Moradores em situação de rua dão 1º passo rumo ao emprego após concluírem curso
Noite desta terça pode ter reprentado a transformação da vida de muitos acolhidos da rua
A noite desta terça-feira (16) é uma das mais felizes dos últimos anos na vida do paranaense Marivaldo Pinheiro Alves, de 33 anos. Tendo como última moradia a cidade de Cuiabá (MT), ele está em Campo Grande há dois meses.
Desempregado e sem lugar para ficar, Marinalvo está dormindo, nestes dois meses, na UAIFA I (Unidade de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias, antigo Cetremi.
A felicidade nasce de uma conquista, aquilo que, justamente, viabiliza sua saída da situação de vulnerabilidade: o emprego. Ele foi um dos 18 acolhidos que terminou o curso de “Processos Logísticos de Estoque e Compras” oferecido pela Fundação do Trabalho de MS (Funtrab) por meio do Programa MS Qualifica. A última aula foi dada nesta terça.
Com certificado em mãos, após duas triagens e alguns minutos, Marinaldo já estava com a vaga de auxiliar de estoque em uma grande rede atacadista praticamente assegurada.
“Eu estou muito feliz. Recomento a todos não parar de sonhar e correr atrás do seus sonhos. Campo Grande, graças a Deus, está sendo uma terra abençoada para mim”.
Na última triagem, o agora auxiliar de estoque conversou com Carol Correa Braga, do setor de recrutamento da rede atacadista. Segundo ela, a empresa tem uma política que oportuniza vagas a pessoas com perfil de vulnerabilidade. “Nós temos vários colaboradores que têm esse perfil e bons exemplos de pessoas que crescem na carreira”.
Até ali, três pessoas acolhidas pelo UAIFA haviam sido contratadas pela empresa representada por Carol. Dentre as mais de 20 vagas, haviam oportunidades para auxiliar de carga e descarga, auxiliar de armazém, auxiliar de cozinha, entre outros cargos.
Quem também conseguiu uma vaga de emprego foi Lucas Soares, de 26 anos. Ele já assinou seu contrato e deve começar nesta sexta na função de auxiliar de armazém, na mesma empresa de Marinalvo.
Por circunstâncias da vida, algumas bem dolorosas, o jovem frequenta a unidade de acolhimento desde a adolescência, com várias passagens pela rua. “Nesse tempo todo nunca fiz um curso de qualificação. Agora já tenho dois cursos e um emprego”.
A média salarial das funções de Marinalvo e Lucas é de R$ 1.600,00 mais R$ 200,00 como bônus de assiduidade e mais vale transporte.
Apesar da conclusão do curso de “Processos Logísticos de Estoque e Compras”, outros acolhidos da unidade também podiam passar por triagem junto à Funtrab e verificar se havia vaga em outras funções, bem como deixar o cadastro no banco de dados.
Uma dessas pessoas que “tentou a sorte” foi o gaúcho Alex Faria Petri, de 46 anos. Morador de Canoa, no Rio Grande do Sul, Alex perdeu casa, móveis, gato, cachorro, tudo nas enchentes que assolam o estado desde o começo do ano. Ficou o mais importante: o pai e a filha
Com mais de 30 anos de experiência como pedreiro, Alex resolveu arriscar. “Eu já passei um tempo em Goiânia (GO) e lá ouvi falar que Campo Grande tinha muitas vagas nessa área”.
Há duas semanas Alex procurou uma vaga no Facebook, achou, mas foi enganado. “O rapaz pagou até a passagem pra mim, mas quando cheguei na rodoviária ele sumiu, não consegui mais contato”.
Desesperado, o gaúcho ligou para número da Guarda Municipal, que sensibilizada com sua situação, o encaminhou para UAIFA. “Foram me buscar e me trouxeram aqui”.
Ao passar pela primeira vez na triagem, o sistema da Funtrab não encontrou vaga no perfil de Alex, mas suspeitando de uma inconsistência nos dados, a própria diretora-presidente da Funtrab, Marina Dobashi, fez uma busca ativa e encontrou uma oportunidade.
“O endereço dele estava do Rio Grande do Sul. Colocando nosso endereço apareceram algumas vagas”.
Marina entregou em mãos o encaminhamento de Alex, que irá até uma construtora começar o processo de seleção. “Muitas pessoas olham o morador em situação de rua e acham que ele escolheu estar ali, pode até ter, mas tem muitas que acabaram naquela vida, não é uma opção, então elas não querem continuar ali. E dar uma oportunidade dentro de um centro de acolhimento para ela se capacitar e sair dessa vida é o ponto mais importante”, reforça Marina
O programa MS Qualifica foi lançado em maio do ano passado em parceria com o Sistema S (Sebrae, Senai, Senac e Senar). Até outubro de 2025, a expectativa é que programa chegue à marca de 13,4 mil pessoas qualificadas por 851 cursos em todo o Estado. O investimento previsto é R$ 12,5 milhões, incluindo recursos estaduais, federais e das instituições parceiras.
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