Na fila do bolo, histórias de quem casou, quem sonha casar e de fé no padroeiro
Hoje é dia de distribuição dos potes de bolo de Santo Antônio, fé que vai além da fama de casamenteiro
A primeira da fila na Catedral Nossa Senhora da Abadia e Santo Antônio, no centro de Campo Grande, não tem qualquer intenção de encontrar marido. Devota do santo, a aposentada Maria Inês Ayala, 83 anos, chegou às 5h e só queria agradecer “pelo pão de cada dia”, comprando oito pedaços de bolo. “Trabalho desde os 8 anos, nunca tive tempo, nem quis de casar”, contou.
Às 7h, o pároco da catedral, padre Wagner Divino de Souza, fez a bênção antes de iniciar a distribuição dos pedaços. Muitos já tinham comprado a ficha durante a semana, mas ainda há tempo de comprar os potes, a R$ 10, até 13h, isso se não acabar antes.
Hoje, para dar conta da demanda, foram preparados 15.150 pedaços de bolo, 3 mil a mais do que o produzido no ano passado. Neles, estão distribuídas 2 mil alianças que, embora não seja o foco de Maria Inês, é o que fez muita gente acordar cedo no feriado para enfrentar a fila a pé ou de carro, neste caso, espera que chegava na rua 14 de Julho.
Maria Inês contou sua história, mas não quis tirar foto. Só enfatizou ser devota do santo, mas não somente a ele. "A Jesus, Maria e José".
A engenheira civil Jéssica Queiroz, 32 anos, foi para fila com firme propósito de casar a curto prazo. "Esse ano eu comecei a namorar, agora, falta aliança", disse. Ela comprou três pedaços: um para ela, outro para o namorado e o último para amiga. E essa não é a primeira vez que tenta, com sorte e fé, ser agraciada com as bênçãos de Santo Antônio. "Vim buscar o meu bolo e o dele, porque um tem que ter aliança em algum. Foram oito meses de oração. Fiquei uns oito anos solteira, mas o bolo já tem uns cinco anos que eu compro".
Do outro lado da fila, a jornalista Deise Helena Vieira, 40 anos, que está hoje ajudando na distribuição dos potes de bolo, poderia servir de inspiração para quem buscava pelo amor por meio da devoção e da fé no Santo Antônio, o padroeiro de Campo Grande.
Deise diz que estava com 24 anos e solteira há 4 quando resolveu fazer a trezena em homenagem ao santo, “para conseguir a graça do casamento”. Foram 13 dias rezando o terço na paróquia e, no último dia, na porta da igreja, conheceu Roger, o homem que hoje é seu marido e pai dos seus três filhos. "São 12 anos de casada", orgulha-se.
“Hoje é um dia muito especial para mim”, disse, explicando que, embora sempre frequente a igreja, é a primeira vez que trabalha na distribuição dos pedaços de bolo.
Na fila, a estudante Fabíola Falcão Pires, 51 anos, mostra a aliança que encontrou no pedaço de bolo. "Já peguei sete alianças, venho sempre procurar um casamento faz anos, venho todo ano, está difícil, mas não desisto".
No caso do promotor de vendas Herbert Rodrigues Sampaio, 33 anos, foi a fé no santo que o levou a acordar cedo no feriado para buscar pedaço do bolo. “Sempre quis vir, mas nunca conseguia, é a primeira vez”, comemorou. O rapaz era o 4ª da fila e estava ali para agradecer a Deus. “Tenho uma enteada acamada que teve um AVC, é uma das 3 filhas da minha esposa e é muito difícil, tem Loas, mas não dá para comprar tudo, mas sempre Deus provê”.
O pároco da catedral, padre Wagner Divino de Souza gostou de ver perfis que vão além do devoto com planos matrimoniais. “Nós não podemos reduzir Santo Antônio ao santo casamenteiro, esse era talvez o menor aspecto da vida do santo. O que encantava as pessoas com Santo Antônio é porque ele tinha uma pregação extraordinária”, disse.
O padre também lembrou que ele era um homem “de profunda caridade”, traço que precisa chegar a alguns “rincões” de Campo Grande, segundo Wagner. “o paroquiano aqui da Santo Antônio ele é convidado também a imitar Santo Antônio sendo um promotor da caridade, da bênção na vida das pessoas”.
Hoje, caso não acabe antes, tem venda de bolo até 13h, ao custo de R$ 10 cada pote.
Na semana em comemoração ao padroeiro de Campo Grande, está sendo realizado o 22ª Arraial de Santo Antônio, com apresentações musicais e barracas típicas na Praça do Rádio Clube.
Hoje, às 18h, tem procissão que sairá da catedral em direção à praça do Rádio Clube, onde, às 19h, será celebrada a Santa Missa e, depois, o show da fraternidade São João Paulo II.
História - Embora tenha sido reconhecido como padroeiro em 2001, a ligação de Santo Antônio de Pádua com Campo Grande é histórica e começou antes mesmo da emancipação da cidade.
José Antônio Pereira era devoto de Santo Antônio e pediu sua intercessão, prometendo que se suas preces fossem atendidas, construiria uma igreja dedicada ao Santo.
Após a sua chegada, José Antônio cumpriu sua promessa e construiu uma capela de pau-a-pique em 1878, que anos depois, em 1991, foi consagrada como Catedral Metropolitana por ocasião da visita do Papa João Paulo II.
Santo Antônio é um dos santos mais populares no Brasil e um dos mais importantes no Catolicismo. É conhecido como protetor das coisas perdidas, dos pobres e o Santo dos milagres.
Ele entrou para a ordem dos franciscanos e dedicou sua vida à pregação e à caridade. Durante seus sermões nas praças e igrejas, muitos doentes e pessoas com deficiência ficavam curadas.
Além disso, Santo Antônio também é muito conhecido como Santo casamenteiro devido a ações de generosidade para fazer com que mulheres tivessem condições de se casar.
Santo Antônio faleceu no dia 13 de junho de 1231, em Pádua, na Itália e foi canonizado menos de um ano após sua morte. Em 1946, foi proclamado Doutor da Igreja, título que reconhece sua profunda influência teológica e sabedoria.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.
Confira a galeria de imagens:
