Novo Plano Diretor deve dar foco à mobilidade, defende especialista
Audiência pública debateu assunto nesta segunda, na Câmara Municipal
Criado há 20 anos, o Plano Diretor de Campo Grande passa atualmente pelo processo de consulta pública de sua segunda revisão, que deve ser finalizada até o fim deste ano. Para o arquiteto e coordenador do Observatório da Arquitetura da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), professor Ângelo Arruda, apenas uma revisão não é o bastante, mas sim um novo plano seria o ideal para correr atrás do tempo perdido, tendo a mobilidade urbana como principal problema a ser estudado.
Nesta segunda-feira (11), a Câmara Municipal fez uma audiência pública para debater o assunto. “A cidade, que era tão planejada antes, parou. Não é possível que 20 anos depois do projeto original nada tenha mudado. Estamos precisando nesse momento somente de uma revisão?”, argumenta.
Para o professor, muitos pontos precisam ser revistos no plano, mas a mobilidade urbana é o principal problema a ser estudado. “Dentro dela tem o transporte público, por exemplo. Tivemos a criação do SIT (Sistema Integrado de Transportes) há mais de 20 anos e nunca mais foi revisto. Não sabem se precisa de mais terminais, mais ônibus, não se debate a tarifa. Campo Grande tem várias ciclovias também, mas nenhuma delas se encontram, não se interligam”, criticou.
Segundo os usuários do transporte pública da Capital, o serviço deveria ser muito melhor pelos valores arrecadados com a tarifa de R$ 3,25, por exemplo. “Demora muito e vem sempre muito cheio. Deveriam colocar mais ônibus a disposição para melhorar isso, principalmente pagando R$ 3,25”, disse a atendente Isabele de Jesus Benites, 25 anos.
Já para o autônomo João Patrocínio, 69 anos, no fim de semana os problemas de demora para a chegada do ônibus no ponto são ainda mais agravados. “Eles reduzem o número de carros e demora muito e vem cheio também. Tem muito para melhorar”, comentou.
Outro problema atual da cidade, conforme Ângelo, é o dos vazios urbanos. “Deve haver uma política para uma ocupação. Por isso não deve apenas ter uma revisão. Os vazios urbanos fazem os ônibus andarem longos trajetos sem pegar nenhum passageiro, isso aumenta a tarifa. Aumenta o gasto com esgoto para atingir locais distantes. O combate a dengue também é complicado pelo número de áreas vazias”, completou.
Novo zoneamento da cidade, política de moradia no centro e até um futuro VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) foram citados como projetos possíveis com um novo Plano Diretor. “Hoje nós temos a possibilidade de discutir planos futuros para a cidade, mas tudo isso é possível somente com tempo para se discutir e preparar um novo plano. O VLT, por exemplo, não vai ser criado agora, mas deve ser discutido para no futuro a área em que ele pode ser executado esteja preparada e a prefeitura não gaste muito mais que o previso com desapropriação”, concluiu.
Durante a audiência, o diretor-presidente do Planurb (Instituto Municipal de Planejamento Urbano), Dirceu Peters, garantiu que todos os prazos para a revisão do plano serão cumpridos. “Temos um prazo de 270 dias, vamos cumprir e entregar a revisão à Câmara no dia 10 de dezembro. Estamos agora na fase de diagnóstico com consultas públicas. Vamos continuar discutindo com a sociedade, porque o importante é saber qual a cidade que os moradores de Campo Grande querem. E a partir dos nossos estudos vamos fazer uma sistematização para ser discutido em uma outra audiência pública e depois ser enviado para a Câmara Municipal”, resumiu.
Especialistas, membros da sociedade, representantes de órgãos da construção civil e do mercado imobiliário, além de representantes da prefeitura também participaram da audiência desta segunda-feira.
A revisão do Plano Diretor possui um site oficial para o debate com a sociedade. Lá, é possível verificar as datas e locais das consultas públicas que serão realizadas na Capital para discutir o tema, assim como download de vídeos de reuniões anteriores e de planos de trabalho.