MS recebeu 17,9 mil migrantes em 6 anos e entidades querem melhorar acolhimento
Debate aconteceu nesta quarta-feira, em Campo Grande, no 2° Encontro da Rede Estadual de Parcerias Migração
Mato Grosso do Sul recebeu, pelo menos, 17.998 migrantes nos últimos seis anos. O número diz respeito às pessoas que passaram pelos 74 Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), distribuídos pelo Estado, de 2018 a 2023. Este ano, quem mais tem chegado ao Estado são os venezuelanos.
Os números surgiram no 2º encontro da Rede Estadual de Parcerias Migração, realizado na tarde desta quarta-feira (21), Dia Mundial do Refugiado, e contou com entidades ligadas ao setor assistencial, à nível municipal, estadual e federal. A conversa aconteceu no auditório da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco). O objetivo é conscientizar a população sobre o tema e debater políticas públicas que amparem os migrantes e refugiados de maneira mais efetiva.
O perfil dos migrantes não é exato. Entretanto, na maioria, são pais de família que chegam no Estado em busca de melhores oportunidades. Por se tratar de um movimento migratório motivado pela pobreza, o perfilamento dessas famílias é mais difícil de catalogar. Por isso é possível encontrar todas as faixas etárias no Estado, desde crianças até idosos. Quem explica isso é o coordenador geral da política migratória do Ministério da Justiça Paulo illes, de 48 anos.
Ele disse ao Campo Grande News que a migração costuma acontecer em três ou quatro fases. “Primeiro vem os mais jovens, em idade de trabalho, depois vem os familiares mais próximos, filho, mulher, em seguida os pais. Na Venezuela, até porque há dificuldade em enviar coisas pro país é que está tendo uma terceira onda migratória, então encontramos de crianças a idosos”.
Ele pontua que a migração venezuelana está crescendo em todo País e que o Brasil tem olhado para essa população em vulnerabilidade. A saída, de acordo com Paulo, é empoderar os municípios e estados para que possam ter melhores políticas públicas de acolhimento.
Nós enquanto Governo Federal temos um tratamento em relação a eles porque consideramos uma situação grave e generalizada de violação dos direitos humanos, portanto eles têm o direito de pedir ajuda humanitária ou refúgio”, disse Paulo.
Dados - No Estado, o índice mais alto catalogado é de 2018, quando o Mato Grosso do Sul identificou 4.427 migrantes, por meio dos Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social). Em 2022 o número caiu para 3.732.
A quantidade pode ser bem mais expressiva, isso porque existem outras maneiras de aparecer nas estatísticas, como no caso dos Centro Pop (7.807) e Sismigra (Portal de Imigração (14.294). Os valores são referentes à soma dos últimos seis anos. Até abril de 2023, 1.231 migrantes foram identificados pelo Sismigra.
Conforme os dados apresentados, na lista de migrantes também aparedcem os Bolivianos, Colombianos, Cubanos, Haitianos, Paraguaios entre outros.
Conforme a superintendente da Política de Assistência Social e Direitos Humanos, Taciana Silvestrini, Mato Grosso do Sul destina R$ 24 milhões, oriundos do fundo estadual, para políticas públicas assistenciais.
“Temos mais de 600 unidades de acolhimento no Estado, sendo 133 Cras, que é porta de entrada da assistência social básica, 74 Creas, que atende pessoas em situação de violação de direitos, 5 centro de Pops, destinado ao atendimento a população em situação de rua, fora outras unidades que também pode atender situações de refugiados e migrantes. Temos 24 casas de passagens em Mato Grosso do Sul também”.
Ela ressaltou que a política de assistência social é descentralizada, ou seja, a rede de atendimento pertence ao município, mas compete também ao Estado, tanto capacitar os profissionais quanto cofinanciar os serviços prestados.
“Mato Grosso do Sul é um estado próspero, que tem grandes oportunidades e isso acaba atraindo, eles acabam vindo atrás de oportunidades, de grandes obras como as que acontecem em Ribas. Por isso pretendemos capacitar mais a rede de assistência social, vamos ampliar também o cofinanciamento, para potencializar o atendimento”, finalizou.
Futuro - De acordo com Paulo illes, a mão de obra migrante é necessário ao País, que vem em fase de desaceleração e envelhecimento. Ou seja, mais pessoas parando de trabalhar e menos pessoas nascendo. Ele ressalta que os muigrantes também podem usufuir dos programas sociais do Governo.
"Primeiro que o imigrante não migra pra viver de ajuda, por traz dele tem familiares que precisa mandar dinheiro. Portanto precisam ter uma boa renda, são poucos que acabam precisando de ajuda, que é muitas vezes inicial. Antes da gente fazer a conta de quanto custa, também precisamos fazer a conta do futuro do Brasil sem eles. Se olharmos a contribuição dos imigrantes do sistema previdenciário, temos um deficit hoje.Eles que vão ajudar a bancar a aposentadoria de muitos de nós".
Para ele o desafia é que essas pessoas trabalhem com o que foram formados nos paises de origem.
Mirtha Carpio, de 50 anos, presidente da associação venezuelana em Campo Grande disse à reportagem que a associação dá apoio aos venezuelanos em todos aspectos, desde orientações a ajuda em alimentos. "Nos temos dois objetivos em orientar, apoiar e quando temos cestas básicas doamos. Fazemos muitas articulações, temos grupos no whatsapp que passamos vagas de trabalho e toda informação". Segunda ela são quase 10 mil venezuelanos no Estado. "Eles continuam chegando. O estado não está conseguindo suportar tantos, nos sentimos isso, não há vagas no Centro Pop, por exemplo".
A Associação pede mais abrigos ou parcerias com hotéis para que os migrantes tenham onde ficar.
A Irmã Rosane Costa Rosa, coordenadora da pastoral dos migrantes da arquidiocese de Campo Grande ressalta que a reunião é de extrema importância para o setor assistencial e migratório. “Desde ontem estamos abordando políticas públicas para melhorar a vida de refugiados, políticas migratória no Estado, através de uma rede local, Campo Grande e rede estadual. O encontro é pro debate, reflexão e de fato, construir juntos essa política para refugiados e migratória. É bom que cada um assuma seu papel”.