"Maioria não denuncia por medo", diz defensoria sobre assédio sexual no ônibus
Campanha de conscientização foi realizada no terminal Morenão nesta quarta-feira
A cada três mulheres questionadas pela equipe de reportagem do Campo Grande News durante a campanha de conscientização da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, nesta quarta-feira (16), no terminal Morenão, duas já sofreram assédio sexual no transporte público, porém, maioria das vítimas tem medo de relatar o ocorrido.
Segundo a psicóloga do Nudem (Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher), Keila de Oliveira, por vezes as vítimas chegam até a se sentirem culpadas, outrora, traumatizadas e não conseguem levar os casos adiante, o que acaba fortalecendo o crime.
"Elas tem medo, as vezes se sentem culpadas por causa da roupa que estão usando, uma calça justa ou uma blusa decotada. É importante identificar que não é só um aperto no ônibus, por muitas vezes é assédio. Dependendo do grau de violência que essa mulher já sofreu ela está sem maturidade emocional para relatar o abuso", explica.
Com cartilhas detalhadas e orientação verbal, a Defensoria junto a prefeitura municipal de Campo Grande e o Consórcio Guaicurus, abordaram dezenas de jovens, mulheres e até mesmo homens para reforçar a importância da notificação contra o assédio.
Em alto e bom som, a subsecretária municipal de Políticas para as Mulheres, Carla Stephanini, que esteve presente no ato, declarava o tema da campanha em tom acalorado "Importunação Sexual é Crime e deve ser punida, denuncie. Queremos conscientizar os homens e as mulheres para que ao perceberem essa conduta, peça ao motorista que pare o ônibus, tranque as portas e chame a polícia. Pode ligar para o 190 Polícia Militar ou 153 Patrulha Maria da Penha", orienta.
"Hora que eu abordo e pergunto: atenção mulheres! Existe importunação no transporte coletivo? elas balançam a cabeça que sim. Algumas verbalizam outras não têm coragem", conta Carla.
Exemplo disso é a educadora Maria Teixeira de 50 anos, que já foi vítima duas vezes à caminho do trabalho e nunca teve coragem de acionar as autoridades. "Uma vez um homem estava atrás de mim passando os órgãos genitais na minha bunda, como sempre os ônibus estão lotados e não temos nenhuma segurança. Fui colocando minha bolsa de lado para ele se tocar e nada. Dei uma cutucada pra ele sair", afirma.
"Outra vez eu estava sentada e um cara ficou vindo pra cima com os órgãos em direção ao meu rosto. Eu tive que ficar quieta porque não tinha muito o que eu pudesse fazer, todos no ônibus percebem mas não fazem nada. Não passou a mão em mim, mas se insinuou, faltou muito com respeito", relembra Maria.
De acordo com a Defensora Pública Thais Dominato, a pessoa deve ficar atenta e sempre e reunir provas contra o autor através de imagens feitas pelo telefone celular, e chamando alguém que tenha presenciado para ir até a delegacia como testemunha.
Vale destacar ainda que, o usuário do transporte público tem todo direito de pedir ao motorista que faça parada na delegacia mais próxima ou tranque as portas e acione a polícia.
É a primeira vez que a organização realiza a campanha. As quartas-feiras seguintes, 23 e 30 de março, serão visitados os terminais Bandeirantes e General Osório, respectivamente, das 17h às 18h.