Mato tornou bairro da Capital vulnerável a furtos, reclamam moradores
Cansados dos furtos, bichos e falta de segurança para andar pela via, moradores já fizeram até protesto
O mato que tomou conta dos terrenos baldios da Rua Dona Fidelina Silva Venda, no Jardim Bela Vista, virou uma floresta urbana no meio das residências e sinônimo de insegurança para os moradores. Ladrões usam as folhagens altas para se esconder e já causaram prejuízos que ultrapassam os R$ 50 mil.
São cerca de 200 metros de área habitada apenas pelo mato. Entre a Rua Antônio Oliveira Lima e a Rua dos Vendas, a via se tornou divisão da briga entre os moradores que ficam do lado esquerdo e os donos dos terrenos, ao lado direito. A partir deste trecho, até a Rua Augusto Leite Figueiredo, a floresta chega a invadir os dois lados das calçadas.
A dona de casa Clorildes Baseggia, de 70 anos, mora em frente ao que chamou de "deserto verde" e já teve a casa furtada oito vezes. Recentemente a família reforçou o sistema de segurança e contratou um serviço de monitoramento 24 horas, porque as câmeras, cerca elétrica e o vigia particular não estavam inibindo os criminosos.
"Já não tinha mais solução. Aqui já tinha cerca de proteção, mas eles sempre davam um jeito de entrar, e câmera de segurança já não afasta mais. Levaram os pagamentos dos empregados tudinho, uns R$ 12 mil. Outra vez, uma corrente de ouro, de R$ 50 mil. Também roubaram na vizinha esses dias, pularam a cerca elétrica, pegaram as coisas e esconderam tudo ali (no mato), televisão, bicicleta", explicou.
Mas os furtos não são os únicos problemas causados pela floresta. Escorpiões, lacraias, caramujos e até cobras se tornaram parte do cotidiano de quem mora na região. "Cobra coral direto aparecia aqui, agora deu uma parada. A vizinha mesmo tinha uns 50 vidro de cobra que ela matava aqui. Agora tem muito escorpião, muito que não tem nem ideia", aponta.
O marido da vizinha citada por Clorildes, o aposentado Henrique Oshiro, 65, disse que já se cansou de chamar a Prefeitura de Campo Grande para resolver a situação. "Nós fizemos um protesto, bloqueamos a rua. Aí eles limparam, fizeram uma 'meia boca', mas exigir mesmo a limpeza dos proprietários é que a gente queria, eles que deviam fazer a conservação", ressaltou.
A casa dele nunca foi alvo de furtos, porque a família toda mora no local e ela nunca fica vazia, mas os bichos também não os deixam em paz. "O terreno tem que ser limpo, o mato cresce todo ano então tem que ser conservado. Acho que a prefeitura também tinha que fazer o controle, por si só jogar veneno os moradores já fazem".
Além disso, a circulação de pedestres na calçada se torna impossível. Outro morador de 31 anos, que preferiu não se identificar, disse que o bairro tem muitas crianças e idosos, que precisam andar na rua para acessar a praça do local. "Quando a gente vai passear com as crianças pequenas a gente vai para outro lado, porque ali não dá para passar. As pessoas precisam passar no meio da rua e os carros andam correndo".
De noite, a falta de iluminação adequada soma mais um item para a lista de problemas que o matagal gera. Há apenas um poste, em um lado da via. "Moro aqui tem 4 anos, desde que eu me mudei sempre foi assim. Eles deixam crescer um monte, os vizinhos reclamam e hora que todo mundo começa a se mobilizar eles vão lá e limpam. Mas é bem raro, não é nem uma vez por ano. Recentemente teve mobilização, mandaram fazer cartaz, aí vieram e cortaram", completou.
No entanto, Clorildes, que mora no local há 22 anos, disse que nem sempre foi assim. "Tinha gente morando aqui, mas aí foram embora, abandonaram a casa e o mato tomou conta. Aí ficou essa floresta aí".
Os terrenos são particulares e cabe aos proprietários realizar a manutenção, conforme o Código de Polícia Administrativa – Lei Municipal n. 2.909, de 28 de julho de 1992. Caso não mantenham limpos, capinados e drenados, a prefeitura pode aplicar multas que variam de R$ 2.727,50 a R$ 10.910.
A reportagem procurou a Prefeitura, que respondeu já ter fiscalizado e notificado o dono do terreno, mas não informou exatamente o prazo estabelecido para limpá-lo e nem se esse prazo já transcorreu. "Transcorrido o prazo da notificação a fiscalização retornará ao local e caso a irregularidade permaneça será implantada a multa na inscrição do imóvel, de acordo com o Código de Polícia Administrativa do Município Lei n. 2909, Artigo 18-A. A multa neste caso varia entre R$ 2.727,50 e 10.910,00", diz trecho da nota.
Já em relação à iluminação, a Sisep informou que a reclamação será incluída na programação de serviços da Secretaria. "Ressaltamos que as denúncias devem ser formalizadas via central de atendimento 156 para que a fiscalização seja acionada", concluiu a Prefeitura.