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Capital

Nova favela já tem 248 famílias e barracos organizados por números

Adriano Fernandes | 13/09/2016 11:41
Cerca de 248 famílias ocupam a área que se torna a mais nova favela de Campo Grande. (Foto: Alcides Neto)
Cerca de 248 famílias ocupam a área que se torna a mais nova favela de Campo Grande. (Foto: Alcides Neto)

Chega a 248 o número de barracos construídos ou em fase de término em um terreno da Rua Jorge Budib, no bairro Izabel Garden, região norte de Campo Grande, ocupado há pelo menos 17 dias. Ladeado por endereços onde um dia foi comum a presença de famílias carentes, construções numeradas, improvisadas com materiais de refugo, bambus e separadas por arames dão “corpo” para a mais nova favela da cidade.

No local, segundo os próprios moradores, já vivem famílias de bairros como Jardim Noroeste, Jardim Anache, Cerejeiras, Taquaral Bosque e Jardim Colúmbia. 

O terreno ocupado fica aos fundos do residencial que leva o mesmo nome do bairro e onde a maioria dos moradores foi realocada de outras favelas de Campo Grande. 

Boa parte deles é de ex-moradores da Portelinha - que chegou a ter 200 famílias às margens do córrego Segredo, no prolongamento da avenida prefeito Heráclito Diniz de Figueiredo – e que ficava a três quadras dali.

Alexandre morava na extinta Portenlinha e hoje ocupa um dos lotes do terreno. (Foto: Alcides Neto)
Alexandre morava na extinta Portenlinha e hoje ocupa um dos lotes do terreno. (Foto: Alcides Neto)

Alexandre Moraes de Arruda, de 23 anos, era um dos moradores da extinta Portelinha. Ele não foi um dos beneficiados pelos programas sociais, conta que viveu enquanto pode de aluguel, mas o desemprego fez com que ele voltasse à precariedade.

“A gente se vira como pode. Comecei a construir aqui ainda ontem. Fiquei sabendo que aqui havia sido invadido e vim para cá com a minha família”, conta. Ele acredita que até amanhã conclui o barraco que vai abrigar ele, a esposa e os dois filhos, de 1 anos e seis meses, e a menina, ainda de colo e com pouco mais de um mês de vida.

“Fizemos 'frente' para a invasão”, conta Fabiane Martins de Oliveira, de 20 anos. Ela e o esposo, Edson Andrade Felício, de 18 anos, estão no local desde o inicio das ocupações.

Por dentro do barraco construído com lona e reforçado por pedaços de madeira, nada além de uma cama de solteiro e os poucos utensílios de cozinha usados no fogãozinho de tijolos do lado de fora.

Os barracos foram numerados e são de algumas das construções por onde passará o fio de eletricidade. (Foto: Alcides Neto)
Os barracos foram numerados e são de algumas das construções por onde passará o fio de eletricidade. (Foto: Alcides Neto)

“Estamos aqui com a esperança de moradia em lugar melhor. Mas enquanto não temos uma resposta se vamos nos mudar ou não, vivemos assim mesmo. Vamos aguentando do jeito que dá”, ela diz.

Na rua Jorge Budib, além do movimento de carros é grande também o fluxo de moradores que atravessam com materiais que são refugo de construções ou até mesmo bambus, colhidos em uma mata próxima e improvisados como esteios entre os lotes ou nos barracos.

Por iniciativa dos próprios moradores, cada lote entre os barracos foi delimitado por arame farpado ou até mesmo fios de eletricidade. A grande maioria está até numerada e o motivo quem explica é dona de casa Rose Maria de Souza, de 51 anos.

“Estes são os moradores que contribuíram com o dinheiro que vamos usar para comprar o fio de eletricidade para trazer a ligação de energia até estes barracos”, comenta.

As construções são improvisadas com materiais de refugos de construção. (Foto: Alcides Neto)
As construções são improvisadas com materiais de refugos de construção. (Foto: Alcides Neto)
O local é ocupado por moradores de vários bairros carentes da Capital. (Foto: Alcides Neto)
O local é ocupado por moradores de vários bairros carentes da Capital. (Foto: Alcides Neto)

Rose é a principal porta voz da comunidade, mesmo não morando nela. Ela vive em uma das casas do Residencial Izabel Garden e do quintal de casa tem acesso e total visão das construções que se aglomeram no terreno.

Ela também é ex-moradora da Portelinha, mas não esquece o passado difícil antes de ter uma moradia digna. “Eu não me preocupo de ouvir eles porque já estive nessa situação e não me importo de ajudar. Cedo a água da minha casa quando precisam e vou representar eles quando necessário. Já cheguei a ter quatro famílias morando dentro de casa e que hoje vivem aí”, comenta.

Segundo ela equipes da EMHA (Agência Municipal de Habitação de Campo Grande) foram ao local na última quarta-feira (07). Na sexta-feira, dia 08, cinco moradores do local se reuniram no órgão e a orientação dada foi que eles procurassem a defensoria pública.

“Procuramos a promotoria, mas na prática pelo menos por enquanto, não nos deram nenhuma posição sobre a situação destes moradores”, completa.

Ocupação – Na última quarta-feira, dia 07, foi frustrada a tentativa de retirada das famílias do local. Na data, cerca de 67 famílias ocupavam a área. De acordo com a prefeitura do município, um pedido de reintegração de posse já está sendo feito à Justiça.

Cada lote é dividido por arames. Meida que os próprios moradores encontraram para tornar menos caótica a situação em que vivem (Foto: Alcides Neto)
Cada lote é dividido por arames. Meida que os próprios moradores encontraram para tornar menos caótica a situação em que vivem (Foto: Alcides Neto)
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