Multidão se reúne para despedida de pai e filho que morreram em acidente aéreo
Texto atribuído a irmão de Garon Filho diz que piloto saiu de fazenda para abastecer avião e buscar pizza
As dezenas de coroas de flores enviadas ao Cemitério Parque das Primaveras são a demonstração do quanto o agropecuarista Garon Maia Filho, 42, e o filho dele, de 11 anos, que morreram em acidente aéreo na noite de sábado (29), eram queridos. Desde as 15h, não param de chegar ao local as homenagens de familiares, amigos e empresas.
O velório reúne uma multidão de pessoas, de todas as idades. A mãe do garotinho, Beatriz Veronezi, e a avó da criança, Maria Cristiana Barbosa Garon, que também perdeu o filho mais velho, ainda não chegaram. Segundo familiares, estão vindo de São Paulo para Campo Grande.
Inconsolável, por volta das 16h desta segunda-feira (31), chegou ao local a avó materna do garotinho, Marister Veronezi. Ela recebeu o consolo de amigos e familiares.
A atual companheira de Garon Maia Filho também está no velório desde o meio da tarde. Chorando bastante, ela dizia: “Perdi um pedaço de mim. Meu companheiro. Por quê?”.
Texto atribuído a Antonio Maia, irmão de Garon e tio do pré-adolescente, circula em grupos de aviadores no WhatsApp. “Nosso momento é de extrema tristeza. Meu coração está em pedaços”. “Comandante Antonio”, como é conhecido, também pilota aviões e explicou aos companheiros a dificuldade da família para chegar até o local da despedida. “Estávamos fora do Brasil e desde ontem [domingo] estamos em trânsito para chegar a Guarulhos (SP) e depois, Campo Grande (MS)”.
No cemitério, alunos do Colégio Marista, onde o garotinho estudava, também foram levados pelos pais para o adeus. Os colegas de sala estão preparando homenagem para amanhã, dia do sepultamento. O enterro deve acontecer pela manhã.
Na porta da capela, foto de pai e filho na cabine de avião indica o local onde um caixãozinho branco foi colocado ao lado do maior, de madeira, mais tradicional. No interior da sala reservada, fotos em preto e branco também mostram os sorrisos que iluminaram as vidas dos integrantes da família Maia, como definiu o clã, em nota divulgada nesta segunda-feira. “Suas palavras aqueceram nossos corações e sua presença deixou marcas indeléveis em cada um de nós”, completa a frase, no texto publicado.
Na terra e no ar – Garon Maia Filho era integrante de tradicional família de criadores de gado no Brasil. O produtor rural era filho do também agropecuarista Garon Maia, conhecido como Garonzinho, que morreu em outubro do ano passado, aos 64 anos, vítima de câncer, e da empresária Maria Cristiana Barbosa Maia.
Os negócios da família começaram, contudo, com Braulino Basílio Maia Filho, que era conhecido como Garon Maia e foi um dos maiores pecuaristas do século passado no país, dono de império que contou com mais de 50 fazendas, segundo autobiografia publicada por ele. No livro de memórias, o patriarca do clã relata a vida de boiadeiro, no estado de origem – Minas Gerais – e como chegou a ter rebanho com mais de 40 mil cabeças de gado.
Braulinho, o “Rei do Gado”, morreu aos 93 anos, em 2019, e era irmão de outro nome lendário no meio rural, Sebastião Ferreira Maia, o “Tião Maia”.
O gosto pela aviação também passou de pai para filho. Braulino pilotava aviões, assim como o filho, Garonzinho, e os netos, Garon e Antônio.
O acidente – O avião Beechcraft Baron G58 decolou do aeroporto de Vilhena (Rondônia), por volta de 17h50 de sábado (dia 29), e desapareceu do radar minutos depois. Na manhã de domingo (30), militares adentraram a pé na área de mata fechada e encontraram os destroços do monomotor e os corpos de pai e filho. A área do acidente fica na divisa entre Vilhena (RO) e Comodoro, em Mato Grosso.
Um grupo de busca e salvamento da FAB (Força Aérea Brasileira), com base na Capital de Mato Grosso do Sul, foi acionado para o resgate.
A aeronave com prefixo PT-ITE tinha 12 anos. Fabricada em 2011, conforme o RAB (Registro Aeronáutico Brasileiro), o bimotor tinha permissão para fazer voos noturnos e estava com toda a documentação em dia.
No texto, divulgado como sendo de Antonio Maia, o irmão diz não entender os motivos do acidente. “Somente Deus e talvez as autoridades possam nos dizer o que pode ter acontecido nesse voo, um voo de rotina para meu irmão que foi abastecer um Baron em Vilhena, pegar uma pizza para o jantar e retornar para Fazenda Uberaba. Oito minutos de voo total. Decolaram com tanque cheio, em 2 pessoas, voaram 5 minutos e repentinamente, algo acontece. Penso em perca de potência, suspiro entupido, combustível, alimentação, não sei. Somente especialistas poderão descobrir”.
Ele diz ainda que supostamente Garon teria tentado pouso de emergência. “A região tem uma transição de terreno, uma pequena serra, com mata e algumas aberturas. Eles curvaram à direita sentido a uma abertura de pastagens, a mais limpa ao redor, segundo relatos de sitiantes que viram avião perdendo altura, e infelizmente, por alguns metros não conseguiram pousar no pasto. O avião caiu ‘estolado’ dentro da mata”.
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