta do período em que os casos estão surgindo, diferente do habitual. “Está acontecendo fora de época, no verão, com o relaxamento de medidas como a máscara, por exemplo, e acabou não acontecendo no inverno. Até é positivo, pois a tendência é de que as pessoas não fiquem muito aglomeradas, por exemplo, pode ser favorável”.

O diretor-presidente também comenta que a vacinação contra a covid-19 fez reduzir as internações pelo coronavírus e que o imunizante da gripe – que ainda não tem atualização para a cepa Darwin – é fundamental no controle da doença. “É inegável os benefícios da vacina da covid, é observável. A gente não tem nenhum aumento de casos.”

Pacientes aguardam atendimento no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul. (Foto: Cleber Gellio)
Pacientes aguardam atendimento no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul. (Foto: Cleber Gellio)

Ainda assim, por conta da janela imunológica e da falta de cobertura total de pessoas vacinadas, pode haver aumento nas próximas duas semanas, segundo ele, reflexo do período de festas. “A pandemia não acabou, algumas situações vão existir. Mas agora, estamos preocupados com o surto da H3N2, que pode demandar um pouco mais de nossos recursos”.

No pronto atendimento do Hospital Unimed de Campo Grande, segundo apurado pela reportagem, também houve crescimento considerável no número de atendimento de pacientes com sintomas de influenza, porém o hospital não divulga o número de pacientes e casos atendidos.

Apesar do crescimento no final de 2021, ano que registrou milhares de mortes pela covid-19, autoridades sanitárias têm reforçado que a gripe não é a principal preocupação, ainda que seja importante buscar a vacinação e utilizar máscaras, que ajudam a prevenir todo o tipo de doença viral contraída por meio de vias aéreas.

Atualmente, vacinas contra a gripe estão disponíveis gratuitamente no SUS (Sistema Único de Saúde) e em clínicas particulares de vacinação. Mesmo que previnam maior parte dos subtipos do vírus, a nova cepa ainda não está contemplada pelo atual imunizante, a atualização deverá ser feita a partir de março e disponibilizada em postos de saúde.

Outras unidades - Diretor do Hospital El Kadri, o médico Alexandre Abreu comenta que, nas últimas duas semanas, a demanda de pacientes com sintomas gripais aumentou no hospital. Além disso, ele ressalta que foi contratado outro profissional apenas para o pronto atendimento.

Conforme apurado pela reportagem, o Hospital do Coração, Hospital da Cassems (Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul) e Santa Casa de Campo Grande indicam que houve crescimento na demanda.

Conforme apurado pelo Campo Grande News, o Hospital El Kadri voltou a isolar pacientes de covid-19 em um CTI (Centro de Tratamento Intensivo).

Um profissional de saúde da Cassems, que preferiu não se identificar, relata que muitos pacientes com sintomas de gripe têm buscado consulta e reclama da falta de adesão aos imunizantes e máscaras. "Infelizmente, está geral, todos os hospitais de Campo Grande e até do Brasil estão muito cheios. Se perguntar, de 100 pacientes que chegaram aqui, 90 não tomaram vacina da gripe", diz.

Fila de pacientes aguardando consulta em Hospital da Cassems. (Foto: Cleber Gellio)
Fila de pacientes aguardando consulta em Hospital da Cassems. (Foto: Cleber Gellio)

Situação das epidemias - Segundo atualização mais recente, ao menos, 91 casos de influenza H3N2 foram confirmados em Mato Grosso do Sul, além de cinco óbitos, desde 11 de dezembro de 2021.

Além disso, casos de covid-19 seguem registrados no Estado – há uma média de quase 100 casos por dia e ao menos uma morte – número superior aos casos de gripe.

Vale lembrar que nesta terça-feira (3), foram confirmados também seis casos de “flurona”, de pacientes que tiveram coinfecção pelos vírus da influenza e coronavírus. Mesmo não vacinados para a influenza, os casos tiveram sintomas leves e já tiveram alta.

Segundo a SES (Secretaria Estadual de Saúde), cerca de 76,7% do público-alvo recebeu a vacina da influenza e aproximadamente 72% possui duas doses ou vacina única contra o coronavírus.

Nos dois casos, as doses em estoque são disponibilizadas no SUS (Sistema Único de Saúde) e a vacina antigripe é oferecida também em clínicas particulares de vacinação.

O período de incubação dos vírus influenza é, em média, de dois dias e há vários tipos de evolução dos casos, leves, moderados ou graves. Conforme a pasta estadual, a doença geralmente se inicia com febre alta, dor muscular, de garganta, de cabeça, coriza e tosse. As recomendações preventivas são:

  •  Lavar frequentemente as mãos com água e sabão;

  • Evitar frequentar locais públicos, fechados e com muita gente;

  • Cobrir com a dobra do braço a boca e nariz sempre que precisar tossir ou espirrar;

  • Evitar tocar os olhos, nariz e boca;

  • Evitar compartilhar objetos pessoais que possam estar em contato com gotículas de saliva ou secreções respiratórias, como talheres, copos e escovas de dentes;

  • Manter os ambientes fechados bem arejados, abrindo a janela para permitir a circulação de ar;

  • A vacinação em ambos os casos é essencial, as quais estão à disposição da população nos 79 municípios do Estado.

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